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Aprendendo sobre saúde mental com Carlos Burle

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"Eu diria que o autoconhecimento tem um papel fundamental. Quem é você e o que te faz feliz?" - Carlos Burle

Como falamos na última coluna, é de extrema importância promover e prevenir a saúde mental dos atletas e da população em geral. Mas vamos combinar que na pele dos atletas, principalmente os brasileiros, está difícil, não é mesmo?

Além de treinarem, se prepararem fisicamente, mentalmente, terem uma alimentação regrada, deixarem de estar com a família para competir, ainda precisam contar com a sorte dos juízes liberarem uma nota boa.

Assunto polêmico atualmente, ainda mais depois das últimas etapas. Mas esse papo vamos deixar para outra ocasião.

Desde a última coluna, fiquei bastante intrigado com algumas mensagens que surgiram no meu Instagram sobre o fato de muitas vezes parecer que os atletas são “mimizentos”.

Lembrando que os dados que trouxemos, são dados reais e crescentes exponencialmente nos últimos anos. E para ouvir o outro lado fui buscar algumas pessoas que pudessem nos mostrar o que está além dos nossos olhos, por trás das câmeras. E para esse assunto de saúde mental conversei com um grande ídolo, Carlos Burle. Nossa conversa foi muito enriquecedora e selecionei alguns pontos sobre o tema da nossa coluna.

Estou estudando muito o tema mentalidade atualmente e logo perguntei ao big rider se ele acreditava que o poder da mentalidade poderia ter o levado a conquistar tudo o que conseguiu.

 

“Em minhas palestras mostro uma carta que escrevi com 13 anos. No começo meu pai falava que eu iria terminar a vida empurrando carroça e catando lixo. Naquela época eu percebi que os meus maiores desafios estariam fora da água. Eu precisava me preparar e me capacitar para ser a transformação que eu queria para o esporte. E com isso houve a profissionalização.

Nossa vida é baseada em escolhas. Tive escolhas boas e escolhas ruins na minha vida, porém sempre com um propósito de evolução. Aquelas que eu me via numa situação ruim eu fui deixando de lado e preferindo as decisões que me ajudariam a conquistar os meus propósitos. Tudo isso me motivou a seguir e tentar alcançar esses objetivos”.

+Série “Brava Mente” discute desafio emocional no surf de ondas grandes

Há diversos estudos mostrando como a nossa mentalidade pode fazer com que a nossa realidade seja alterada da maneira como sonhamos, como pensamos. Burle desde criança colocava isso em prática, escrevendo uma carta para ele mesmo, desenhando possivelmente o que seria sua trajetória no surf.

Logo perguntei como ele via a pressão sobre atletas como Gabriel Medina, Ítalo Ferreira, Filipe Toledo, João Chianca para lidar com momentos difíceis em suas respectivas carreiras e o fato de alguns terem “abandonado” o Circuito Mundial por um período para cuidar da saúde mental.

Burle me relatou que são atletas de alta performance, mas também são seres humanos, também tem problemas e a mídia não permite mostrar isso muitas vezes. Me relatou que as pessoas possuem um olhar de que há facilidade em alcançar as coisas, porque é o que a mídia te passa, a vida perfeita das pessoas, na verdade, não existe. Todo mundo passa por uma trajetória com suas dificuldades. A mídia impõe um certo olhar para esses grandes atletas que muitas vezes não tem relação nenhuma com a vida pessoal deles. Se sua essência não está bem fortalecida, o próprio atleta pode cair no erro de querer sustentar aquela imagem. Burle ainda ressalta que ele mesmo teve algumas experiências boas e ruins durante sua trajetória. 

“Cada um tem suas escolhas. Temos que nos preocupar como levamos a vida. Você cultiva bons hábitos? Então irá atrair isso para sua vida. Essa abordagem holística do ser humano é muito importante. Acredito que o mais importante não é criarmos apenas campeões e sim seres humanos preparados para passar uma informação que seja relevante para a evolução da humanidade. O propósito deve ser fundamentado por valores muito mais importantes do que conquistas materiais, do que títulos”.

Por último, pedi a Burle deixar uma mensagem a todos que, de alguma maneira, sofrem com ansiedade, depressão ou até mesmo com a saúde mental.

“Eu diria que o autoconhecimento tem um papel fundamental. Quem é você e o que te faz feliz? Nós somos energia e vibrar em padrões de frequência mais altos faz as pessoas de mesma energia, mesma frequência se aproximarem mais de você.

Nós somos protagonistas de nossas vidas e não deveríamos nos sentar na cadeira da vítima e ficar culpando pessoas e situações, pois isso não nos levará a lugar nenhum.

Devemos olhar para dentro e termos a coragem de dizer: – Eu assumo a responsabilidade pela minha vida.

É muito difícil fazer isso. É muito difícil bater no peito e dizer: -Eu escolhi isso. É muito mais fácil colocarmos a culpa nos outros. Você colhe aquilo que planta independente da sua condição e cenário de vida.

Cultive bons hábitos. Existem coisas que são mais importantes para você alcançar o seu objetivo, isso chama-se disciplina. Dentro da sua rotina é muito difícil você manter a disciplina que você quer, mas entenda que a sua rotina vai trazer os hábitos que vão transformar sua vida. Então traga para a sua rotina o que você quer para ela.

O que te motiva quando você acorda? Faça com que essa energia se transforme na sua vida”.

Lembre-se, procurar ajuda para cuidar da saúde mental não é vergonhoso para ninguém. Os profissionais envolvidos estudam para auxiliá-los a melhorarmos cada vez mais.

Aloha

Gostaria de agradecer à equipe Hardcore por abrir esse espaço e por toda a equipe que esteve em contato comigo, Renata, Yasmin e o próprio Burle por se disporem a, literalmente, bater um papo sobre esse tema tão importante.

Carlos Burle, pai, marido, bicampeão mundial de ondas grandes, recordista de ondas grandes no Guiness Book, pioneiro no tow-in surfing e nome respeitado no mundo inteiro. Produtor do documentário Brava Mente, uma abordagem científica para explorar desafios emocionais e psicológicos que foram tema desse bate-papo.



Thiago Cosentine
Thiago Cosentine
Médico Ortopedista formado pela Santa Casa de São Paulo. Pós-graduado em Medicina do Exercício e do Esporte. Surfista há mais de 25 anos. Trabalha atualmente com a melhora da saúde e performance de atletas amadores e profissionais. Coautor do trabalho científico "perfil epidemiológico das lesões relacionadas ao surf em atletas do estado de São Paulo". Cirurgias minimamente invasivas de joelho e quadril. Teve suas núpcias quase cancelada quando disse à então noiva que iria surfar durante a viagem de casamento a Fernando de Noronha.

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