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A WSL está acertando na batalha pela audiência

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“Não somos um esporte de um nome só. Temos sete títulos mundiais em 9 temporadas desde 2014, com quatro nomes diferentes, além de uma medalha de ouro olímpica.”

Por Alex Guaraná

As mudanças feitas nos últimos três anos pela WSL, principalmente o corte e o Finals, tiveram como principal motivação uma palavra chamada audiência. Esse índice que mede a quantidade de pessoas que assistem a um determinado evento/programa é fundamental para a sobrevivência de qualquer entretenimento. Através dele se vê o alcance que o produto em questão tem e a decisão de investir ou não nesse negócio baseia-se na premissa de que quanto mais gente se alcança mais valioso ele é.

Para entender o assunto, é necessário antes saber que existem atualmente diversas plataformas de comunicação, onde são medidos esses índices. Entre eles a TV aberta (ex: TV Globo), TV fechada (Sportv, ESPN, etc…) e o streaming, que basicamente é a transmissão de dados através da internet, seja diretamente para celulares, pads e computadores, ou através das novas gigantes de conteúdo como a Netflix, Amazon, Disney, HBO e Globoplay por exemplo.

O surf sempre teve problemas em ser divulgado pela, ainda, principal plataforma, que é a TV aberta, por causa de seu formato de disputa longo e pelas complexidades envolvendo os locais dos eventos, alguns em regiões inóspitas. Os custos de transmissões eram muito caros e inviabilizavam qualquer tentativa de atrair uma grande rede de televisão.

Tudo isso mudou quando o niteroiense Mano Ziul (1961-2022) conseguiu realizar seu sonho de transmitir ao vivo as etapas do Circuito Mundial. Não me lembro exatamente quando e nem em qual evento isso aconteceu, mas foram anos de evolução, primeiro com as notas sendo transmitidas ao vivo, depois com algumas imagens sem ser em tempo real, até que finalmente a ASP conseguiu transmitir ao vivo todo o talento dos melhores surfistas do mundo. O surf era o primeiro esporte a ter uma transmissão em tempo real de sua elite através da internet.

Atualmente, diversos esportes usam do mesmo artifício, vendendo assinaturas via grandes conglomerados de mídia ou por suas próprias plataformas. A WSL ainda não implantou esse sistema de assinantes pagos, apesar de alguns boatos de que isso não demoraria. Talvez ainda não exista um número de pessoas ideal conectadas ao site para que esse movimento seja realizado. Sem os dados, ficamos no achismo.

O colunista do UOL, Allan Simon, numa de suas colunas, publicada no dia 15 de setembro passado, trouxe à tona a audiência do Circuito Mundial da WSL em 2023 no canal de TV fechado Sportv, mostrando que houve um aumento de 16% em relação ao ano de 2022. É um dado interessante, que mostra uma evolução mesmo com a queda de assinantes nas TVs a cabo. Para se ter um parâmetro, em 2022 as TVs cabo em conjunto fecharam o ano com 12,48 milhões de assinaturas contra 13,46 milhões em 2021, uma queda de 7,2 %, segundo a Anatel. Até junho deste ano, um milhão de assinaturas foram canceladas, uma queda de 8%.

Analisando esses dados, vemos que apesar da efetiva perda de assinantes, o surf conseguiu bons números, que explicam em parte o investimento do Grupo Globo nos eventos e principalmente na etapa brasileira, realizada em Saquarema, que foi a cereja do bolo das transmissões do canal Sportv durante a temporada.

O Vivo Rio Pro, que rolou em junho passado, atraiu 1,6 milhão de pessoas para as telas conectadas na Sportv. Numa conta burra, seriam pouco mais 500 mil pessoas assistindo ao evento por dia, o que dá um ponto de Ibope. Parece ser ruim, mas para a TV fechada é um bom índice para um esporte que não seja futebol.

Os números do WSL Finals também corroboram ainda mais o acerto em termos de audiência do plano da entidade em fazer o campeão mundial no formato playoff em apenas um dia. Mesmo sem divulgar a audiência, o colunista da UOL afirma que a bateria decisiva entre Filipe Toledo e Ethan Ewing fez com que o Sportv fosse o segundo canal esportivo mais visto, só perdendo para o canal Premiere (canal de assinatura de futebol). Interessante também o perfil dos telespectadores, com idade entre 25 e 34 anos, predominante masculino, mas com bom número de mulheres também assistindo.

A WSL divulga, desde 2021, o aumento da audiência digital em seus canais de comunicação. Segundo a entidade, o primeiro WSL Finals, vencido por Gabriel Medina contra Filipe Toledo, teve 6,8 milhões de visualizações no YouTube e Facebook. Em 2022, o número aumentou em 22%, com 8,3 milhões. Agora, em 2023, foi divulgado que o bi de Toledo teve 10,7 milhões de visualizações, 29% a mais. Importante salientar que esse número não é necessariamente o mesmo que o de pessoas que assistem, pois uma pessoa pode visualizar o evento mais de uma vez.

É óbvio que essas informações são num universo restrito, mas servem de base para ver que as interferências da WSL na procura de um formato que atraia público parece ter dado certo. Mesmo que não agrade boa parte da galera.

O surf se mostra um esporte que cresce de popularidade no país junto com o número de títulos dos seus ídolos. O CEO da WSL na América Latina, Ivan Martinho, afirmou que 40% da audiência global vem do Brasil. E imaginando a curto prazo, não vejo muitas opções de atletas brigando com Filipe, Medina, Ítalo, Chianca, Dora na disputa da coroa da WSL. Um John John mais focado, um Jack Robinson mais regular, um Colapinto mais maduro, um Ewing mais inovador podem até vencer, mas ainda acho que, pelo menos nos próximos três anos, a coisa vai pender para o lado brasileiro. Sinal de que temos tudo para continuar aumentado o “ibope”.

Por isso é fundamental que os projetos satélites que existem no Brasil consigam boas ideias e aproveitem esse boom proporcionando ao assinante mais opções de boa programação, fazendo com que essas pessoas sejam fidelizadas e o esporte cada vez mais tenha um volume suficiente de simpatizantes para voos maiores.

O surf está longe de tomar o caminho do tênis de Gustavo Kuerten ou o boxe de Popó de Freitas, que tiveram alguns anos de comoção e depois sucumbiram no dia a dia dos brasileiros. Não somos um esporte de um nome só. Temos sete títulos mundiais em nove temporadas desde 2014 (em 2020 o Circuito Mundial foi cancelado devido à pandemia), com quatro nomes diferentes, além de uma medalha de ouro olímpica. Se isso não é um domínio, não sei mais como chamar. Talvez supremacia! E como ela deve continuar, a tendência da audiência, ao menos em território nacional, é de seguir crescendo.

Alex Guaraná
Alex Guaraná
Carioca e flamenguista roxo, mandou sua primeira manobra na Barra da Tijuca, em 1980, aos 13 anos de idade. Após uma bem sucedida carreira de competidor amador, passou a atuar como jornalista especializado. Primeiro nos jornais Staff e Now. Na sequência, trabalhou com Ricardo Bocão e Antônio Ricardo no programa Realce, pioneiro em esportes de ação na TV brasileira. Após um período como dirigente, e outro como assessor de imprensa do Circuito Mundial no Brasil, assumiu o posto de editor-chefe da Revista Fluir, onde ficou até 2007. Desde então se tornou comentarista esporádico, e agora fixo aqui na Hardcore, do esporte que conhece como poucos.

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