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O brilho do mico

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“Sem gás, sem motivação, sem estratégia, Slater aguarda apenas a chegada de Teahupoo, quando talvez, num daqueles momentos surreais do esporte, ele possa surpreender novamente a todos, vencendo e matando egos dos novos heróis”

Por Alex Guaraná

A primeira vez que Robert Kelly Slater vestiu uma lycra de competição provavelmente a maioria das pessoas que está lendo esse texto não tinha nem nascido. Era o ano de 1978 e o jovem prodígio de 6 anos conhecia o amor que persiste até os dias de hoje, um sentimento tão forte, tão sublime, que a simples menção de abandona-lo o demoveu de qualquer ação de afastamento. Bem, pelo menos até esse ano.

Kelly Slater é um fenômeno que não tem paridade em nenhum outro esporte de elite nesse planeta. Aos 51 anos e quase 6 meses, ele ainda faz parte de uma lista onde os surfistas atuais são atletas de alto rendimento que tem uma preparação impensável, mesmo no seu próprio auge como competidor. E manter-se ali, entre os 30 melhores surfistas da Terra, é um feito tão genial que as pessoas simplesmente não dão o devido valor. Mesmo sendo cortado pelo ranking em Margaret River e abençoado com um convite pela WSL até o fim da temporada.

+ Qual o maior campeonato de surf do mundo: Rio Pro ou US Open?

Sim, é verdade que Kelly é uma presa fácil para a maioria de seus adversários atualmente. Principalmente quando as ondas estão ruins, pequenas e curtas. Até alguns picos considerados épicos onde ele reinou como Jeffrey’s Bay, Bell’s e Trestles parecem escancarar a falta de velocidade, força e elasticidade de outrora. Embora seus rivais demonstrem respeito quando falam sobre ele é nítido que há preferência em cair numa bateria contra o “velho” Kelly ao invés de pegar um Colapinto, Toledo ou Ewing… Os próprios amantes do Circuito Mundial de Surf gozam do cambaleante Slater em seus posts, comentários ou opiniões. Mas talvez ignorem que nem Colapinto, Toledo, Ewing, nem ninguém conseguirá novamente vivenciar cinco gerações no mais alto degrau de um esporte tão jovial como o surf.

A temporada de 2023 promete ser a despedida do undecacampeão mundial. Após 32 anos viajando como um cigano pelos sete mares finalmente o maior atleta de todos os tempos deve se retirar. Confesso que já pensei que veria esse ato algumas vezes nos últimos 15 anos. Mas não! Seja por medo ou por querer se provar diante dos novatos, o fato é que Kelly foi retardando sua decisão criando objetivos, alguns que pareciam improváveis, até que parece ter cansado. A falta de paciência, as desculpas para não competir em lugares que não lhe agradam, as inúmeras derrotas, tudo virou motivo para desistir.

Oportunidades para sair por cima, não faltaram. Sendo que a última foi sua incrível vitória em Pipeline, em 2022, prestes a completar 50 anos, o que deve ser o recorde mais “inquebrável” da história do surf profissional. Ali, no lugar onde ele se tornou um deus, diante de seus adoradores, na mítica onda, ele poderia ter dado seu adeus. Mas não, o sonho de disputar um Olimpíada, o que por sinal ele combateu durante boa parte de sua carreira por não concordar que o surf fizesse parte do maior evento esportivo do planeta, foi seu calcanhar de Aquiles.

Sem gás, sem motivação, sem estratégia, Slater aguarda apenas a chegada de Teahupoo, quando talvez, num daqueles momentos surreais do esporte, ele possa surpreender novamente a todos, vencendo e matando egos dos novos heróis, não para se tornar, mas sim para atestar, que seu nome, seu legado ficará para sempre nos anais da história. Muitos acham que ele está “pagando mico”, tentando ser uma sombra do que já foi. Na verdade, quem acha que Robert Kelly Slater se humilha não entende que mesmo nos fracassos, seu brilho é eterno, pois continuamos a falar dele. Um mico, um brilho, um mito!

 

Alex Guaraná
Alex Guaraná
Carioca e flamenguista roxo, mandou sua primeira manobra na Barra da Tijuca, em 1980, aos 13 anos de idade. Após uma bem sucedida carreira de competidor amador, passou a atuar como jornalista especializado. Primeiro nos jornais Staff e Now. Na sequência, trabalhou com Ricardo Bocão e Antônio Ricardo no programa Realce, pioneiro em esportes de ação na TV brasileira. Após um período como dirigente, e outro como assessor de imprensa do Circuito Mundial no Brasil, assumiu o posto de editor-chefe da Revista Fluir, onde ficou até 2007. Desde então se tornou comentarista esporádico, e agora fixo aqui na Hardcore, do esporte que conhece como poucos.

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