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Tesourada, sem dó

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“Não é fácil pegar um evento que dura às vezes 8 horas ininterruptas com pouca ação e fazer com que um leigo, ou um cara não tão fanático, fique com o dedo longe do controle ou da tela de um phone ou note”

Por Alex Guaraná 

Vou ser direto. Acho o atual formato do Circuito Mundial de Surf, promovido pela WSL, chato pra cacete! Principalmente, no começo do ano. Tem que ter uma paciência de Jó para ficar vendo tantas baterias, muitas delas intermináveis, só por amor as ondas.

Para início de conversa, vamos ser francos, mais da metade dos 32 participantes do Tour não brigam por muita coisa, talvez para se manterem na mordomia após o corte implementado pela WSL em 2022. Aliás, achei brilhante essa idéia, pois acaba um pouco com a proteção que existe entre os próprios competidores. Marcou toca, dançou! É isso.

+ Opinião | WSL: Pega ladrão! Ou não?

Já somos obrigados a aturar repescagem, que basicamente não deixa nenhuma zebra ter a chance de ir muito adiante num evento. Penso que o surf competição de elite seria mais emocionante se quem perdesse numa fase inicial simplesmente desse adeus. Não lembro, rápido, de algum esporte de elite individual que dê uma segunda chance para alguém… No tênis, golfe, pingue-pongue, sinuca, sei lá…

Esse corte do meio da temporada, que atualmente deixa apenas 22 cabeças e os dois convidados a partir da 6ª etapa, cria uma tensão e traz mais emoção numa parte do ano que não teria muita adrenalina. O choro da eliminação, ou a alegria da classificação, se misturam e dão um ar de humanidade a gente que muitos acham serem Peter Pans, que só viajam, surfam ondas perfeitas e curtem por aí. A rotina dessa turma não é tão mole não! Lidar com o sucesso e fracasso em menos de 10 dias, necessita de muito equilíbrio e apoio.

Não concordo também com esses convites dados pela WSL quando alguém se machuca. O critério é não ter critério e me parece ser mais uma questão de brodagem do que qualquer outra coisa. Mesmo tendo regra específica para isso. Seria melhor ter o corte menor e não dar convite a alguém, sendo que ao menos um dos convidados não conta pontos no ranking. Tira a oportunidade de dois surfistas disputarem uma vaga no Final 5. Faz parte do esporte uma temporada ruim ou afastamento por lesão. E a volta por cima define os grandes nomes, ou heróis, como quiser chamar.

Em relação ao Final 5, muitos consideram injusto, o que discordo, pois a regra foi feita com antecedência e todos souberam como funcionaria. O americano, que é quem banca a brincadeira, está acostumado ao playoff, os maiores esportes de lá são dessa forma. E não existe esse pensamento de ser injusto. É assim e acabou. Que vença o melhor, naquele momento. Não tenho acesso aos números de audiência, mas me atrevo a dizer, que junto com Pipeline e Teahupoo, o Final 5 atrai bastante público na TV ou telas.

Pode não ser o ideal para saber quem é o surfista mais eficaz durante a temporada, mas acaba com aquele negócio anticlímax de ter um campeão antecipado até dois meses antes do final do Circuito. Eu mudaria apenas uma coisa. Local das duas últimas definições dos campeões mundiais, Trestles é uma onda gostosa de surfar, mas anos luz atrás em qualidade comparada aos melhores picos possíveis que temos a disposição. Poderia ser um ano numa esquerda, outro numa direita… Eu faria em Fiji. Cloudbreak está certamente entre as 10 melhores ondas do mundo e pode ser surfada com maestria tanto por regulars ou goofies. Além de ser um verdadeiro paraíso para imagens.

O Olimpo do surf personificado pela WSL ainda está à procura de formatos ideais para poder se transformar num esporte de massa. Mas não é fácil pegar um evento que dura às vezes 8 horas ininterruptas com pouca ação e fazer com que um leigo, ou um cara não tão fanático, fique com o dedo longe do controle ou da tela de um phone ou note. Hoje, temos uma infinidade de atrações e muita informação, e se seu produto não despertar interesse não tem Plim Plim que dará jeito.

Esporte como entretenimento é emoção, e para isso temos que ter disputas mais equilibradas, em ondas mais desafiadoras e com um modelo de competição dinâmico e atrativo para os fãs e os simpatizantes. No Brasil, talvez funcione esse ufanismo que vemos nas transmissões, pois damos valor apenas aos vencedores. Longe daqui, onde a cultura do surf é mais antiga e enraizada, a qualidade do produto e os sentimentos que ele desperta são as ferramentas necessárias para o sucesso. Encontrar a fórmula ainda é a questão. Com um pouco mais de visão, acredito que temos chance de virar o jogo, que parece estar no mínimo perdido de pouco, por enquanto…

Alex Guaraná
Alex Guaraná
Carioca e flamenguista roxo, mandou sua primeira manobra na Barra da Tijuca, em 1980, aos 13 anos de idade. Após uma bem sucedida carreira de competidor amador, passou a atuar como jornalista especializado. Primeiro nos jornais Staff e Now. Na sequência, trabalhou com Ricardo Bocão e Antônio Ricardo no programa Realce, pioneiro em esportes de ação na TV brasileira. Após um período como dirigente, e outro como assessor de imprensa do Circuito Mundial no Brasil, assumiu o posto de editor-chefe da Revista Fluir, onde ficou até 2007. Desde então se tornou comentarista esporádico, e agora fixo aqui na Hardcore, do esporte que conhece como poucos.

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