Em dezembro, o tema da minha coluna foi o procedimento cirúrgico de artroscopia do quadril ao qual Kelly Slater e Griffin Colapinto foram submetidos.
A princípio, a cirurgia de Slater foi um pouco mais complexa do que a de Griffin, por tratar-se de um transplante de labrum. No entanto, ambos seguem em recuperação. Passados 4 meses, observamos ambos os atletas surfando nos campeonatos da WSL em Pipeline e Sunset, que apresentaram condições desafiadoras de ondas. Nos dois eventos, Kelly caiu no Round dos 32 e Griffin foi eliminado no Round dos 16.
Em entrevista após sua bateria, Kelly afirmou que seu quadril ainda não está 100% e que ele nem deveria estar na água naquelas condições. Afirmou ainda que sente um grande desconforto para fazer as trocas de borda na água.
Já Griffin postou em suas redes sociais que esperava resultados melhores na perna havaiana. “Agora vou voltar para casa e continuar trabalhando duro para que meu labrum do quadril volte a 100%”. O americano ainda apresentou um formulário médico para justificar sua ausência no ISA World Surfing Games em Porto Rico (competição que pode dar mais uma vaga olímpica ao seu país).
+Entendendo as lesões no quadril de Kelly Slater e Griffin Colapinto
Quando falamos de atletas de alta performance, a recuperação cirúrgica requer uma rapidez maior, especialmente devido à dedicação intensa do atleta para retornar à sua atividade esportiva. Isso envolve múltiplas sessões de fisioterapia ao longo do dia. O objetivo do atleta durante o período pós-cirúrgico é alcançar a recuperação mais rápida possível. Em contraste, uma pessoa comum, que geralmente não depende do esporte para sustento, pode realizar de 2 a 3 sessões de fisioterapia por semana.
Isto significa que Slater e Griffin violaram uma recomendação médica? Claro que não! Mas vamos analisar com calma esse retorno ao esporte.
Pelo lado médico, sabemos como foi o procedimento cirúrgico realizado e quais foram as dificuldades intra-operatórias. Existe um processo natural de recuperação do organismo após todo o “dano” causado pelo procedimento e isto leva um certo tempo.
Vale lembrar ainda que o labrum é um tecido que promove a propriocepção do quadril, ou seja, gera a capacidade de reconhecermos a localização espacial do corpo, sua posição e orientação sem utilizarmos a visão.
Ao voltar para a água, o atleta nem sempre terá a mesma biomecânica que tinha antes, podendo comprometer a escolha de ondas e seu estilo de surf.
Outro ponto importante que devemos citar aqui é sobre a percepção mental do atleta. Kelly já passou dos 50 anos e agora com mais uma cirurgia no currículo. Como anda a mentalidade do GOAT ao competir com atletas bem mais jovens, mais ágeis e com suas articulações zeradas? Sem contar que, pela idade, sua recuperação é um pouco mais lenta do que a de Griffin.
Cada vez mais são publicados artigos falando sobre a importância da mentalidade no atleta. Muitas vezes as manobras em si são muito semelhantes, porém o que define o campeão é a mentalidade que ele expressa na hora de competir. Saúde mental é um assunto que iremos abordar em nossa coluna.
Pensamos que esses caras vivem a vida dos sonhos de muitos de nós. Mas vem uma série e bomba a notícia de que Filipe Toledo ficará afastado da temporada para cuidar de sua saúde mental.
Griffin não foi ao ISA Games e Kelly disse que está com dificuldades para fazer as manobras mais curvas. Estão se precavendo devido à cirurgia? Será que é apenas dor? Será que falta confiança no novo quadril? Será que eles se recuperarão disso e voltarão a surfar em alta performance?
Essas são perguntas a serem respondidas em um futuro próximo
Caso você tenha passado por algum procedimento cirúrgico, converse com seu médico sobre sua recuperação e o retorno ao esporte. Não se trata de um número exato, mas a equipe como um todo deve estar envolvida. Deve haver um bate-papo entre equipe médica, fisioterapeutas, preparador físico e paciente.
Aloha