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A briga

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“Yago e Medina precisam basicamente ficar em uma posição na frente do outro para eliminar o concorrente, sem contar os resultados dos que vem atrás no ranking como JJF e Robbo que tem calibre suficiente para vencer qualquer bateria contra qualquer adversário”

Por Alex Guaraná 

Depois de 8 meses de muitas baterias, vitórias e derrotas, celebrações e lamentações, agradecimentos e xingamentos, finalmente chegamos no momento onde os cinco melhores surfistas de 2023 serão definidos. Com três vagas já nas mãos de Filipe Toledo, Ethan Ewing e Griffin Colapinto, a luta pelas outras duas cadeiras promete. E tudo isso numa onda em que poucos têm a experiência necessária para poder chegar com a confiança em dia. Irônico pensar que Teahupoo, a onda mais desafiadora da WSL, será o diferencial na disputa do título de campeão mundial que acontecerá em Trestles, um pico californiano tão tranquilo que beira a moleza.

Esta briga pelas duas últimas vagas do WSL Finals entre os homens não se resume apenas a chance de ser o número 1 do planeta mas, principalmente para três surfistas brasileiros, é a maior oportunidade de tentar repetir o ouro olímpico de Italo Ferreira, feito inédito no nosso esporte conquistado em 2021, no Japão. João Chianca, Yago Dora e Gabriel Medina lutam entre si pelo direito de estar com Toledo na Califórnia em setembro, onde provavelmente será conhecido o segundo nome brasileiro para os Jogos Olímpicos de Paris, no caso do surf na própria onda de Teahupoo, entre 26 de julho a 11 de agosto do ano que vem.

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O curioso é que Toledo seria em tese, entre os quatro, o que menos teria “bagagem e afeição” pelas esquerdas quadradas do pico taitiano. Isso em tese, porque acho que ele vai se esforçar bastante para se aperfeiçoar. Ao contrário dele, Yago e Chianca já tiveram atuações, seja em free surf ou baterias, mais confiáveis, sem falar de Medina, que já fez quatro finais (vencendo duas) e chegou em 3º por mais uma vez. E temos que contar também com alguns nomes que estão ali pertinho no ranking e podem roubar ao menos uma vaga como John John Florence e Jack “Robbo” Robinson, exímios tube riders em qualquer tipo de onda, tamanho e bancada.

Para Chianca garantir sua ida a Trestles, basta passar uma fase. Daí, a porradaria pela 5ª vaga seria acirrada. Yago e Medina precisam basicamente ficar em uma posição na frente do outro para eliminar o concorrente, sem contar os resultados dos que vem atrás no ranking como JJF e Robbo que tem calibre suficiente para vencer qualquer bateria contra qualquer adversário. Então, na minha opinião, basicamente será uma disputa de quatro surfistas pela última vaga no WSL Finals, já que para mim, Chianca deve ao menos avançar uma bateria.

As previsões para este evento, que começa sua janela no dia 11 próximo e acaba em 20 de agosto, não estão lá essas coisas, mas já vi algumas ondas surfadas nessa semana em treinos e uma já me chamou a atenção, um tubo em pé de Florence sem as mãos na borda, na sua primeira onda surfada em Teahupoo depois de cinco anos. Para quem não surfava a temida onda há tanto tempo, o havaiano já mostra que enferrujado não está. Como ainda faltam 15 dias para o término da janela, tudo pode mudar e um swell desgarrado pode chegar e mudar tudo. De qualquer forma, com ondas na casa dos 6 pés, fica mais fácil para o goofies.

Não vou ficar em cima do muro e vou dar meu palpite de quem vai ficar com a última vaga para o WSL Finals: Medina! Ele pode até não vencer o evento, mas acho que irá para as cabeças, ao menos entre os quatro primeiros. E por dois motivos: 1) sua técnica de dropar atrás do pico alcançando uma velocidade incrível é determinante em suas performances. De frontside, ele quase nunca deixa de sair de um tubo. 2) Seu instinto de guerreiro deve estar mais apurado do que nunca. Foram algumas derrotas duras e polêmicas até aqui e chegar vivo na etapa derradeira traz um sentimento de animal enjaulado que de repente vê a porta aberta.

Mas vale ficar de olho no principal obstáculo dos brasileiros. John John saiu ferido de J-Bay após uma derrota pra lá de duvidosa para Connor O’Leary. Chegou cedo no Tahiti, onde se sente mais do que a vontade, e parece estar com a raiva embutida. Campeões talentosos como ele são perigosos. Mesmo precisando de uma série de resultados que não dependem dele, JJF tem chance de jogar água no chopp de Yago e Medina. Ryan Callinan é outro que está ali atrás, preparado para dar o bote se vacilarem.

A verdade é que emoção não faltará, sejam pelas cabulosas ondas (tomara que a WSL espante a uruca e a previsão melhore) ou pelas brigas de gato e rato que rolarão nas baterias. Me arrisco a dizer que o Shiseido Tahiti Pro será muito mais emocionante que o Rip Curl WSL Finals. Quem viver, verá!

Alex Guaraná
Alex Guaraná
Carioca e flamenguista roxo, mandou sua primeira manobra na Barra da Tijuca, em 1980, aos 13 anos de idade. Após uma bem sucedida carreira de competidor amador, passou a atuar como jornalista especializado. Primeiro nos jornais Staff e Now. Na sequência, trabalhou com Ricardo Bocão e Antônio Ricardo no programa Realce, pioneiro em esportes de ação na TV brasileira. Após um período como dirigente, e outro como assessor de imprensa do Circuito Mundial no Brasil, assumiu o posto de editor-chefe da Revista Fluir, onde ficou até 2007. Desde então se tornou comentarista esporádico, e agora fixo aqui na Hardcore, do esporte que conhece como poucos.

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