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A busca acirrada pelo pote de ouro

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“Alguém está se coçando para tentar mostrar que o pote de ouro está ao alcance, ali, pertinho. Basta continuarmos a investir nessa estrada. O problema é que o surf no Brasil tem hoje dois players em busca do fim do arco-íris: A WSL Brasil e a CBSurf”

Por Alex Guaraná

Duas matérias foram publicadas nestes últimos dias sobre o quanto o surf esta bombando economicamente em 2023. A primeira, assinada por Beto Silva, da IstoÉ Dinheiro, intitulada “Surf brasileiro é espetáculo no mar e nos negócios”, no geral dá uma visão um tanto romântica da atual fase do esporte no país, com seus campeões mundiais, mega eventos e construção de piscinas. A segunda publicação, da blogueira Mariana Barbosa, no O Globo.com, relata o sucesso que a etapa brasileira do Circuito Mundial foi para os cofres públicos da cidade de Saquarema e para o estado do Rio de Janeiro. Ambas foram escritas por pessoas sem nenhuma ligação aparente, em dois veículos de estados diferentes, mas tem em comum dados de eventos promovidos pela WSL Brasil, capitaneada por Ivan Martinho, CEO da empresa, que é o responsável pela comercialização da marca WSL no continente latino-americano. Fiquei matutando e não consegui ver coincidência das publicações.

Havia uma brincadeira quando trabalhei como assessor de impressa, de que 90% das coisas que líamos nos jornais e revistas eram frutos de pautas enviadas por esses profissionais jornalistas, que ficam em escritórios criando informação de empresas que os contratam na busca de espaço midiático. Não entro numa redação há décadas, mas não acho que mudou muita coisa em relação a isso. Então, não me causa estranheza que pautas com o mesmo assunto apareçam em veículos tão diferentes. Alguém está se coçando para tentar mostrar que o pote de ouro está ao alcance, ali, pertinho. Basta continuarmos a investir nessa estrada. O problema é que o surf no Brasil tem hoje dois players em busca do fim do arco-íris: A WSL Brasil e a CBSurf (Confederação Brasileira de Surf).

O curioso nessa disputa pelo mercado é que para ambos seria importante o sucesso dos eventos do outro, pois com mais campeonatos produzidos no país, mais talentos aparecem fomentando o surgimento de novos ídolos, além de termos mais conteúdo de qualidade para mostrar na mídia. Só que o mundo não é perfeito.

Esse sucesso financeiro todo que está sendo divulgado não é nenhuma novidade. O surf já teve seu boom no Brasil há cerca de 20 anos. Empresas como a Vivo, Tim, Santander, Coca Cola, Nova Schin, Chevrolet, Peugeot, Brahma, e tantas outras, investiram pesado em eventos e surfistas, assim como acontece hoje. E mesmo assim, a década a partir de 2010 foi um desastre comercial. Não porque o esporte surf era inviável, mas sim porque as pessoas que estavam envolvidas não souberam lidar com as mudanças que ocorreram na sociedade e na economia.

Chega a ser irônico saber que essa geração chamada Brazilian Storm surgiu nesses anos escuros do surf tupiniquim, quando basicamente os eventos de competição eram minguados e a organização responsável por fomentar a base do esporte, a CBS, estava nas mãos de pessoas que não tiveram capacidade de iluminar essa nebulosa fase.

Acredito que o esporte no Brasil só ganha visibilidade com vencedores. Vice aqui não tem vez. O período obscuro do surf começou a ver a luz no fim do túnel quando Gabriel Medina faturou seu primeiro título mundial, em dezembro de 2014. E com a sequência brasileira de Adriano de Souza, Ítalo Ferreira e Filipe Toledo a coisa só melhorou. O engraçado é que todos eles se tornaram gigantes basicamente por conta de seus familiares e apoiadores próximos. Nenhuma entidade ajudou em muita coisa! Mérito exclusivo deles. Dessa forma, esse papo de que podemos nos transformar numa potência eterna de campeões se mantivermos esse projeto de investimento não cola. Pode ajudar, mas não é certeza de nada.

Não acredito em mecenas nem em gente que faz negócio por amor. Quando se bota grana em alguma coisa, sempre se tem um objetivo prático e com tendências lucrativas. E OK, isso é capitalismo, não é amoral nem ilegal. Só que não compro a conversa de que entidade A ou B está apenas em busca do melhor para o surfista. Isso é a maior balela!

Os eventos tão bem falados no Brasil pagam menos do que há 13 anos. Cada etapa do Dream Tour 2023, elite do Circuito Brasileiro, dá R$400.000,00, num total de R$2.400.000,00 distribuídos entre homens e mulheres através de 6 etapas. Em 2010, o SuperSurf, que determinava o campeão brasileiro, deu R$1.000.000,00 no ano em 5 etapas (200K por etapa) o que daria hoje com a correção monetária pelo IGP-M cerca de R$2.722.000,00 na temporada. Ou seja um pouco mais de 10% do que o Dream Tour.

Já na WSL, o campeão da etapa de Teahupoo, onde você literalmente arrisca o pescoço, levará a bagatela de U$100,000.00. Parece muito, mas se você comparar por exemplo com o golfe, esse valor é menor do que ganhou o 17º colocado do John Deere Classic, um dos torneios de menor bolsa no PGA Tour e onde o campeão levou “míseros” U$1.332,000.00. Podemos dizer que ficar quatro horas dando umas tacadas num campeonato médio de golfe te dá a chance de embolsar 13 vezes mais que arriscar seu escalpo na rasa bancada taitiana. Na boa, se você tem família na Flórida e sonha em ver seu filho esportista vai levá-lo para um campo de golfe em Orlando ou para uma praia em Cocoa Beach?

Disputas por verbas no intuito de enfraquecer o outro lado apenas atrasa o processo. O ideal seria que a busca pelo investimento fosse a quatro mãos, e que se desenhasse uma fórmula onde os surfistas tivessem oportunidade de disputar alguns eventos no seu país e que o órgão máximo do surf brasileiro conseguisse acesso a forma de gestão da WSL que tem mais de 45 anos de experiência fazendo eventos mundo afora. Flavio ‘Teco’ Padaratz, que já foi do conselho da ASP como surfista, e depois como dono de licença, hoje está no lado contrário da mesa, lutando pela CBSurf, que depois de muito tempo mostra seu trabalho com um novo grupo. Creio que Teco é a figura chave para resolver a questão. Pela sua experiência, por ser um cara inteligente e por ter bom trânsito político.

Numa coisa concordo com o Ivan. Temos que aproveitar esse novo boom no surf. Ano que vem tem Jogos Olímpicos e a verba será mais disputada. E sendo bem honesto, se o Circuito Mundial acabasse hoje, penso que o Brasil estaria numa posição onde o favoritismo a uma medalha não seria tão grande como foi em Tóquio. Será que um fiasco em Paris (leia-se Taiti) atrapalhará o sonho da WSL Brasil e CBSurf? Já vi esse filme e o final não é feliz. Por isso não podemos confiar apenas no sucesso pessoal dos atletas. É preciso fazer a cama direito, para depois deitar e ter um belo sono.

Alex Guaraná
Alex Guaraná
Carioca e flamenguista roxo, mandou sua primeira manobra na Barra da Tijuca, em 1980, aos 13 anos de idade. Após uma bem sucedida carreira de competidor amador, passou a atuar como jornalista especializado. Primeiro nos jornais Staff e Now. Na sequência, trabalhou com Ricardo Bocão e Antônio Ricardo no programa Realce, pioneiro em esportes de ação na TV brasileira. Após um período como dirigente, e outro como assessor de imprensa do Circuito Mundial no Brasil, assumiu o posto de editor-chefe da Revista Fluir, onde ficou até 2007. Desde então se tornou comentarista esporádico, e agora fixo aqui na Hardcore, do esporte que conhece como poucos.

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