Saúde mental é um assunto em alta, seja no esporte ou na sociedade. O surf é um esporte marcado pela espiritualidade, ancestralidade (assunto para um amigo colunista aqui da Hardcore – Luciano Meneghello), qualidade de vida, lifestyle e uma lista extensa de qualidades que cada surfista poderia citar aqui. Cuide da sua saúde mental.
Visto que alguns estudos apontam um crescimento anual de 15% nos últimos 4 anos em atendimentos de saúde no Brasil devido a transtornos mentais e que o país tem o 3º pior índice de saúde mental conforme dados do relatório anual “Estado Mental do Mundo 2022”, o surf deveria ser considerado remédio. O esporte gera uma melhor qualidade de vida, menores índices de depressão e de ansiedade.
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Uma pessoa que sofre com algum problema de saúde mental é afetado na sua área mais ínitima, no seu interior, que são as suas emoções. Sabemos lidar com nossas emoções? Caro leitor, seja franco com você mesmo. Quantas vezes não foi rabeado na melhor onda do dia e isso te tirou do sério. Quantas vezes não viu alguma situação de localismo ocorrer de maneira exagerada. Temos regulação emocional para tudo isso?
Agora imagina a situação de um atleta. Já ouvi diversas vezes: ”Esses caras vivem a vida dos sonhos de todo surfista!”. Será mesmo? Claro que nos imaginamos surfando com apenas mais uma pessoa ao lado em lugares surreais como Pipeline, Teahupoo e Cloudbreack. Ter a condição financeira de muitos que estão no CT. Mas esses caras são pessoas também, não vivem apenas da “parte boa”. Eles tem família, problemas, tem cobranças extremamente altas de resultados e performance.
Faz tempo que o surf deixou de ser uma grande diversão para esses caras. Algumas dessas dificuldades aparecem muito cedo na vida de um atleta, talvez em fases da vida que não estão preparados para lidar com elas. Não é fácil para um adolescente sustentar uma família e deixar de sair com os amigos pois precisa treinar para ganhar o campeonato e não perder o contrato com a empresa que traz seu sustento e de toda sua família.
Não dizemos que não existiam esses problemas antigamente, mas muitas pessoas sofreram e sofrem disso caladas. Qualquer esporte de alto rendimento exige 100% do atleta e até no jogo mental mostrar vulnerabilidade sempre foi um fardo.
Recentemente vimos alguns casos com nossos campeões Gabriel Medina (2022) e esse ano Filipe Toledo. Atletas estabelecidos, campeões mundiais com dificuldades de permencerem fazendo o que eles mais gostam de fazer devido a problemas de saúde mental. O surfista sempre quer estar no auge, arrancando notas dos juízes, levando campeonatos, melhorando seus aéreos ou as manobras de borda. Se não estiverem muito atentos com alguns sinais, haverá uma perda de rendimento e da capacidade de competir.
Os atletas, treinadores, e todos os profissionais envolvidos com o esporte devem entender que o resultado não deve ser a qualquer custo! A saúde mental no esporte tem prevenção e tem tratamento e toda a equipe que está ao redor do atleta deve estar atenta aos mínimos sinais de problemas.
Não precisamos levar o atleta a exaustão. A falta de descanso adequado pode dar sinais de overreaching (falta de energia que pode afetar o desempenho, o padrão alimentar e do sono) e até mesmo do overtrainnig (comprometimento físico e mental até mesmo com lesões).
Um bom profissional deve estar atento sempre a alterações no padrão físico e mental do atleta e aos mínimos sinais que podem mostrar que ele não está de frescura. Um bom diagnóstico é essencial para a sobrevida dele no esporte.
Não vamos menosprezar sintomas que nossos campeões demonstraram e no caso do Gabriel Medina em especial, com uma excelente volta por cima.
Saúde mental é coisa séria e você também deveria ficar atento. Bater um papo com seu médico, seu psicólogo, seu treinador ou até mesmo com um brother quando está esperando a boa da série pode ser muito valioso. Um simples conselho de procurar um profissional pode salvar vidas.
Aloha