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Gabaldón, o primeiro surfista afro-americano

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Apesar da sua morte prematura, o surfista progressista ajudou a estabelecer as bases para as futuras gerações de surfistas com diversidade racial.

Nicolás Rolando Gabaldón nasceu em 23 de fevereiro de 1927, em Los Angeles, Califórnia. Filho de mãe afrodescendente e de pai latino, Gabáldon conviveu num período de forte segregação racial nos Estados Unidos.

Foi na cidade litorânea de Santa Mônica que Gabaldón passou a maior parte da sua vida. Na década de 1940 brancos e pretos eram separados na areia da praia. A área destinada à comunidade negra era conhecida como “Inkwell Beach” e foi lá, naquela minúscula faixa de 60 metros de praia, que Nick Gabaldón aprendeu sozinho a surfar, tornando-se assim o primeiro surfista afro-americano da história oficial.

Aos poucos, Gabaldón passou a extrapolar os limites da intolerância humana ao remar de braçadas por 19 quilômetros até a vizinha Malibu, naquela época, o centro irradiador do surf nas Américas. Naquele espaço onde a cultura livre do surf se disseminava, Gabaldón era aceito e respeitado pelos surfistas. Entre eles, estava Rick Grigg, um jovem surfista que admirava o estilo e a coragem de Gabaldón.

No fatídico dia 5 de junho de 1951, Gabaldón remou aquelas 12 milhas para sair da vida e entrar para a história. Um forte swell chegou à Costa Oeste americana e Gabaldón decidiu sufar aquela mítica direita do condado de Los Angeles.

Depois de pegar uma onda grande e longa, Gabaldón avançou sobre o Pier de Malibu. Sua prancha foi encontrada imediatamente, mas seu corpo só apareceu dias depois na vizinha Praia de Las Flores. O legista atestou morte por afogamento. Ele tinha apenas 24 anos.

Seis dias antes da sua morte, Gabaldón tinha enviado um poema chamado “Lost Lives” para a revista literária do Santa Mônica City College, onde era estudante na época. O poema incluía os seguintes versos:

O mar vingativo, com ondas tão altas

Para os homens batalharem e ainda morrerem.

Muitos já foram para as entranhas;

Sem consideração, ele concede

Seus louros a homens incautos.

Pontuações e pontuações tornaram-se presas da animosidade;

E muitas mais serão vítimas

Do mar caprichoso e vingativo.

Uma placa na praia de Santa Mônica com os dizeres “Um lugar de festa e dor” foi erguida em sua homenagem. O espaço passou a ser simbólico para a comunidade negra. Alguns anos depois, a cidade de Santa Mônica e a Heal the Bay, uma organização sem fins lucrativos, homenagearam Gabaldón por seu pioneirismo no surfe e nas relações raciais, instituindo um fim de semana comemorativo que é lembrado todos os anos na data de sua morte.

A história de Gabaldón inspirou a produção do documentário “12 Miles North: The Nick Gabaldon Story” em parceria com a Nike Surfing. Apesar da sua morte prematura, o surfista progressista Nick Gabaldón ajudou a estabelecer as bases para as futuras gerações de surfistas com diversidade racial.

+Temos que fortalecer a presença preta no Brasil país do surf

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Coordenador de pesquisas históricas do Surfe @diniziozzi – o Pardhal



Gabriel Davi Pierin
Gabriel Davi Pierin
Gabriel Davi Pierin é formado em História pela Universidade Católica de Santos, pós-graduado em Ciências Humanas e em Direitos Humanos pela PUC/RS e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santos. Professor de História e historiador do Museu do Surfe e do Santos Futebol Clube, Gabriel é colunista do Jornal A Tribuna de Santos e contribui para outros sites e blogs como Rico Surf, Waves e Rumo ao Mar. Autor de livros de sucesso, sua obra de maior impacto é Uma Estrela na Escuridão, a história de Andor Stern, o único brasileiro sobrevivente do Holocausto. Multifuncional, uma das ocupações que Gabriel exerce com maior prazer é dentro d'água com seu bodyboard.

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