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Chumbinho, Samuca e Mateus: consolidação, superação e motivação

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“Assistindo a comemoração e amizade entre João Chianca, Samuel e Mateus, tenho absoluta certeza de que este aprendizado fará muito bem a Mateus”

Por Alex Guaraná 

O esporte realmente é capaz de proporcionar momentos inesquecíveis, emocionantes e na maioria das vezes cruéis. Foi isso que se viu no Corona Saquarema Pro, última etapa do Challenger Series que definiu os 10 surfistas selecionados para entrar na elite do surf profissional em 2024.

Não me lembro de ter visto tanta disputa por vagas desde que o WQS surgiu na ASP em 1992. Eram apenas 8 vagas para mais de três dezenas de atletas, que sonhavam em sair de Itaúna com o status de Top 32. Entre essa tropa, quatro brasileiros se destacavam: Deivid Silva, Mateus Herdy, Samuel Pupo e Michael Rodrigues.

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Com a eliminação de Deivid logo nas primeiras fases e a classificação basicamente de todos os outros Top 10 do ranking até aquele momento, o que se viu foi uma briga surreal tentando um superar o outro fazendo com que a parte mental fosse preponderante para o sucesso.

O período de dois dias sem competição por causa das fracas ondas apenas contribuiu para que a ansiedade aumentasse. E quando o evento foi reiniciado com ondas pesadas na casa do 6 a 8 pés, as oitavas-de-final se tornaram um barril de pólvora prestes a explodir na cabeça dos surfistas. A temporada simplesmente podia ser evaporada num piscar de olhos. E foi isso que aconteceu para o sobrinho do ex-Top Guilherme Herdy.

Mateus, no papel, tinha uma bateria relativamente tranquila, pois seu adversário seria o taitiano Mihimana Braye, que disputava apenas o terceiro evento do CS no ano. E foi aí que, para mim, ele começou a perder sua vaga no CT 2024. Ele se colocou mal no pico, querendo escolher ondas que não existiam em um mar super balançado, com swell torto e vento. Além disso, não teve felicidade na prancha usada na bateria. A cada minuto que passava, a sensação que dava era de que ele não estava preparado para um duelo de vida e morte.

Excepcional surfista aos 23 anos, Mateus mostrou oscilação e falta de preparo quando as condições pediam um ataque mais power. Podia ter contornado isso da forma com que Braye fez, pegando ondas intermediárias, fazendo um feijão com arroz mesmo sendo bem inferior tecnicamente ao brasileiro. A leveza de ser um under dog também contou a favor do taitiano. A pressão toda estava nas pernas de Mateus, e quando ele não segurou o retorno do reentry depois de encaixar uma bela primeira manobra em sua melhor onda (diria que faltou malandragem ao não tentar uma manobra menos radical, com o intuito de apenas completar a onda que lhe daria a vantagem na bateria e possivelmente a vitória e vaga na elite ano que vem), a vaca foi literalmente pro brejo.

Do outro lado da chave, Samuca Pupo demonstrou muito sangue frio ao passar em segundo uma bateria encardida no Round 32 contra o campeão do QS Cole Haushmand, o francês Marcus Mignot e a sensação aussie Jarvis Earle. Tudo foi definido nos minutos finais e a classificação sofrida para as oitavas parece que levantou sua confiança e daí para frente foi só festa. Passou o carro na sua bateria do ano contra Kade Wadson, que lhe valeu o retorno ao lugar onde não deveria ter saído, e com atuações consistentes venceu o evento derradeiro desse Circuito pulando para a 2ª posição no ranking, o que lhe evitará nomes de peso nas primeiras etapas da próxima temporada do Championship Tour.

Assistindo a comemoração e amizade entre João Chianca, Samuel e Mateus, tenho absoluta certeza de que este aprendizado fará muito bem a Mateus, que apesar de ver seus amigos vivendo o sonho que persegue, ainda precisa de um pouco de bagagem em ondas mais consistentes, para se acostumar a pranchas maiores e manobras mais poderosas, além de fortalecer sua parte mental, que só se desenvolve com as experiências de vida nos tornando mais equilibrados e preparados para solucionar os problemas e os gatilhos do nosso coração.

Esse trio é a meu ver nosso futuro no esporte. Tanto João quanto Samuel viveram situações bem semelhantes com seus cortes e retornos triunfantes. Mateus ficou no quase, mas sua hora vai chegar. Ele é um dos jovens surfistas mais promissores do mundo e quando seu momento surgir, se prepare… Ele vai quebrar!

Alex Guaraná
Alex Guaraná
Carioca e flamenguista roxo, mandou sua primeira manobra na Barra da Tijuca, em 1980, aos 13 anos de idade. Após uma bem sucedida carreira de competidor amador, passou a atuar como jornalista especializado. Primeiro nos jornais Staff e Now. Na sequência, trabalhou com Ricardo Bocão e Antônio Ricardo no programa Realce, pioneiro em esportes de ação na TV brasileira. Após um período como dirigente, e outro como assessor de imprensa do Circuito Mundial no Brasil, assumiu o posto de editor-chefe da Revista Fluir, onde ficou até 2007. Desde então se tornou comentarista esporádico, e agora fixo aqui na Hardcore, do esporte que conhece como poucos.

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