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quinta-feira, 14 março, 2024
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Medina vence primeiro campeonato da história em piscina de ondas

Gabriel Medina fez história mais uma vez neste domingo (9). O primeiro campeão mundial brasileiro venceu a edição inaugural do Surf Ranch Pro, etapa do Circuito Mundial da WSL na piscina de ondas de Kelly Slater, em Lemoore, interior da Califórnia. Entre as mulheres, a havaiana Carissa Moore foi a campeã e colocou seu nome ao lado do de Medina.

O principal adversário de Gabriel na piscina e na corrida pelo título mundial é Filipe Toledo, o atual líder do ranking e vice-campeão no Surf Ranch. Kelly Slater e Kanoa Igarashi ficaram em 3º e 4º, respectivamente, e recebem a pontuação de uma semifinal em um evento comum. Owen Wright, Julian Wilson, Sebastian Zietz e Miguel Pupo, nessa ordem, completam o top 8 e pontuam com o equivalente a quartas de final (5º lugar).

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Congratulations @gabrielmedina, winner of the 2018 #SurfRanchPro pres. by @hurley

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Alta performance, controle de nervos e ajuda vergonhosa a Slater são os destaques do Surf Ranch Pro

O evento é um marco para o surf mundial e foi cercado de expectativa. Ao lado das performances arrebatadoras de Medina, Filipe Toledo e Julian Wilson, entrarão para a história: o contraste entre os surfistas mais e os menos progressivos da elite; a oportunidade de um novo formato com potencial para o futuro; uma agressiva campanha da WSL para levar a opinião pública a uma postura positiva em relação à piscina; e, por fim, uma arbitragem bizarra, perdida como um todo, e em específico uma série vexatória de ajudas a Kelly Slater, com notas completamente surreais.

Com três chances para a esquerda e três para a direita e nenhuma sessão de aquecimento, a maioria dos finalistas sequer completou alguma onda nas primeiras tentativas.

O primeiro a fazê-lo foi Filipe. Kanoa Igarashi fez uma boa direita logo na sequência e Medina, último a surfar e de novo o melhor nos tubos, repetiu a dose. Os três para a direita.

Na segunda entrada na água, Slater recebeu uma nota 8,60 incompreensível. Manobras bem colocadas e com pressão, bom posionamento nos tubos… Nenhum aéreo. Nenhuma desgarrada de quilhas. Erro na finalização. Qualquer outro surfista receberia sete pontos e alguma coisa, no máximo.

Pouco depois, Filipe conseguiu a melhor nota individual do campeonato em uma direita em que completou três aéreos (assista abaixo). A onda era uma nota 10 clara e algo para entrar para a história do surf profissional. Para os juízes, foi 9,80. Só isso já seria bizarro. Mas a comparação com a nota de Slater deixa a situação um completo absurdo. Dizer que a diferença entre essas duas ondas foi de 1,20 ponto é uma mentira de cara lavada que enterra qualquer chance de alguém entender como funciona o julgamento.

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“Suas cavadas ultra profundas atrás do lip são super difíceis de se executar”, disse Martin Potter sobre uma esquerda de Kelly. Sobre a direita, “é a primeira vez em todo esse evento que vemos alguém pegar esse tubo logo na primeira sessão da onda. Kelly Slater é o melhor tube rider do planeta”.

Na vida real, Slater surfa suas ondas de maneiras conservadora, ignorando toda a evolução de performance que temos visto nos últimos anos. Filipe Toledo já havia pegado o primeiro tubo da direita, logo que ela começa a subir, e Slater pode ter sido o melhor tube rider uns anos atrás e pode ser um dos melhores tube riders do mundo. Dizer, em 2018, que ele é o melhor tube rider do mundo, é algo que podemos chamar educadamente de descompromisso com a verdade.

Slater precisa decidir se é cartola ou atleta. Durante toda a transmissão, os locutores rasgaram elogios pelo trabalho desenvolvido na piscina. Mas, dentro da água, recebeu uma colaboração visível e vergonhosa dos juízes. No final de sua última apresentação, ainda teve a cara de pau de dizer que ir para as etapas da Europa não está em seus planos. Sua relação com a WSL faz uma enorme sombra de constrangimento sobre tudo que acontece no surf neste momento.

 

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“They want more? I’ll give ‘em more” @filipetoledo #SurfRanchPro @hurley

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Sobre o restante dos atletas, vale destacar a estratégia de Julian Wilson, de ir para o tudo ou nada de uma manobra arriscadíssima desde a primeira onda. Em todas as esquerdas, o australiano tentou um varial flip. Nas direitas em que chegou próximo do fim, tentou um aéreo reto como o que acertou no sábado. Não completou nenhuma esquerda e acabou na parte de baixo da classificação do dia, mas fez um serviço enorme em nome do surf progressivo. Pupo completou uma ótima esquerda, confirmando que tem nível para disputar na metade de cima da elite.

Em geral, os finalistas sentiram a pressão, outro ponto em que Medina conseguiu se sobressair. Na sexta-feira, garantiu a melhor soma da rodada logo em suas duas primeiras ondas. Neste domingo, na segunda queda já tinha feito uma soma suficiente para o título – 8,53 na melhor esquerda, 8,73 na direita.

As máquinas continuam com segredos, e todos tiveram a chance de surfar uma esquerda a mais antes da última entrada. A onda segue inconsistente, algumas muito menores do que o esperado.

Apenas Kanoa e Medina aproveitaram a chance extra. O japonês saltou para a quarta posição, e o brasileiro trocou seu 8,53 por um 9,13.

A expectativa era enorme para as últimas tentativas, mas a maioria sentiu a pressão novamente. Filipinho perdeu as chances do título quando errou um aéreo reverse na finalização de sua esquerda. Kanoa também falhou na esquerda. Assim, apenas Julian Wilson poderia impedir o título do brasileiro. Ele arriscou pela terceira vez o varial flip. Não completou. Fora da água, Medina comemora com a família. Conquista o segundo troféu consecutivo na temporada e reduz em 2 mil pontos a distância para Filipe no ranking.

Na entrega do troféu, Medina põe a cereja no bolo da campanha de declarações artificiais de todos os surfistas sobre o quanto foi emocionante competir na piscina. “Em primeiro lugar, obrigado Dirk e Natasha por fazer isso possível”, disse o campeão, cumprindo à risca o roteiro desenhado pela WSL. You can script this.

O circuito agora vai para a Europa. Entre 3 e 14 de outubro disputam a etapa da França; entre 16 e 27, a de Portugal. Medina é o atual campeão das duas.

Texto: Fernando Maluf
Imagens: WSL

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