O resgate de João Chianca é a prova incontestável do poder da união
O mundo do surf foi sacudido pelo grave acidente de João Chianca em Backdoor, Pipeline. Todos, surfistas ou não, podem compreender a brutalidade daquele wipeout.
Na noite do acidente, dormi mal. As cenas me afetaram profundamente e acordei com pesadelos. Tudo ressoava de maneira diferente na minha cabeça, e eu pensava na mãe de João: e se fosse meu filho ali?
No surfe, assim como na vida, frequentemente buscamos um controle, muitas vezes ilusório, diante do inesperado desenrolar dos fatos. Por isso, acredito que o acidente de Chianca não é uma questão de culpa, mas sim um lembrete de nossa inescapável relação com o imponderável.
Surfistas como Chianca enfrentam o oceano com um propósito que parece transcender o medo e o risco. Contudo, talento, paixão ou treino não são escudos contra a tragédia.
O acidente de Chianca, quase trágico, nos faz refletir sobre as consequências dos nossos atos. Surfar em Pipeline é mais arriscado do que em Maresias (SP), mas não há garantias ou controle sobre o que pode acontecer. O ambiente marinho nos torna vulneráveis, independentemente do pico escolhido.
Durante minha gravidez, compreendi o que significa não ter controle. Podemos fazer escolhas, é verdade, mas nenhuma delas determina completamente o que acontecerá.
No surfe, cada sessão traz um risco, e em todas as esferas da vida, nossas escolhas e ações têm repercussões, algumas imediatas, outras a longo prazo.
E se João não tivesse escolhido aquela onda? Se o resgate não fosse tão rápido? Se ele tivesse completado o tubo? A linha entre a conquista e o desastre é tênue e incerta.
“Se” não existe; e a lição sobre o que vimos no dia 3 de dezembro, é a respeito de uma força. O resgate de Chianca é a prova incontestável do poder da união e do coletivo, quando diferenças são deixadas de lado, e prevalecem a empatia e o compromisso com a vida.
A comunidade do surfe, muitas vezes vista como um grupo de individualistas egoístas e egóicos, mostrou coesão e cuidado que vão além.
A recuperação de João Chianca será, sem dúvida, um caminho desafiador. Que a resiliência e a união sirvam de inspiração. Não estamos sozinhos.