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Finals na tela. Que chatice!

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“Quando pior ficavam as condições, mais visível que o título mundial estava definido. Se era emoção que a WSL queria, o tiro saiu pela culatra”

Por Alex Guaraná  

Quando vi as condições para Trestles na quarta passada, dia 6/9, já imaginei que o evento iria rolar no fim de semana a seguir. Prestando atenção no que a WSL tem feito ao longo dos anos, principalmente na questão de cortar custos, o mais sensato seria aproveitar a primeira oportunidade e terminar logo o Circuito Mundial de 2023, que cá para nós, não deu sorte com as ondas.

Tirando um dia aqui outro ali, na real tivemos eventos, quase sempre, em condições medianas deixando as disputas entre os melhores do mundo sem muita emoção. E o último dia foi o reflexo da temporada. Ondas xoxas, com um ventinho maral e séries que a cada minuto demoravam mais a aparecer no horizonte, transformando a hora derradeira do Rip Curl WSL Finals numa chatice sem dó.

Filipinho Toledo levou, Ethan Ewing quebrou (ninguém vai me convencer que essa história de fratura nas vertebras foi verdadeira, nem com raio X), Caroline Marks foi devastadora, Carissa Moore decepcionante e o que era para ter sido a disputa do século entre o novo Superman ianque Colapinto contra o herói tupiniquim Toledo nem aconteceu. Enfim, anticlímax atrás de anticlímax e a constatação de que não adianta termos apenas grandes atletas. No surf, as ondas ainda são a parte mais incrível do espetáculo.

Entendo que a WSL queira cortar custos já que a operação continua deficitária. Gastos como as horas de satélite para transmitir o evento, diárias dos profissionais que trabalham, fornecedores, tudo encarece se demorar a finalizar uma etapa do Tour. Mas fazer por três anos seguidos na Califórnia me soa má vontade para melhorar uma idéia.

O corte criou um caos entre os surfistas, mas vingou. O Finals 5 é até hoje criticado por grande parte dos fãs do esporte, por acharem injusto não premiar o surfista mais regular do ano. Penso até que o conceito de tentar passar mais emoção numa disputa pelo caneco tem lá sua razão. Agora, colocar 10 surfistas para surfar uma onda boa, mas que, como em todo pico californiano, é raro de quebrar clássico (deram sorte em 2021), é querer dar sopa para o azar.

Ano passado, em marolas, Ítalo Ferreira com suas acrobacias aéreas ainda conseguiu mostrar entretenimento até se machucar e disputar a bateria final com Toledo meio capenga. Esse ano, Ewing teve uma certa complacência dos juízes com algumas notas levemente superestimadas, o que na pontuação contra Filipe, na primeira bateria entre ambos, não reproduziu o que foi a diferença de atuação entre os dois.

As duas baterias finais, tanto do feminino quanto do masculino foram uma das coisas mais chatas que já vi. Marks e Filipe só perderiam se quebrassem uma perna ou algo parecido tamanha vantagem de performance que mostravam perante Moore e Ewing. Quando pior ficavam as condições, mais visível que o título mundial estava definido. Se era emoção que a WSL queria, o tiro saiu pela culatra.

Acho muito legal os executivos, o rico dono, dirigentes e sei lá mais quem tentarem dar um ar mais profissional ao surf, como esporte e porque não show business. Mas não dá para fazer isso sem escutar os atletas, mídia especializada e os fãs. É importante sempre um canal de comunicação entre todas as partes envolvidas de qualquer ramo para que o caminho seja o mais correto.

Querem emoção, escolham uma onda que gere emoção. Não querem finalizar no Hawaii por causa do calendário, beleza, escolham um outro pico. Que tal na Indonésia? Pode ser em Bali mesmo, tipo Uluwatu ou Padang. Eu já escrevi aqui que o meu lugar favorito seria Cloudbreak, em Fiji. Com apenas 10 surfistas competindo, a estrutura seria um bocado mais simples e teriam um material possivelmente excepcional para divulgar por meses.

O que não dá é ficar quase 15 minutos esperando uma onda ruim, para nego tirar 4,70, e ter emoção. Não vou mentir. Depois de uns 5 minutos aguardando alguma onda ser surfada na segunda bateria entre Filipe e Ethan, mudei de canal e fui assistir a final do US Open feminino entre Sabalenka e Gauff. E ali fiquei, pois emoção foi o que não faltou no tênis.

 

Alex Guaraná
Alex Guaraná
Carioca e flamenguista roxo, mandou sua primeira manobra na Barra da Tijuca, em 1980, aos 13 anos de idade. Após uma bem sucedida carreira de competidor amador, passou a atuar como jornalista especializado. Primeiro nos jornais Staff e Now. Na sequência, trabalhou com Ricardo Bocão e Antônio Ricardo no programa Realce, pioneiro em esportes de ação na TV brasileira. Após um período como dirigente, e outro como assessor de imprensa do Circuito Mundial no Brasil, assumiu o posto de editor-chefe da Revista Fluir, onde ficou até 2007. Desde então se tornou comentarista esporádico, e agora fixo aqui na Hardcore, do esporte que conhece como poucos.

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