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Uma caganeira polêmica

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Entrar na água, não competir e depois se retirar não foi uma boa estratégia, dando margem aos haters para fazerem o que mais gostam

O assunto mais badalado no meio do surf na semana passada não foi o início do Circuito Mundial de 2024 em condições razoáveis para boas em Pipeline. Não foram as atuações de JJF, Miguel Pupo ou Barron Mamiya, os melhores no primeiro dia do evento. Não foi o tubaço de Callum Robson recebendo a maior nota do dia, 9! Foi a decepção com o desempenho do atual bicampeão mundial Filipe Toledo em sua bateria de estreia.

Assistindo sem saber das informações passadas após a bateria, deu para perceber que Toledo não estava confortável no line up. Remou em poucas ondas, ficou bem passivo e deu a impressão de que estava cumprindo tabela. O mar estava com um certo tamanho, 6 a 8 pés, com séries um pouco maiores, mas longe de estar dos mais ameaçadores. E o seu passado de pouca expressão em ondas mais complicadas se tornou determinante para que a galera começasse a meter o pau em sua capacidade de representar o Brasil em Teahupoo, nas Olimpíadas.

+Pai de Filipe Toledo abre o jogo sobre Teahupoo

Um pouco antes das baterias de repescagem entrarem na água, a WSL noticiou que Filipe, por conta de uma intoxicação alimentar, estava fora do evento e não disputaria sua bateria do Round 2, sendo eliminado. O que já estava ruim nas redes sociais, piorou. De pipoqueiro para cagão, não faltaram ofensas. Minha opinião sobre este assunto é que todos de certa forma estão equivocados. 

+Filipe Toledo responde às críticas por abandono do Lexus Pipe Pro

Acho que faltou ao staff do Filipe e a ele próprio a sensibilidade de não se expor já que estava com problema de saúde. Não dá para surfar em Pipeline não se sentindo 100%. Entrar na água, não competir e depois se retirar não foi uma boa estratégia, dando margem aos haters para fazerem o que mais gostam, julgar sem o menor direito e capacidade para isso.

Uma vez dito isso, as pessoas precisam entender que um atleta tem seus dias bons e ruins, e que cada um tem seus limites e devemos respeitar isso. Por sua vez, Filipe e seu staff tem que ter consciência de que a fama traz coisas agradáveis e desagradáveis e saber lidar com isso é o primeiro passo para manter sua mente sã e não ter cobranças extras por causa da opinião alheia.

Uma pessoa pública, por conta da velocidade da informação nestes tempos, necessita de um controle e timing quase que perfeito para passar aos seus fãs ou seguidores digitais (parece coisa de lunáticos) os fatos positivos e negativos de suas carreiras. Mostrar sua vida pessoal é uma escolha difícil e da mesma forma que pode ser um jeito de criar mais intimidade com as pessoas, pode também expor seus entes queridos ao ódio destilado de gente frustrada.

Filipe tem um problema em surfar ondas desafiadoras. Ponto! Isso só vai mudar se ele topar mudar. E se não quiser, ninguém tem nada a ver com isso. Da mesma forma que ele precisa entender que, ao chegar no topo da sua carreira, vai ter que aprender a lidar com as cobranças, porque isso faz parte do negócio. Se ficar na internet rebatendo o que as pessoas dizem dele apenas vai jogar mais lenha na fogueira. Vale mais se comunicar melhor e ser transparente.

A maioria acha que Filipe só foi bicampeão mundial porque o Finals é realizado em Trestles. Bem, esquecem que ele chegou lá líder do Circuito, ou seja, no formato antigo já teria se sagrado campeão, sem precisar de resultados em Pipe ou Teahupoo, tamanha supremacia nas outras etapas.

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Gabriel Medina talvez seja o único surfista capaz de ter o mesmo nível altíssimo de performance em ondas de 2 pés e tubos quadrados de 10 pés. Mas nos últimos anos não se empenhou o bastante para vencer seu quarto caneco.

Se Filipe quiser conseguir um feito que apenas Mark Richards, Kelly Slater e Andy Irons conseguiram, três títulos mundiais consecutivos, vai ter que subir sua régua nesse ano. E isso implica em se desafiar em condições em que não se sente à vontade. Daí, resta a ele fazer a Escolha de Sofia: encarar seu temor nas ondas pesadas ou encarar o ódio gratuito de gente sem noção na internet. 

 

Alex Guaraná
Alex Guaraná
Carioca e flamenguista roxo, mandou sua primeira manobra na Barra da Tijuca, em 1980, aos 13 anos de idade. Após uma bem sucedida carreira de competidor amador, passou a atuar como jornalista especializado. Primeiro nos jornais Staff e Now. Na sequência, trabalhou com Ricardo Bocão e Antônio Ricardo no programa Realce, pioneiro em esportes de ação na TV brasileira. Após um período como dirigente, e outro como assessor de imprensa do Circuito Mundial no Brasil, assumiu o posto de editor-chefe da Revista Fluir, onde ficou até 2007. Desde então se tornou comentarista esporádico, e agora fixo aqui na Hardcore, do esporte que conhece como poucos.

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