Desde que comecei a surfar, um dos meus passatempos favoritos tem sido assistir ao surf na televisão. Os filmes de surf eram, ao mesmo tempo, uma distração e também uma maneira de entender um pouco mais sobre esse esporte tão único, complexo e delicioso. Observar as etapas do mundial, ou os filmes de surf são uma forma de aprofundar meu entendimento.
Ontem, enquanto assistia à etapa da Hurley Pro Sunset Beach, refletia sobre certos aspectos que tendem a se perder com o tempo. Por exemplo, o interesse em assistir a performances em mares como os de Sunset. Estamos falando de ondas enormes e pesadas, um mar revoltoso e imprevisível, resultando em quedas que desafiam a lógica, como a de Kelly Slater num drop desajeitado, que o fez parecer um principiante.
+Brasil torce por Italo Ferreira no Hurley Pro Sunset Beach
De alguma forma, aquele mar transmitia uma mensagem pra mim, como se estivesse me lembrando da verdadeira essência do surf. O surf é sobre superar adversidades, quebrar barreiras pessoais, e transcender limitações mentais que, por vezes, controlam o físico, como o medo.
Isso sem mencionar o debate sobre o que tem se tornado o surf moderno, com seus aéreos, pranchas super pequenas e leves como uma pluma. Algo impensável aos olhos e surf dos velhos tempos. Quando desafiar morras, com curvas e cavadas cirúrgicas era sinônimo de competência e beleza.
Talvez seja esse o ponto, e por isso acredito que o dia de ontem tenha sido tão importante. Ele demonstra aos novos praticantes e espectadores um pouco da realidade sem filtros. Menos perfeição, e mais dificuldade e a verdade salgada. Traz à memória a origem.
É claro que um mar imperfeito afeta a execução de manobras. Isso é inquestionável. Entretanto, é neste contexto que se exige adaptação e uma leitura sublime de onda. Ademais, quando a conexão entre surfista, mar ou prancha está comprometida, deve-se voltar a atenção para dentro. Isso porque, na maioria das vezes, o problema não reside nos outros, na multidão, no mar, mas em si mesmo.
O mar em Sunset, ontem, estava longe do ideal; a audiência e competidores, sem dúvida, prefeririam condições previsíveis e ondas alinhadas. No entanto, o que presenciamos foi um verdadeiro caos: desordem, agitação, uma energia constante em meio a um volume de água impressionante.
Aqueles que souberam transformar adversidade em oportunidade se destacaram. Italo foi um desses exemplos. Mesmo diante de condições adversas, soube extrair o melhor de si. É sobre isso.
Por fim, fica a reflexão: buscamos por mares verdadeiramente desafiadores e reais ou preferimos a perfeição e o surf de acrobacias?