Biarritz era apenas um pequeno vilarejo de pescadores, quando o poeta Victor Hugo descobriu seus encantos em 1843. O autor de Os Miseráveis escreveu sobre o lugar e até revelou um certo temor de que o pacato povoado basco se convertesse em um local da moda.
Passada pouco mais de uma década da visita de Victor Hugo, o imperador Napoleão III iniciou a construção de sua residência de verão em Biarritz, um palácio para sua mulher desfrutar da beleza da paisagem e do clima. A partir daí, a cidade tornou-se um destino da nobreza europeia, dos famosos e turistas do mundo inteiro.
Nos anos 60, os surfistas e suas pranchas já faziam parte da bela paisagem de Biarritz.
A descoberta das ondas se deu um século depois da popularidade que se formou em torno de Biarritz. Em 1956, o produtor de cinema Richard Zanuck e o roteirista Peter Viertel chegaram a Biarritz para filmar The Sun Also Rises, uma adaptação baseada no romance de Ernest Hemingway. Richard Zanuck era um surfista apaixonado e levou sua prancha de surf, porém ele partiu mais cedo de volta para Califórnia e deixou-a com Peter. Numa de suas primeiras experiências no mar, Peter acabou se desequilibrando e a prancha chocou-se contra as rochas. Um morador de Biarritz, Georges Hennebutte se ofereceu para consertar a tábua e uma amizade se formou entre eles.
No verão do ano seguinte, Peter Viertel regressaria à Biarritz com outras três pranchas. Ele se reuniu com o cientista Joël de Rosnay, de férias no balneário francês, e seus dois companheiros de Biarritz: Georges Hennebutte e Jack Rott. Os quatro pioneiros marcaram oficialmente o surf na região e atraíram outros jovens, entre eles André Plumcoq, Robert Bergeruc, Pierre Laharrague, Joseph e Jo Moraïz e Bruno Reinhardt. Eles tornaram-se conhecidos pelas gerações posteriores como os Surfistas de Tontons (Tontons Surfers).
No começo dos anos 60 Biarritz já contava com uma produção local de pranchas de surf.
Em 1959, esses precursores do surf, ao lado de Michel Barland e Carlos Dogny, criaram o Waikiki Surf Club, passando a reunir todos os surfistas da região. A comunidade de surfistas crescia e novas pranchas chegavam da Califórnia. Atentos a oportunidade, Jack Rott e Michel Barland, resolveram se unir na produção das primeiras pranchas de surf francesas. Juntos criaram a marca Barland-Rott. O pioneirismo e a qualidade dos produtos levaram a primeira fabricante francesa ao sucesso.
O Waikiki Surf Club passou a organizar competições em toda a costa basca em âmbito nacional, continental e internacional. Entre as décadas de 1960 e 1970 o surf em Biarritz virou uma atração e a cidade assumiu uma identidade voltada para a cultura de praia.
Em 1964, Joel de Rosnay criou o Surf Club de France, que existe até hoje. Convidado duas vezes para os Campeonatos Mundiais de Surf na Austrália e no Peru, apresentou a Costa Basca aos surfistas internacionais. O espírito dos surfistas dos anos 1970 perdurou, principalmente pelo desejo de preservar o oceano e as praias, uma das expressões da contracultura da época.
Apesar do crescimento, o surf somente se profissionalizaria na França no final da década de 1980. O ano de 1987 ficou marcado pela organização da primeira competição profissional: o Rip Curl Pro. Essa competição anual acabou substituída pelo Quiksilver Pro na França em 2002.
O esporte tornou-se uma atividade emblemática na região. É transmitido dos pais aos filhos e muitas escolas ao longo da costa Basca-Landais oferecem aulas de surf.
O torneio de surf nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 foi disputado em um território ultramarino francês. O Taiti tornou-se uma colônia francesa em 1880 e, 66 anos depois (1946), era declarado um território autônomo. É a maior ilha de um dos arquipélagos que compõem a Polinésia Francesa. As competições ocorrem na vila de Teahupo’o, conhecida por suas ondas perfeitas e desafiadoras.
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Coordenador de pesquisas históricas do Surfe @diniziozzi – o Pardhal