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Pan-American Soul 2022: Salvos pela luz da lua cheia

“Você deveria ter estado aqui ontem, as ondas estavam bombando”. Quem já não escutou essa frase, ou variações dela, ao chegar à praia e encontrar condições desfavoráveis? Muitas vezes nem é verdade, mas no nosso caso em Barra de La Cruz, nós sabíamos – meu filho Keone e eu, que está me acompanhado nessa etapa da Pan-Americansoul 2022 – que cinco dias atrás havia entrado um swell muito bom. O mesmo que bateu com força explosiva em Puerto Escondido, como relatei na coluna anterior. Não foi nem um local, mas um surfista gringo que nos informou, ainda na pousada, antes mesmo de irmos checar o mar: “vai estar pequeno e crowdeado”. O que confirmamos na sequência.

texto e fotos por Adrian Kojin / Editor Especial da HARDCORE

 

O dia estava maravilhoso, sol, céu azul, uma leve brisa terral. E o visual do pico é espetacular. Uma taxa de aproximadamente cinco dólares é cobrada pelo acesso à praia, revertidos na manutenção do lugar. É proibido construir à beira mar, e com isso a paisagem permanece intocada, proporcionando uma sensação de surfe selvagem. Só prejudicada mesmo pelo número excessivo de surfistas na água.

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Após cruzar o rio, nos instalamos em uma das cabaninhas improvisadas, armadas com troncos trazidos pela maré, que garantem ao menos uma proteção parcial contra o sol implacável. Deixamos parafina, água, sandálias, protetor solar na sombra e fomos para água animados com a possibilidade de conseguir pegar uma da série e poder ter um gostinho de como deve ser uma onda de verdade nesse pico tão sonhado por surfistas mundo afora. Infelizmente a experiência foi para lá de frustrante. Eu não tive paciência para aturar o comportamento mal educado de uma meia dúzia dando a volta nos demais 20, e logo voltei para a areia. Keone tentou um pouco mais, mas não arrumou nada que valesse a lembrança.

Que chato! E agora? Tínhamos que tomar uma decisão de planejamento da viagem. Ficar mais uns dias aguardando um swell pouco confiante a ser surfado com aquele mesmo crowd insuportável, ou avançar na estrada para que Keone pudesse conhecer um pouco da Guatemala antes de regressar ao Brasil. Foi aí que ele teve a, literalmente, brilhante ideia: “vamos surfar Barra de La Cruz sozinhos, à noite, iluminados pela lua cheia”.


Colocamos o despertador para às 4 da manhã, 3 horas antes do nascer do sol no horário local. Dirigi até a guarita no alto do morro, onde a cancela impedia que prosseguíssemos na van, que ficou estacionada à beira da estradinha de terra. Descemos a ladeira até a praia caminhando sob a luz forte da lua, cruzamos o rio um pouco apreensivos, mas sem nenhuma ocorrência, e chegamos até o mesmo canto de pedras onde deixáramos nossos pertences no dia anterior. Tudo igual, só que sob a luz lunar ao invés da luz solar. Claro que a visibilidade fica um tanto comprometida, mas por outro lado cria-se uma atmosfera mágica, com as pedras projetando sua sombra por cima dos troncos espalhados na areia e espumas brancas indicando o trajeto das ondas no mar.

 

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Entramos na água exatamente às 5 da madrugada, remando junto às pedras da costeira, com a lua já a três quartos do caminho entre seu ápice no firmamento e o horizonte, mas proporcionando luz suficiente para que pudéssemos enxergar as ondas quebrando à nossa frente. Nos posicionamos para esperar a série sentindo a adrenalina percorrer nossas veias. Não lembro quem foi na primeira, acho que o Keone. Logo eu peguei uma também. Ele outra e eu outra. Fomos nos acostumando com a luz prateada, que exigia que surfássemos mais sentindo a onda do que realmente a visualizando. Mas num point break com a perfeição de Barra de La Cruz isso não é problema. Você sabe que a onda vai abrir e que tudo que tem que fazer é seguir para a direita.


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Sempre que escrevo sobre minhas experiências surfando, tento o máximo possível transportar o eventual leitor para dentro da cena. O desafio para mim é não cruzar a sutil linha divisória que separa o relato entusiasmado daquele um tanto quanto arrogante. Sobre essa sessão de surfe iluminado pela lua cheia fico até sem palavras. Foi algo tão marcante que seguramente a coloco entre as mais especiais da minha vida. Em números talvez fique mais fácil: surfei durante 1h40, foram aproximadamente umas 15 ondas, 6 das quais completei até a areia. As ondas não tinham mais que 3 a 4 pés na face, mas eram muito perfeitas e, no inside, se não possuíam volume de água suficiente para jogar seus famosos tubos, assim mesmo sugavam e disparavam, pedindo aquela agachada com a mão na parede.

Poder surfar ondas como essas sob a luz da lua cheia, só meu filho e eu na água, foi uma bênção, pela qual agradeço muito! Saímos do mar com o sol nascendo. Em questão de minutos 20 surfistas se aglomeravam no pico. Fiquei com um pouquinho de vontade de dizer, “vocês deviam ter estado aqui uma hora atrás”. Para quê? Não havia necessidade. E se eles estivessem, não teria sido o mesmo!

Acompanhe a rota pelo @panamericansoul2022.

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** Nesta seção, o Editor Especial da HARDCORE, Adrian Kojin, traz com exclusividade os diários da sua road trip “Pan-American Soul 2022”, da Califórnia até o Brasil. 

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