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De olho no ouro olímpico, sou mais Teahupoo

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“A audiência esportiva quer emoção, comprometimento, sangue. E o surf pode entregar isso tudo”

Por Alexandre Guaraná 

Uma fala do presidente da CBSurf, Flávio “Teco” Padaratz, durante o podcast Surf 360º, dos apresentadores Thiago Blum e Mauricio Ferreira Jr., sobre as provas olímpicas de surf em Teahupoo, no Taiti, ficou batendo na minha mente. Para ele, a realização das disputas em local tão difícil “tem dois lados, um positivo e um negativo. O positivo é que o nome de Teahupoo e do Taiti faz vender muito patrocínio, todo mundo quer assistir, a onda é muito impressionante. Só que as Olimpíadas, a gente sabe, por tradição, tem que olhar para o lado da integridade física de seus atletas. Eu acho extremamente perigoso.”

Logicamente temos que respeitar as opiniões. Mas nesse caso sou contra o pensamento acima. Afinal de contas, o surf antes de se tornar olímpico, é um esporte radical e como a própria definição explica, tem seus riscos, seja nas marolas de Trestles como nas morras de Nazaré.

Quando soube que a quadrada Teahupoo sediaria as baterias das Olimpíadas de Paris, logo me vi sorrindo, imaginando a emoção que seria ver alguns dos melhores surfistas do planeta, ao vivo, sendo exibidos para zilhões de pessoas, tentando domar a besta taitiana. Isso será a maior exposição do surf em toda a sua história, seja durante as transmissões como nas simples imagens que serão compartilhadas e visualizadas por outras ferramentas de informação, mostrando como nosso esporte é um balé, proporcionado por um(a) surfista e sua prancha em movimento com a natureza e seus extremos, principalmente nesse pico tão apaixonante quanto temido.

Entendo Teco. Seu irmão Neco quase perdeu a vida ali. E como surfista atuante em suas causas, tem o princípio de zelar pelo bem-estar dos seus. Se olharmos pelo prisma de que muitos atletas não têm a menor intimidade com essa onda, tão diferente e complicada, realmente ele tem certa razão. Basta ver a lesão de Ethan Ewing que fraturou duas vértebras num treino em ondas nem tão assustadoras. Ethan, apesar de ser um excepcional surfista, tem pouquíssima quilometragem por aquelas bandas. Aliás, um dos meus argumentos para que o fator perigo seja diminuído é simples: quem pensa em ir para as Olimpíadas têm que ir lá e treinar. E não dá para chegar alguns dias antes para se preparar. Ali, tem que se internar e tentar surfar o maior número de ondas, no máximo de variações de condições possíveis. Não tem outra forma. Se algum participante não tiver o sobrenome Medina ou Florence, talentos natos, só dá para evoluir na quantidade de ondas surfada mesmo.

A audiência esportiva quer emoção, comprometimento, sangue. E o surf pode entregar isso tudo. Teco talvez não esteja visualizando que não estamos falando de uma etapa da WSL, onde os caras estão ali atrás de pontos e alguns milhares de dólares. Mas sim de um lugar nos anais da história do esporte, ao lado de deuses como Carl Lewis, Michael Jordan, Michael Phelps, Nadia Comaneci, Usain Bolt e por que não, Ítalo Ferreira.

Vencer em Teahupoo será bem diferente de vencer em Tsurigasaki Beach, onde aconteceram as baterias nos Jogos de Tóquio. Seria bem mais fácil realizar as disputas do surf em Lacanau, Biarritz ou Hossegor, no litoral francês. Mas a cabeça pensante que sugeriu Teahupoo, acertou em cheio ao meu ver. E se der um pouco de sorte, podem ter ondas épicas com alguns dos maiores nomes do esporte dando um show inesquecível. Florence estará lá! Robinson está com um pé! Falta Medina. Imagine a final olímpica entre JJF e Gabriel em ondas de 8 a 10 pés sem vento…

Te garanto, o surf nunca mais será o mesmo!

Alex Guaraná
Alex Guaraná
Carioca e flamenguista roxo, mandou sua primeira manobra na Barra da Tijuca, em 1980, aos 13 anos de idade. Após uma bem sucedida carreira de competidor amador, passou a atuar como jornalista especializado. Primeiro nos jornais Staff e Now. Na sequência, trabalhou com Ricardo Bocão e Antônio Ricardo no programa Realce, pioneiro em esportes de ação na TV brasileira. Após um período como dirigente, e outro como assessor de imprensa do Circuito Mundial no Brasil, assumiu o posto de editor-chefe da Revista Fluir, onde ficou até 2007. Desde então se tornou comentarista esporádico, e agora fixo aqui na Hardcore, do esporte que conhece como poucos.

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