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Chegou a hora da verdade. Já sei em quem vou apostar!

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“Odiada por muitos dos fãs, por não consagrar o surfista mais regular da temporada como campeão mundial, fato é que esse playoff imaginado pela WSL acabou dando uma visibilidade maior à coroação do melhor do ano, e isso não pode ser simplesmente descartado”

Por Alex Guaraná 

E aí? Quem será o campeão mundial de surf de 2023? Essa é a pergunta dessa semana, já que a partir de 8 de setembro inicia-se a janela, que vai até o dia 16, para a decisão do Circuito da WSL, onde 10 surfistas, cinco no masculino e cinco no feminino, terão o direito de disputar a coroa de melhor do mundo.

O Rip Curl WSL Finals será realizado em Lower Trestles, San Clemente, no sul da Califórnia, EUA, um pico de ótimas ondas – direitas longas manobráveis e esquerdas mais curtas, porém mais propícias a manobras aéreas – que há três anos se tornou palco da mudança de formato para a definição do ganhador do Tour. Mudança essa, é importante frisar, geradora de enorme polêmica.

Odiada por muitos dos fãs, por não consagrar o surfista mais regular da temporada como campeão mundial, fato é que esse playoff imaginado pela WSL acabou dando uma visibilidade maior à coroação do melhor do ano, e isso não pode ser simplesmente descartado. Todo esporte necessita de dinheiro para eventos, atletas, evolução de tecnologia, e o surf não foge a regra, dependendo da audiência para trazer mais grana. Mesmo que boa parte do mundo prefira o velho “pontos corridos”.

De qualquer forma, dois brasileiros tentarão levar o caneco entre os homens. O primeiro a tentar chegar na bateria derradeira será João “Chumbinho” Chianca, local de Saquarema, com recém 23 anos feitos e muito talento e bagagem em ondas pesadas. Depois de amargar em 2022 o corte de meio de ano passado que o feriu muito, mas não o derrubou o suficiente para alijá-lo da reclassificação, João teve um início de temporada para lá de promissor. Com resultados expressivos na perna inaugural do Circuito, ele construiu uma base de pontos sólida, que quase ruiu à medida que o ano foi avançando. Devido a atuações ruins na parte final da temporada, passou um sufoco, mas acabou dentro do Finals 5.

Observando seus treinos em Trestles, dá para notar que ele ainda não está totalmente a vontade no pico – apesar de estar surfando bem – que tem algumas pegadinhas, principalmente na escolha das ondas. Ali, a velocidade é fundamental para passar por algumas sessões e saber efetuar as manobras certas no “pocket” que se apresenta, separando uma onda boa de uma onda excelente. Como os aéreos deverão ser mais bem pontuados, a sintonia entre surfista e onda será fundamental para receber high scores.

Seu primeiro rival será o australiano Jack Robinson, que conhece Trestles um pouco melhor, mas também não é nenhum expert lá. É uma bateria equilibrada onde, para mim, Robinson leva uma pequena vantagem por ser um competidor mais experiente e ter um lado emocional mais consistente. Numa bolsa de aposta, daria 60% para Robbo e 40% para Chumbinho.

Quem vencer entre eles pegará o improvável aussie Ethan Ewing, que até poucos dias era uma enorme dúvida no evento devido a fratura em duas vértebras sofrida em Teahupoo, no mês passado. Pelas informações e vídeos que circulam, o australiano estará presente tentando ganhar seu primeiro título mundial. Não sei o grau da lesão de Ewing, mas realmente já acho um milagre ele estar surfando e não acredito que possa competir de igual para igual contra João ou Jack. Será surpreendente vê-lo avançar essa bateria. Nas minhas fichas, cravaria que o vencedor de Jack X João tem 80% de chances de passar adiante.

A partir daqui, na terceira bateria no modelo do Finals, o caldo já engrossa. O adversário a ser batido é Griffin Colapinto, o novo queridinho da América, local de Trestles e pivô de um verdadeiro movimento pró-USA a fim de quebrar a hegemonia brasileira na capital do surf sul californiano, devida as vitórias de Gabriel Medina em 2021 e Filipe Toledo ano passado.

Pois é, até hoje, nenhum surfista gringo venceu um brasileiro no pico durante uma bateria do Finals 5. Se Chianca chegar a esse degrau, será que faz jogo duro? Não vou ficar em cima do muro e creio que minha aposta seria para Griffin se credenciar a briga pelo título contra o número 1 do ranking.

Colapinto, no meu Fantasy pessoal, seria 75% favorito contra João, 65% caso fosse o rival de Robinson e 95% se o milagreiro Ethan sobreviver à sua bateria anterior. Como se vê, meu $$ casaria para uma final entre o local americano e o local brasileiro. Griffin X Toledo, uma final dos sonhos para a WSL e uma promessa de muito show de surf.

Filipe, em condições normais de Trestles, chega a ser praticamente imbatível, precisando surfar, no máximo, apenas três baterias. Quando foi vice de Medina, ele começou a disputa como terceiro do ranking e precisou vencer a Conner Coffin e Ítalo Ferreira antes da grande final contra Gabriel, quando perdeu de dois a zero. O mar estava com ondas de seis pés, bem longas e sem uso do jet-ski, o que fez com que fosse necessária muita energia. Foi nítido o seu desgaste na final, mesmo surfando muito bem. Dessa vez, ele chegará como em setembro do ano passado, novamente líder do Tour, sendo que foi o Ítalo quem competiu exausto e lesionado nas baterias que definiram o título para o pai de Mahina e Koa.

Se tivesse que botar meu salário numa eventual aposta, jogaria tudo no lado do brasileiro atual campeão mundial. Mesmo Griffin tendo surfado Trestles pela vida inteira, ninguém surfa esse lugar como Filipe Toledo. É como se essa onda fosse feita sob medida para seu surf. O número de manobras, rapidez, a facilidade com que ele encaixa seu vasto repertório, seja em marolas de dois pés até séries de seis pés, o torna favorito absoluto para levar o bi.

Diria que apenas um dia surreal de Colapinto contra um dia miserável de Toledo colocaria a balança a favor do californiano. Mas como se diz no esporte, só acaba quando termina. Griffin tem uma mochila pesada nas costas com esse tabu de a Califórnia não ter um campeão mundial desde Tom Curren, em 1990. Então, a pressão será enorme. Já Filipe, vai para sua terceira decisão consecutiva, ciente do que tem que fazer, com um bom equipamento no pé, apoio maciço da comunidade brasileira e família, além de já ter essa taça na sala de troféus.

Penso que para o esporte em geral, até soaria interessante Colapinto sagrar-se campeão mundial, pois isso repercutiria bem na mídia americana e poderia gerar dividendos para as combalidas finanças da WSL. Mas torço para que o filho de Ricardinho conquiste um justo bi, pois ele é a meu ver, há três anos, o melhor surfista do mundo no geral. O importante é que seja uma disputa honesta, bem julgada, sem puxar sardinha para ninguém. Apenas, que vença o melhor!

*O carioca Guaraná mandou sua primeira manobra na Barra da Tijuca, em 1980, aos 13 anos de idade. Pertencendo a uma geração de surfistas que marcou época, após uma bem sucedida, ainda que breve, carreira de competidor amador, passou de protagonista a perspicaz observador. Primeiro foi colaborador do extinto jornal Staff, depois Now. Na sequência, trabalhou com Ricardo Bocão e Antônio Ricardo no revolucionário programa Realce, pioneiro em esportes de ação na TV aberta brasileira. De lá saiu para um período como dirigente, até ocupar a assessoria de imprensa da etapa do Circuito Mundial no Brasil, de 1997 até 99. Um ano depois foi para a Revista Fluir, onde permaneceu por sete anos como editor chefe. Desde então, não ocupou mais cargo fixo na mídia do surf, mas nem por isso deixou de falar o que acha.

Alex Guaraná
Alex Guaraná
Carioca e flamenguista roxo, mandou sua primeira manobra na Barra da Tijuca, em 1980, aos 13 anos de idade. Após uma bem sucedida carreira de competidor amador, passou a atuar como jornalista especializado. Primeiro nos jornais Staff e Now. Na sequência, trabalhou com Ricardo Bocão e Antônio Ricardo no programa Realce, pioneiro em esportes de ação na TV brasileira. Após um período como dirigente, e outro como assessor de imprensa do Circuito Mundial no Brasil, assumiu o posto de editor-chefe da Revista Fluir, onde ficou até 2007. Desde então se tornou comentarista esporádico, e agora fixo aqui na Hardcore, do esporte que conhece como poucos.

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