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Pan-American Soul 2022: Puerto Bombástico

Está difícil dormir tranquilo em Puerto Escondido. De madrugada, do quarto com janelas voltadas pro mar, escuto as bombas detonando na bancada de areia. Qual tamanho vai estar amanhã? Maior ainda? Essa é minha quarta visita a Zicatela, a praia conhecida mundialmente por seus tubos colossais, e com muita razão apelidada de MexPipe. Nas três vezes anteriores as ondas não passaram de 10 pés. Agora, batendo em 15 ou mais, é outro patamar, totalmente diferente. Dá medo só de olhar. É raso demais, oco demais, violento demais. Mas não faltam verdadeiros gladiadores do mar para entrar na arena e proporcionar um espetáculo de vida e morte à plateia sedenta de emoção acomodada na areia.

texto e fotos por Adrian Kojin / Editor Especial da HARDCORE 


O que tem acontecido nos últimos três dias é que, com a subida do mar, realmente perdi meu sono. Mas não só devido ao barulho das ondas. São elas que me acordam no meio da noite, mas a insônia que se segue tem outros motivos. Já estou há duas semanas em Puerto Escondido, uma a mais do que o previsto, devido a um grave problema mecânico na minha minivan. A transmissão automática deu pau quando estávamos, eu e meu filho Keone, que ainda segue comigo nesse trecho da viagem, a caminho de Barra de La Cruz, nossa próxima parada. Entramos na estrada e as marchas começaram a falsear. Demos meia volta e o diagnóstico do mecânico foi 5 dias para nos entregar a van com a transmissão refeita. E um montão de “pesos”.

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Imprevistos fazem parte de qualquer viagem, mas só vou me tranquilizar quando a van estiver entregue com tudo funcionando. O problema é que já fui buscar três vezes, e nada, sempre um novo problema e um gasto a mais. E o mar subindo. O que em si não seria motivo para ficar nervoso e perder o sono, até porque eu não pretendo surfar esse tamanho de onda e estou bem resolvido com isso. Mas meu filho quer, e muito.

 


Fico imaginando como deve se sentir o pai de um piloto de Fórmula 1 assistindo uma corrida. A cada volta completada pelo filho, um suspiro de alívio. Sem exagero, com o mar nas condições que estamos presenciando, cada onda é um convite a um desastre. E as histórias das lesões sérias e várias mortes já registradas aqui não ajudam em nada. Uma mais cabulosa que a outra. Ao lado da base dos salva vidas são várias as cruzes homenageando os guerreiros caídos em batalha. E meu filho não é surfista profissional, é economista.

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Nas fotos e filmagens, os tubos parecem lindos, perfeitos, até fáceis, “nesse acho que eu ia”. Sim, na imaginação. Na realidade a grande maioria fecha, obrigando que a escolha seja muito bem feita, com um conhecimento que só quem já surfou muito por essas bandas vai ter. Não é o caso do meu filho, em sua primeira passagem por Puerto Escondido. Além disso, as duas pranchas que ele trouxe para a viagem pelo México, uma 6’2”e uma 6’8”, apesar de excelentes, de jeito nenhum dão conta do recado. É preciso muito mais borda, mais comprimento, mais flutuação para entrar nas ondas antes que elas passem do vertical ao convexo e isso se torne impossível. Ainda mais com o forte terral de todas as manhãs soprando contra.


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Graças à gentileza do shaper catarinense Adriano Silveira, radicado em Puerto Escondido há mais de dois anos, Keone agora está armado com um 7’10” pintail bem mais robusta, que aumenta suas chances de pegar o tubo da vida. A previsão é para que o mar continue subindo, exigindo pranchas ainda maiores. Também mais experiência e, idealmente, um colete de segurança, como grande parte dos surfistas na água utilizam. Isso que não mencionei o crowd agressivo, onde os locais têm prioridade absoluta.

Se tudo der certo no mecânico hoje, amanhã, logo após a entrada do vento maral, que costuma ocorrer ao redor das 10h30, vamos carregar a van e partir. Foram fortes as emoções em Puerto Escondido, bombásticas mesmo. Mas eu estou precisando de algumas noites bem dormidas. Por outro lado, meu filho já está planejando sua volta a Zicatela. Ele pretende dar sequência ao aprendizado acumulado agora.

Acompanhe a rota pelo @panamericansoul2022.

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** Nesta seção, o Editor Especial da HARDCORE, Adrian Kojin, traz com exclusividade os diários da sua road trip “Pan-American Soul 2022”, da Califórnia até o Brasil. 

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