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Será o surf o novo esporte dos ricos?

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“O surf em piscinas está se tornando um nicho dentro do esporte, voltado para ricos. Afinal, é como se estivessem construindo diversos campos de golfe com resorts para pessoas que tem condições de comprar um imóvel caro e de pouco uso.”

Por Alex Guaraná

Já é notório que a gigantesca piscina, já em fase de testes, da Surf Abu Dhabi, nova brincadeira dos sheiks dos Emirados Árabes, tem tudo para redefinir os parâmetros do surf em águas cloradas daqui para a frente. Num projeto ousado da construtora estatal do país, a Modon Properties, a ideia é fazer na ilha de Hudayriyat um empreendimento unindo esportes, lazer e alto luxo usando o surf como um dos chamarizes para comercializar imóveis de alto padrão.

E para dar um ar de importância ao modelo árabe da Kelly Slater Wave Company, o 11x campeão mundial tratou logo de chamar os dois melhores surfistas de ondas de piscina do mundo, os brasileiros Filipe Toledo e Gabriel Medina, para testarem os diversos tipos de ondas possíveis.

A promessa é de ondas de até 6 pés, mais cavadas, que poderiam proporcionar tubos mais amplos dando um percepção mais radical à brincadeira. Pelo tamanho da piscina, acredito que possa realmente vir coisa legal por aí.

No Brasil, num projeto bem mais em conta, mas também voltado ao mercado de luxo, a Fazenda da Grama, incrustrada no interior de São Paulo, pertinho de Campinas, em Itupeva, sediou, na semana passada, a primeira etapa de um evento da Qualifiyng Series num onda artificial, válida para o Circuito Banco do Brasil de Surfe.

Além de alguns atletas de ponta com experiência em etapas do Circuito Mundial da WSL, como os finalistas Miguel Pupo e Deivid Silva, o evento contou com a presença de convidados da imprensa, que relataram a dificuldade em se adaptar a velocidade das ondas, principalmente na hora da remada para entrar nas mesmas. Perder uma série ou vacar no drop é basicamente ir para o fim da fila, sem essa de localismo ou dono do pico. Sabe-se lá quando vai pintar uma nova oportunidade de surfar uma onda que é fechada ao público em geral…

Pensando aqui na minha cachola, me atentei que o surf em piscinas está se tornando um nicho dentro do esporte, voltado para ricos. Afinal, é como se estivessem construindo diversos campos de golfe com resorts para pessoas que tem condições de comprar um imóvel caro e de pouco uso. Para que se aventurar nas Mentawai, arriscar o pescoço, surfar poucas ondas por causa do crowd, se você tem uma piscina num condomínio cercado de muita segurança, com toda uma estrutura de ponta, podendo marcar sua sessão com seus brothers tendo um fotógrafo e filmaker à disposição para depois tirar onda com os amigos e amigas?

Um surfista bom de verdade ou que tenha ainda a paixão da água salgadas nas veias, continuará à procura de ondas em bancadas ou picos paradisíacos, mas aquele cara com grana, mais idade, fora do peso, ou playboy mesmo, não vai hesitar em marcar sua hora na agenda do Clube de Surf e depois ficar tomando uma cervejinha, ou Prosecco, com a galera na praia artificial feita para um gosto apurado.

Imagino que em breve teremos a divisão da sociedade das piscinas, entre Classe A e populares. Como os suntuosos campos de golfe dos incríveis resorts da Flórida com seus abastados frequentadores e os campos públicos em parques, com uma infra mais barata e uma pancada de gente brigando por 15 segundos em cima da prancha. O mundo sempre se dividiu social e economicamente e, até nisso, tendo a crer que essa nova era de oportunidades para se difundir o surf acabará sendo engolida pela ânsia em transformar investimento em bons percentuais de lucro a médio prazo.

Não consigo imaginar a minha turma dos anos 80, na Barra, vivendo as experiências maravilhosas que tive na praia num condomínio fechado e longe de casa. Tenho receio que o surf em piscinas se torne um sonho para 99% dos surfistas do futuro e que a cultura que sempre permeou o esporte se perca entre o estilo de vida de quem não cria nada de relevante, apenas tem acesso facilitado ao produto do meio, no caso, o surf.

Será o surf o novo esporte dos ricos? 

Alex Guaraná
Alex Guaraná
Carioca e flamenguista roxo, mandou sua primeira manobra na Barra da Tijuca, em 1980, aos 13 anos de idade. Após uma bem sucedida carreira de competidor amador, passou a atuar como jornalista especializado. Primeiro nos jornais Staff e Now. Na sequência, trabalhou com Ricardo Bocão e Antônio Ricardo no programa Realce, pioneiro em esportes de ação na TV brasileira. Após um período como dirigente, e outro como assessor de imprensa do Circuito Mundial no Brasil, assumiu o posto de editor-chefe da Revista Fluir, onde ficou até 2007. Desde então se tornou comentarista esporádico, e agora fixo aqui na Hardcore, do esporte que conhece como poucos.

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