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Protesto em Ensenada pede segurança após assassinatos dos surfistas estrangeiros

"Nos sentimos muito vulneráveis, diretamente afetados sem poder fazer nada, tristes diante dessa situação, tão horrenda e tão difícil"- Gino Passalacqua/ Baja Surf Club

A comunidade de sufistas da Baja California realizou neste domingo passado um protesto na cidade de Ensenada, para reivindicar maior segurança após assassinatos dos surfistas estrangeiros que tiveram seus corpos encontrados na última sexta-feira. Segundo as autoridades mexicanas, os irmãos Robinson, Jake e Callum, assim como o amigo estadunidense Jack Rhoad, todos na faixa dos trinta e poucos anos, teriam sido vítimas de ladrões armados interessados em roubar os pneus da camionete que utilizavam. Após o protesto, surfistas da Baja California homenagearam os três surfistas mortos com uma remada em San Miguel, o mais tradicional pico da região.

+Três corpos encontrados em Baja California são dos surfistas desaparecidos, afirma polícia

A Hardcore entrou em contato com o oceanógrafo peruano Gino Passalacqua, residente em Ensenada e vice-presidente do Baja Surf Club, para saber como a comunidade de surfistas residentes na região está reagindo aos últimos acontecimentos na região onde vivem e surfam. Gino se declarou pessoalmente muito abalado, assim como seus companheiros de surf e viagens ao longo da extensa península, famosa mundialmente por suas ondas perfeitas e beleza natural. Abaixo o emocionado depoimento de Passalacqua:

“Falo como local que surfa nessa região com sua família e amigos, pai de filhos que surfam e com quem já acampei no pico onde aconteceram as mortes. Estamos chocados que isso tenha acontecido, tristes, furiosos, desconcertados, consternados e assustados. Esta tragédia reflete a situação em que está a Baja California em particular, e o México em geral, onde o surf é importante, é parte da cultura, parte do turismo, parte da interação entre Estados Unidos e México, e demais países. É um ato lamentável, parece que fortuito, mas não tão fortuito assim. Acredito que as pessoas estavam em um momento equivocado e não tinham muito conhecimento da Baja California. Aparentemente foi pela camioneta, que era grande, o que é do gosto dos narcos por aqui. Opuseram resistência e foram mortos. Na sexta-feira, quando ficamos sabendo oficialmente que haviam encontrado os cadáveres, a comunidade se juntou e por WhatsApp nos organizamos, todos os surfistas da Baja California, e nos unimos dizendo que tínhamos que fazer algo imediatamente. Todos dissemos que havia que ser feita essa manifestação. A mim me tocou discursar na água, durante o ‘paddle out’. Foi algo muito emocionante. Nos saiam as lagrimas pois nos sentimos muito vulneráveis, diretamente afetados sem poder fazer nada, tristes diante dessa situação, tão horrenda e tão difícil. A imprensa australiana me entrevistou, pedi desculpas com vergonha alheia, tratando de entender como podemos solucionar isso e protestar diante das autoridades, pois isso é falta de vontade politica, mesclada com a situação do narcotráfico e os problemas dos países latino americanos”.

Os surfistas locais fizeram questão de demonstrar o quanto estão tocados pela tristeza que envolve a nação australiana nesse momento de tanta dor. Foto: Asociación de Surf de Baja California.

Os corpos dos irmãos australianos, e o do amigo americano que acompanhava os dois na viagem de surf, foram encontrados em um poço de 4 metros de profundidade, a cerca de 6 quilômetros do local do ataque, na cidade de Santo Tomás, na sexta-feira.
Barracas de camping abandonadas, uma caminhonete branca queimada e um celular pertencente aos surfistas desaparecidos também foram achados nas proximidades.
Um quarto corpo foi encontrado no poço, mas estava lá há mais tempo e não tinha ligação com o caso, disseram as autoridades.

A governadora Marina de Pilar foi cobrada durante o protesto pela situação de crescente violência na Baja California. Foto: Asociación de Surf de Baja California

Dois homens e uma mulher foram detidos sob suspeita de envolvimento direto ou indireto no ataque. Um homem com antecedentes criminais foi acusado de “desaparecimento forçado”. A Baja Califórnia é um dos estados mais violentos do México, assolada por quadrilhas de traficantes se enfrentando em constantes batalhas territoriais. Em 2023, a Baja apresentou o segundo maior índice de homicídios do país, depois do estado de Guanajuato, segundo dados oficiais.

A tragédia ocorrida nas proximidades de Ensenada afetam diretamente as novas gerações de surfistas locais, que se sentem inseguras diante de tamanha brutalidade. Foto: Asociación de Surf de Baja California

O secretário de Defesa Nacional, Luis Cresencio Sandoval, disse no início deste ano que 85-90% dos assassinatos cometidos na Baixa Califórnia estavam ligados ao tráfico de drogas e ao crime organizado. Mas a área de Ensenada, cerca de 120 quilómetros a sul da fronteira entre os EUA e o México, reconhecida pelas suas excelentes condições de surf, é considerada mais segura e recebe um fluxo constante de turistas da Califórnia.

Os surfistas locais realizaram na praia de San Miguel uma emocionante cerimônia em homenagem aos surfistas assassinados. Foto: Asociación de Surf de Baja California

Os pais dos irmãos Callum voaram desde a Austrália para acompanhar a busca pelos filhos desaparecidos, mas ao aterrissarem no México eles já havia sido encontrados mortos. No domingo, Deborah e Martin Robinson fizeram o reconhecimento e declararam que: “Callum e Jake são seres humanos lindos. Nós os amamos muito e isso parte nosso coração”.

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