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Pan-American Soul 2022: Faça como os Locais

Qualquer surfista, ao chegar a um novo pico, imediatamente se depara com algumas questões fundamentais. Se for uma onda que oferece perigo, mais ainda. Por onde devo entrar? Qual o lugar certo para me posicionar na espera da série? E na hora de sair, qual a rota segura?

texto e fotos por Adrian Kojin / Editor Especial da HARDCORE 

Para nós, eu e meu filho Keone, que está me acompanhando nessa fase mexicana da jornada, não tem sido diferente. E nossa atitude tem sido a mesma em todos os picos, mesmo naqueles que já visitei antes – em 35 anos muita coisa pode ter mudado e cautela nunca é demais. O que fazemos é simples e muito efetivo. Identificamos quem são os locais e procedemos da mesma maneira que eles.

Em Pascuales, um beach break conhecido tanto pela perfeição de seus tubos, como pela violência dos mesmos, olhando da areia tudo parece muito mais fácil do que na verdade é dentro d’água. Surfar com os olhos é uma coisa, sempre estamos nos colocando no lugar certo da onda, já remar, olhar pro buraco e colocar pra baixo no côncavo exige determinação e confiança. E para aumentar as chances de ser bem sucedido, quanto maior o conhecimento da onda, melhor.

Ao me deparar com 8 pés de onda no mesmo pico em que, como conto no meu livro Alma Panamericana, quase me afoguei 3 décadas atrás, eu não tive problemas em assumir a posição de fotógrafo, seguro na areia. Sabia que ia faltar braço para a explosão necessária na remada, melhor não pagar mico. E alguém tinha que registrar a ação no mar, certo? De boa, amarelei. Nada melhor nessa hora do que ter um filho amarradão em assumir o seu lugar no outside.

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Pan-American Soul 2022 – Surfando com os príncipes

Após o longo período da pandemia sem sair do país para surfar, Keone não estava exatamente com o surfe no pé necessário para dominar uma onda como Pascuales, cascuda, temperamental e traiçoeira. Mas não faltou vontade pro moleque, que se atirou sem medo à bordo de sua Zampol 6’8” zerada, botando pra dentro de vários canudos, ainda que encontrando bastante dificuldade para encontrar a saída.

Da areia eu logo percebi quem era o melhor surfista na água. Um loirinho atarracado numa quadriquilha alaranjada fosforescente. Pegando de frente para a onda nas direitas, ele exibia muita paciência e sabedoria na escolha das ondas. Aguardava por longos períodos a entrada de um triângulo bem formado que ele previa exatamente onde e como quebraria. Dai em diante ele dava seu show, controlando a situação extrema com absoluta maestria. Drop, cavada, atrasada, desaparecia, ressurgia depois da baforada. Bonito demais testemunhar ondas sendo surfadas com tamanha combinação de performance atlética e arte. Uma atrás da outra, ele nunca falhava.

Não demorou para que Keone, lá fora, atento ao que estava acontecendo ao seu redor, também identificasse o loirinho como o cara a quem ele deveria prestar atenção. Mais que isso, ele resolveu que iria discretamente se posicionar ao lado dele. Sem atrapalhar, mas na esperança de que sobrasse uma daquelas ondas sensacionais. A estratégia acabou funcionando. Depois de duas ondas em que ficou apenas na boca do tubo, mas completou sua trajetória, Keone finalmente pegou sua melhor onda da viagem até o momento.

Keone seguindo o caminho indicado pelos locais

Justamente na hora em que eu, não aguentando mais de vontade, tinha resolvido dar uma entrada no mar, ainda que numa vala bem mais tranquila, mais à direita do pico principal. Não importa, essa eu não vi nem fotografei. Mas a alegria de Keone descrevendo como ele fez todos os ajustes requeridos e colocou de backside pra dentro de um tubão seco, “o lip caiu muito longe, sem nem encostar um pingo”, pra sair exultante, foi contagiante. Me senti pegando o tubo com ele.

+ Alma Panamericana revisitada: 35 anos depois, Adrian Kojin refaz icônica viagem

Alan Cleland Jr no tubo, observado por Keone à esquerda

Mais tarde, indagando no hotel onde ficamos, descobrimos que o loirinho se chama Alan Cleland Jr., nativo de Boca de Pascuales, filho de um renomado surfista americano com uma mexicana. Não só o melhor surfista de Pascuales, mas segundo nos disseram, o mais destacado do país em competições internacionais, atualmente disputando na Challenger Series uma vaga no WCT, a elite mundial.

Mesmo sem saber de quem se tratava, tive a intuição de manter minha lente sempre procurando Alan no outside e cliquei boas fotos dele. Para Keone a estratégia de fazer como os locais fazem não poderia ter dado mais certo. Deixamos Pascuales rumo à próxima praia com a missão cumprida. E fica aqui nosso agradecimento a Alan por ter nos mostrado o caminho com seu surfe espetacular.

 

Acompanhe a rota pelo @panamericansoul2022.

Compre aqui o livro Pan-American Soul, em edição digital, com apenas um clique. 

* Nesta seção, o Editor Especial da HARDCORE, Adrian Kojin, traz com exclusividade os diários da sua road trip “Pan-American Soul 2022”, da Califórnia até o Brasil. 

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