A primeira vez a gente nunca esquece: trocamos uma ideia com Lucas Chumbo sobre a sua estreia em Teahupo’o, com direito a ondulação histórica, lesões, ajuda de Jadson e Medina e muitos, muitos tubos
Por Fernando Guimarães
Lucas “Chumbo” Chianca foi para o Taiti surfar o trials da etapa da WSL e por acaso acabou pegando o maior mar do ano em Teahupo’o. Quem conhece o mais velho dos irmãos Chumbinho de Saquarema sabe que seu talento para os tubos é tão grande quanto para as ondas gigantes. Ainda assim, não deixa de ser surpreendente seu desempenho ao surfar pela primeira vez na vida a bancada mais sinistra do planeta, como ele mesmo faz questão de colocar — e se o Chumbo fala, a gente acredita.
Na triagem, uma lesão nas costas logo na primeira bateria poderia ter encurtado sua corrida, mas Chumbo foi até as quartas, e ainda perdeu por pouco para um local taitiano, Mihimana Braye, e ficou na quinta posição. Depois de aprender com Jadson André, um veterano de 10 temporadas de Teahupoo, os segredos do posicionamento e da leitura no pico, ele teve o auxílio de outro amigo, por acaso o maior competidor da atualidade na temida esquerda, Gabriel Medina, para chegar até o limite na triagem.
Isso tudo depois de se jogar, de carona no jet de Raimana van Bastolear e também na remada, no mar mais cascudo da temporada por aqueles lados.
Conversamos com Chumbo para saber um pouco mais desse encontro: um dos maiores big riders da atualidade com uma das ondas mais cabulosas do mundo — e com direito a swell gigante e histórico.
HC: Há quanto tempo você tá no Taiti? Quais são as primeiras impressões?
Chumbo: Tô aqui há 19 dias. Esse lugar é com certeza um dos melhores que eu já conheci no mundo. O Taiti me recebeu da melhor forma possível. Não só a natureza, as ondas, mas também a recepção dos locais. Foi incrível ser super bem recebido aqui, me sentir em casa, eles passarem toda a experiência e o conhecimento do pico. Isso foi muito importante pra eu me sentir bem e conseguir ir bem na onda. Minha primeira queda aqui foi num mar relativamente pequeno, 6 pés sólidos, peguei altas ondas já nesse dia, já tava de cabeça feita. Aí emendei um outro swell que eu achei que era grande, que tinha 10 a 12 pés, mas na real não era grande. Grande foi depois, com 15 a 20 pés de série, com algumas ondas mais surfáveis de 10 a 12… E a melhor onda do mundo. O tubo mais perfeito que eu já surfei na minha vida!
E como foi a sensação de ver as maiores da série do swell no sábado pela primeira vez? Diferente de qualquer outro pico?
Sem dúvida Teahupo’o é um dos picos mais sinistros que eu já fui na minha vida. Marcou minha vida, é a onda mais perfeita e mais sinistra do mundo. No dia grande do sábado, agora, foi um dos maiores swells do ano, e rolaram altas bombas de tow in. Pena que eu não tinha um jet-ski pra me puxar, mas fiz um step off de manhã com o Raimana [van Bastolear] numa onda gigantesca e foi a melhor onda da minha vida, ou uma das melhores [vídeo acima]. Logo depois eu comecei a remar e o mar tava surreal. Gigante e muito perfeito. Essa onda provou pra mim que é a melhor do mundo. É a onda número zero. Depois a gente começa a contar as outras. Essa é a melhor de todas.
E nessa sessão do sábado. Quem mais tava na remada? Quem foram os caras que te impressionaram?
Não tinha tanta gente na água no sábado. Eu cheguei de manhã e não tinha ninguém remando. O Kauli [Vaast] tava fazendo step off e eu fui fazer uma com ele. Logo depois já entrou eu, o Banji Brand e mais dois. Mesmo assim, nessa hora tava muito grande o mar e a maré tava muito seca. Tava cabuloso, muito difícil de remar. Consegui pegar umas duas ou três na remada, mas me poupei porque achei que ia rolar as triagens. Quando eu entrei de novo eram umas 8 horas da manhã, e a maré já tinha enchido um pouco, então tava mais surfável. Aí entrou eu, o Gabriel [Medina], o Jadson [André]. O Benji Brand tava quebrando… O Jack Robinson também. E a galera tava se jogando. O Gabriel com aquele controle absurdo, aquela atitude que ele tem dentro da água que é muito boa, eu indo nas maiores, querendo fazer uns tubos mais quadrados, buscando as séries mesmo, o Jadson pegando altas também… Foi um dia incrível, um dos melhores da minha vida. Pra todo mundo que tava na água foi um dia atípico, com certeza, um dia de muito tubo.
“Botei pra dentro de uma onda da série, não consegui sair do tubo, rodei com o lip e bati direto com as costas na bancada. Tô com muita dor, mas tá tudo certo”
E como que você se machucou? Foi depois do trials?
Eu me machuquei na primeira bateria da triagem. Botei pra dentro de uma onda da série, não consegui sair do tubo, rodei com o lip e bati direto com as costas na bancada. To com muita dor, mas tá tudo certo. Vou chegar no Brasil e fazer uma radiografia, mas acho que não é nada grave. E hoje já tá bem melhor que ontem, ontem doeu muito. Eu competi as outras baterias com dor mesmo, mas tava tudo ok, tava me sentindo seguro.
“Eu agradeço demais ao Jadson e a ele [Medina], que me ensinaram a surfar aqui”
Teve alguém que se deu muito mal?
Rolou uns vacões mas poucos feridos. Só o Raimana que se cortou bastante no coral naquela onda gigante dele, que acho que foi a maior do swell.
Deu pra ver que o Gabriel tava ali no canal falando contigo uma hora na triagem. Ele tava te orientando? O que que ele falava?
Nos primeiros dias, que eu tava treinando, ainda conhecendo o pico, eu tive o apoio do Jadson e foi muito importante. É um cara que me ensinou muito, me posicionou, fez toda a leitura do mar, do pico comigo. E quando o Gabe chegou, aí ficou sólido. A gente pegou altas ondas juntos, e ficou trocando experiências ali, de tudo que eu já tinha visto. Na triagem ele ficou o dia inteiro de caddy pra mim dentro da água. Isso foi essencial pra eu vencer as baterias, porque a visão que ele tem do pico e o controle, a estratégia de bateria, é tudo muito perfeito. Foi uma honra ter ele ali, pena que eu não consegui passar das quartas. Mas se tivesse escutado full time, eu tinha passado [risos]. É aprendizado. Foi bom pra caramba, eu agradeço demais ao Jadson e a ele, que me ensinaram a surfar aqui e me deixaram pronto pra fazer a performance que eu fiz no sábado.
E agora que vc sai daí. O que tem de plano já definido pro restante do ano? E pelo visto já vai sair ansioso pra voltar né?
Saindo daqui vou voltar pro Brasil, treinar bastante e ficar pronto pra temporada que tá chegando aí. Setembro é mês de treino total, foco total, pra em outubro estar 100% e ir pra Nazaré com tudo e ir atrás dos swells. Dos maiores e os melhores. E to super ansioso pra começar esse Big Wave Tour aí, né. Ano passado fui terceiro. Subi de quinto pra terceiro. Esse é meu terceiro ano, vamos ver esse ano o que que vai dar. O foco é total pra ser campeão mundial, mas vamos passo a passo. Dia a dia.
Veja também:
– Grupo australiano anuncia maior onda artificial já feita para o surf
– Wesley Santos denuncia caso de racismo em Huntington Beach