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O uso do capacete faz parte da evolução do surf

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Sob o olhar médico e diante dos últimos acidentes, o uso do capacete faz parte da evolução do surf e deveria ser mais adotado.

A temporada havaiana começou forte. Se você acompanha o mundo do surf, desde o final do ano passado tivemos diversos acidentes no surf, principalmente em Pipeline. Acredito que três episódios ficaram bem marcados, João Chianca, Kai Lenny e um bodyboarder no Guarujá–SP. Acredito que o uso do capacete faz parte da evolução do surf. Mesmo assim, não sei se estamos prontos para ter esse papo sobre o uso do capacete no surf. 

Durante um treino em meados de dezembro de 2023, João Chianca sofreu uma queda em Pipeline e teve uma concussão. Devido à queda, o atleta teve uma perda do nível de consciência e foi resgatado por outros surfistas e toda equipe de lifeguards que estão de prontidão na praia. O uso do leash ajudou a acharem o atleta que estava submerso. O atleta está fora da perna havaiana em 2024 devido a sua recuperação.

+João Chianca não competirá nas etapas de Pipeline e Sunset

Kai Lenny, surfista de ondas grandes, relata que foi a primeira vez que utilizou um capacete em Pipeline. Talvez essa única vez tenha salvo sua vida. O capacete do atleta ficou rachado após colidir contra a rasa e afiada bancada de Pipe.

Ao ver os números de acidentes aumentando, corri para buscar alguns estudos sobre o tema. Cerca de 30% das lesões no surf envolve a cabeça, sendo elas lacerações, contusões, fraturas e as concussões.

A grande questão não é apenas o fato das lesões que envolvem a cabeça representarem uma grande proporção das lesões no surf e sim que as consequências que uma lesão na cabeça pode desencadear, desde afogamentos até efeitos de longo prazo na saúde.

E esse é o questionamento que gostaria de deixar. O surf vai muito além de um esporte, é um lifestyle. Diferente de antigamente, o surf tornou-se sinônimo de saúde e longevidade.

O que diz a ciência

Estudos científicos mostram cada vez mais a ligação entre concussão e doença cerebral degenerativa, chamada de encefalopatia traumática crônica. A preocupação com a prevenção de lesões na cabeça aumentou muito no contexto esportivo dos esportes de ação.

Um caso que não sai da minha mente foi um atleta que acompanhei desde minha infância, Dave Mirra, lenda do BMX – esporte altamente acompanhado por traumas na cabeça. O atleta sofria de doença degenerativa cerebral e a causa do seu falecimento provavelmente foi suicídio.

Esportes como o skate, snowboard e bmx adotaram o uso do capacete praticamente como obrigatórios e vemos em qualquer parque as pessoas amadoras praticando esses esportes com capacete.

O cérebro é extremamente complexo e qualquer “chacoalhada” pode causar pequenas lesões. A longo prazo, podem gerar problemas permanentes no cérebro como epilepsia, perda de memória e fala.

Opinião de surfista: Até pouco tempo atrás eu não me imaginava utilizando capacete. Não surfo ondas gigantes e dificilmente uma bancada rasa. Até em uma conversa recente com alguns amigos brincávamos sobre o uso.

Mas sob o olhar médico e diante dos últimos acontecimentos, em diversas situações deveríamos usar! O esporte cresceu, cada dia que passa lançam uma piscina de onda no Brasil. No mar o crowd aumentou demais.

Esse caso do bodyboarder me deixou preocupado. Surfei minha adolescência toda no canto das Astúrias (SP). Alguém simplesmente abandonou a prancha e não pensou em quem estava atrás. A prancha foi certeira na cabeça dele. A lesão poderia ter sido muito pior do que foi, sem sombra de dúvidas.

Acredito que temos que evoluir muito ainda dentro do esporte. O uso do capacete faz parte da evolução do surf, e em certas condições é muito bem indicado. Mas infelizmente acredito que o surf ainda não esteja preparado para isso, pelo menos no Brasil. Equipamentos caros, que de certa maneira são “inconvenientes” aos que já surfam e muitas vezes motivo de zoeira da galera no outside. Será que estamos preparados para esse bate-papo e colocar em prática o uso?



Thiago Consentine
Thiago Consentine
Médico Ortopedista formado pela Santa Casa de São Paulo. Pós-graduado em Medicina do Exercício e do Esporte. Surfista há mais de 25 anos. Trabalha atualmente com a melhora da saúde e performance de atletas amadores e profissionais. Coautor do trabalho científico "perfil epidemiológico das lesões relacionadas ao surf em atletas do estado de São Paulo". Cirurgias minimamente invasivas de joelho e quadril. Teve suas núpcias quase cancelada quando disse à então noiva que iria surfar durante a viagem de casamento a Fernando de Noronha.

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