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Devo assistir à disputa do título mundial em Trestles no Sportv ou no site da WSL? Dúvida cruel!

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“Penso que num esporte tão subjetivo como o nosso é complicado passar para quem está na frente da TV porque a onda de fulano foi um ponto melhor que a de ciclano”

Por Alex Guaraná 

A transmissão da última etapa da WSL no Sportv, finalizada em Teahupoo em 16 de agosto passado, deu o que falar entre a galera ‘in’ do surf. Tudo porque um dos comentaristas convidados do último dia do evento foi o carioca Pedro Scooby, já conhecido pelo seu jeito peculiar de ser. E obviamente, sua performance escrachada foi um show a parte, já que as ondas não estavam lá essas coisas. Tenho certeza de que muita gente se divertiu com as tiradas dele.

Eu, particularmente, que não vivo mais do esporte e não tenho, agora, aquela visão dura da forma com que a grande mídia deveria lidar com o surf, também achei hilária a participação do ex-BBB. E mesmo com suas opiniões divertidas, egocêntricas e ufanistas ao cubo, Scooby fez bons comentários sobre os tubos e quase sempre acertou as notas dadas, o que acho fundamental para tentar explicar a um público leigo o critério adotado pelos juízes – fato bem discutível até hoje.

Penso que num esporte tão subjetivo como o nosso é complicado passar para quem está na frente da TV porque a onda de fulano foi um ponto melhor que a de ciclano. Sendo assim, nada melhor do que um especialista, seja ele jornalista, ex-competidor ou até mesmo uma celebridade para tentar traduzir o surfês para o leiguês.

Por anos, as transmissões na TV ficaram a cargo da ESPN Brasil, onde as figuras de Renan Rocha, Tiago Brant e Edinho Leite passavam horas, muitas vezes madrugada adentro, na missão de entreter os aficionados do Circuito Mundial. Apesar da vontade e determinação, faltava uma direção eficaz e, por que não, mais investimento. A partir do ano passado, a Globo passou a ter os direitos de transmissão e tem exibido em seus canais esportivos e na Globoplay todos os eventos da WSL.

Foi visível que o maior grupo de mídia do Brasil deu um upgrade no negócio. Colocou alguns narradores que já faziam eventos de alto nível como o Everaldo Marques e montou um roteiro mais abrangente, com informações e curiosidades com o intuito de entreter os telespectadores enquanto não tinham ondas surfadas – diria que em 90% do tempo. Teve uma clara melhora de 2022 para 2023.

Fico pensando como deve ser complicado unir o padrão Globo com um esporte tão diferente como o surf. Afinal, agradar os exigentes surfistas ao mesmo tempo que as milhares de pessoas que não tem nenhum vínculo com esse esporte é tarefa ingrata. Críticas de cada lado vão existir e chegar num meio termo só com algum tempo.

A linguagem numa ferramenta de comunicação como a TV não é basicamente como a que se usa nas redes sociais ou mídia impressa. Quando alguém esta ali, falando, essas informações são passadas para uma infinidade de gente de uma só vez e o que se diz tem o poder de influenciar essa multidão imediatamente. Por isso o cuidado de escolher as figuras para passar esses recados tanto para os entendidos quanto para os desentendidos.

Sem dar nomes aos bois, pois acho que seria injusto para aqueles que estão ali trabalhando e seguindo ordens de um diretor e uma cadeia de comando, não vou deixar de dar minha opinião sobre o que vi nesse ano de 2023 na telinha.

Sei que serei opinião vencida, mas não acho legal a forma como os profissionais são tão parciais nas disputas. Entendo que essa torcida fervorosa pela bandeira do Brasil conquiste audiência, mas aprendi a ser um jornalista que trata os fatos e não as emoções. Mesmo que não seja compreendido ou vire chacota. Para mim o que importa é que vença o melhor, independente de bandeira, raça, religião ou seja lá o que for. Aprecio o esporte bem praticado, seja por Medina, John John ou Jack Robinson.

Também não gosto de expressões fabricadas que na verdade são redundâncias tolas e me lembram os novos termos futebolísticos inventados pelos neo-sabedores da bola. “Manobra funcional” aplicada por alguns comentaristas quando tal movimento não é tão explosivo é uma das coisas mais sem sentido que já ouvi. Amigo, qualquer manobra é funcional, pois as manobras, sejam elas quais forem, têm sempre funções, entre as quais, a de levar notas dos juízes. Outra redundância é “Ondas de Consequência”. Querido, qualquer onda tem uma consequência, sempre, seja ela pequena ou gigante! Pode ser uma de um metro na Paúba, que deixou o cascudo Otaviano “Taiu” Bueno numa cadeira de rodas ou outra de cerca de 20 metros que o destemido Ricardo Bocão surfou em Nazaré ano passado aos 68 anos.

Querer robotizar as gírias do surf é uma bobagem sem tamanho. Não é necessário criar termos para se falar no Grupo Globo, basta explicar que tal manobra serve para o surfista passar uma sessão ou ganhar mais velocidade para executar um movimento mais potente, ou que a onda de Teahupoo é uma onda muito forte numa bancada extremamente rasa e que pode ferir gravemente um surfista caso ele faça um drop equivocado ou não consiga sair do tubo. Não é tão difícil explicar e dá para unir a terminologia do surf com o ensinamento ao leigo.

Pelo que assisti, existem alguns modelos de mensagem, uns mais técnicos, outros mais didáticos, outros mais pessoais e alguns mais divertidos. Mas o que mais me chamou a atenção de forma positiva foram as atuações de Alejo Muniz e Jessé Mendes nos microfones. Ambos têm muito a acrescentar a qualquer emissora pois são acima da média entre os surfistas no quesito comunicação e têm muita bagagem tanto de competição quanto de experiências pessoais, o que agrega muito num evento que passa tanto tempo sem ação.

Longe de querer falar mal ou bem, quero e gostaria de assistir uma evolução ainda maior nessas transmissões. Amo esportes e acompanhei o surgimento de alguns nas telinhas brasileiras como a NBA e o tênis na Rede Bandeirantes nos anos 80 e final dos 90, além do golfe e da NFL nos canais da ESPN. O início sempre é complicado, mas hoje não dá para deixar de assistir a qualquer um desses quatro esportes que se tornaram populares e muito bem transmitidos na TV. Quero o surf nesse nível. Por isso, sempre serei chato, pois quando ligo meu transmissor e coloco no canal escolhido, se a atração não for boa, levo menos de um segundo e já migro para outra coisa. Na TV, o sucesso ou fracasso é definido assim, num piscar de olhos. Sei que ainda tem muita gente que prefere assistir a transmissão com áudio original, em inglês, no YouTube, site ou app da WSL. É uma opção. Mas não seria melhor ter nível similar em frente a sua cama ou sofá na língua portuguesa? Eu adoraria.

*O carioca Guaraná mandou sua primeira manobra na Barra da Tijuca, em 1980, aos 13 anos de idade. Pertencendo a uma geração de surfistas que marcou época, após uma bem sucedida, ainda que breve, carreira de competidor amador, passou de protagonista a perspicaz observador. Primeiro foi colaborador do extinto jornal Staff, depois Now. Na sequência, trabalhou com Ricardo Bocão e Antônio Ricardo no revolucionário programa Realce, pioneiro em esportes de ação na TV aberta brasileira. De lá saiu para um período como dirigente, até ocupar a assessoria de imprensa da etapa do Circuito Mundial no Brasil, de 1997 até 99. Um ano depois foi para a Revista Fluir, onde permaneceu por sete anos como editor chefe. Desde então, não ocupou mais cargo fixo na mídia do surf, mas nem por isso deixou de falar o que acha.

Alex Guaraná
Alex Guaraná
Carioca e flamenguista roxo, mandou sua primeira manobra na Barra da Tijuca, em 1980, aos 13 anos de idade. Após uma bem sucedida carreira de competidor amador, passou a atuar como jornalista especializado. Primeiro nos jornais Staff e Now. Na sequência, trabalhou com Ricardo Bocão e Antônio Ricardo no programa Realce, pioneiro em esportes de ação na TV brasileira. Após um período como dirigente, e outro como assessor de imprensa do Circuito Mundial no Brasil, assumiu o posto de editor-chefe da Revista Fluir, onde ficou até 2007. Desde então se tornou comentarista esporádico, e agora fixo aqui na Hardcore, do esporte que conhece como poucos.

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