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Afogamento no surf: saiba prevenir e socorrer

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A recente norte de um surfista na Surfland serve como alerta para a comunidade do surf sobre um tema de grande importância que é o afogamento e o mal súbito 

 

Nas últimas semanas, o surf sofreu uma perda trágica com o falecimento de um surfista na Surfland – Garopaba.

O acontecimento me motivou a abordar nesta coluna um tema importante para todo surfista: Afogamento no surf. 

O surfista que faleceu na Surfland no dia 4 de setembro passado recebeu socorro imediato mas não resistiu

Vamos enfatizar algumas precauções que todo surfista deveria ter para que o risco de acidentes como esse seja minimizado. O caso serve como alerta para a comunidade do surf sobre um tema de grande importância que é o afogamento e o mal súbito. 

Há quase 30 anos surfando já me deparei com algumas situações de perigo dentro do mar e acredito que os nossos leitores devem ter se deparado também. Acredito ainda que se você tiver o mínimo de instrução em como lidar com algumas situações, poderá salvar a vida de outras pessoas.

Antes de falarmos sobre afogamento acredito que seja importante entendermos o que é mal súbito.

O mal súbito é um termo médico utilizado para descrever um evento agudo e inesperado. Pode ser causado por diversos fatores, porém nem todos os casos são graves. 

A pessoa simplesmente perde os sentidos e “apaga”. Algumas vezes ainda não perde a consciência, mas não consegue desempenhar suas funções normais.

As doenças vasculares são uma das maiores causas de mal súbito. Infarto agudo do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral (AVC), aneurismas, arritmias cardíacas, problemas metabólicos, descompensação do Diabetes e até mesmo uma má alimentação podem gerar problemas ao surfista. 

Não precisamos ser da área da saúde para saber que diversos desses problemas podem ser evitados com um bom check-up médico, um acompanhamento e algumas atividades físicas para o preparo ao surf.

O trabalho do médico, fisioterapeuta, nutricionista e preparador físico está justamente em prevenir essas doenças, diminuindo assim o risco durante a prática do surf.

Ao que parece, o trágico acidente ocorrido na Surfland foi devido a um mal súbito durante a prática do surf. Não sei se no caso a vítima tinha um acompanhamento médico recorrente, porém talvez alguns exames cardíacos e laboratoriais, além de uma boa interpretação e intervenção médica poderiam ter dado um desfecho diferente.

No verão, o número de afogamentos sobe drasticamente, em grande parte devido à desinformação de quem entra no mar. Foto: Shutterstock

Outro ponto importante para os surfistas de piscina e do mar é o afogamento. Segundo a Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático, a SOBRASA , 15 pessoas morrem afogadas no Brasil diariamente.

Entendendo os Graus de Afogamento

Os afogamentos variam em gravidade, sendo classificados em seis graus, desde incidentes leves até o desfecho fatal. 

É fundamental reconhecer que, mesmo nos casos mais leves como os de grau 1, a avaliação médica é imprescindível. 

Graus de afogamento:

  • Grau 1: Paciente apresenta tosse, mas não espuma na boca ou nariz 
  • Grau 2: Paciente apresenta tosse e pouca espuma na boca ou nariz, indicando congestão pulmonar 
  • Grau 3: Paciente apresenta muita espuma na boca ou nariz, com o pulso radial palpável 
  • Grau 4: Paciente apresenta muita espuma na boca ou nariz, mas não tem pulso radial palpável 
  • Grau 5: Paciente está em parada respiratória com circulação presente
  • Grau 6: Paciente está em parada cardiorrespiratória 

Mesmo que a vítima recupere a consciência rapidamente, a ida a um hospital para exames mais detalhados é essencial para evitar complicações futuras.

Existem alguns elos de sobrevivência no afogamento.

  • O primeiro elo é a prevenção (evitar que o afogamento ocorra); 
  • O segundo é o reconhecimento do afogado: ao perceber alguém se afogando, peça para alguém ligar 193 (Bombeiros) ou 192 (Samu) para avisar o que está acontecendo, onde é o incidente, quantas pessoas estão envolvidas e pedir ajuda.
  • O terceiro elo é o fornecimento de objeto de flutuação para o afogado, já que a falta de oxigênio é a pior coisa que pode acontecer: “jogue uma bóia, corda, galhos, pedaços de isopor, o que for possível para ajudar a pessoa a se manter com a cabeça fora da água
  • O quarto elo é a remoção da vítima da água, lembrando que o socorrista deve evitar entrar na água se não for seguro. 
  • O quinto é instituir rapidamente a ventilação ou garantir a circulação através de massagem cardíaca.

O Que Fazer Se Presenciar um Afogamento?

Se você se deparar com um afogamento, lembre-se de algumas regras simples:

  • Chame ajuda: Ligue imediatamente para serviços de emergência (SAMU, Bombeiros).
  • Avalie a situação: Se for seguro para você, tente lançar um objeto flutuante ou guiar a vítima sem se expor a riscos.
  • Inicie a RCP: Caso a vítima esteja inconsciente e fora da água, inicie a RCP até a chegada de socorro especializado.

Vale lembrar alguns pontos importantes para todo surfista:

 – Surfar com um parceiro e avisar alguém sobre o seu destino e horário previsto de retorno pode te ajudar a não ter problemas.

– Fizemos uma coluna sobre a importância do capacete em algumas condições, mas também é importante ressaltar a utilização de equipamentos de segurança, como leash e colete salva-vidas, em determinadas situações como o tow-in.

– A importância da educação para a prevenção de afogamentos, principalmente com programas educativos para crianças e adolescentes sobre segurança na água. Temos diversas escolinhas de surf e fica minha sugestão para os responsáveis que ainda não têm essa educação.

Este acidente trágico reforça a necessidade de surfistas estarem preparados para situações inesperadas, tanto no mar quanto em piscinas de ondas. O surf é liberdade e conexão com a natureza, mas a segurança nunca deve ser negligenciada. Fique alerta e mantenha o elo da vida forte!

+Surfista morre na Surfland em Garopaba

Thiago Cosentine
Thiago Cosentine
Médico Ortopedista formado pela Santa Casa de São Paulo. Pós-graduado em Medicina do Exercício e do Esporte. Surfista há mais de 25 anos. Trabalha atualmente com a melhora da saúde e performance de atletas amadores e profissionais. Coautor do trabalho científico "perfil epidemiológico das lesões relacionadas ao surf em atletas do estado de São Paulo". Cirurgias minimamente invasivas de joelho e quadril. Teve suas núpcias quase cancelada quando disse à então noiva que iria surfar durante a viagem de casamento a Fernando de Noronha.

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