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Pan-American Soul 2022: Felicidade alheia

Surfei ondas incríveis na minha passagem por Pavones, a lendária esquerda localizada no extremo sul da Costa Rica. Foram 7 dias com condições de sonho, como fazia muito tempo eu não experimentava. E posso dizer seguramente que foram dias de muita felicidade. Não somente pela minha realização pessoal, mas principalmente por ter podido proporcionar uma experiência mágica a um novo amigo. Sua alegria foi tão genuína e contagiante que senti como se fosse eu quem tivesse acabado de surfar “a melhor onda da minha vida”.

Texto e fotos Adrian Kojin / Editor Especial da HARDCORE


Para explicar o que aconteceu tenho que retroceder um pouco na viagem, para o período em que me hospedei no Miramar Surf Camp, em Puerto Sandino, na Nicarágua. Foi lá que conheci 4 surfistas canadenses, entre eles o Kevin. Ou Captain Kevin, como eu passei a chamá-lo quando fiquei sabendo que ele comanda um barco de busca e resgate da Guarda Costeira Canadense, em Port Renfrew, na ilha de Vancouver.

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Depois de surfarmos ondas divertidas e dropar juntos a encosta do Vulcão Cerro Negro (ver coluna anterior), os canadenses partiram de volta pra casa, exceto Kevin, que prosseguiu na mesma direção que eu, rumo sul, adentrando a Costa Rica. Mas fomos separados, ainda que deixando meio que combinado um encontro para o Kevin pegar uma carona a Pavones comigo.

Como adiantei minha ida a Pavones, devido à previsão de um swell a caminho que resolveu acelerar sua chegada, quase que o Kevin desiste de ir. Ficou tentado a permanecer em Santa Teresa, onde estava confortavelmente hospedado com amigos. Dei a dica, falando que uma onda igual a Pavones não se deixa passar a chance de surfar. Ele falou que iria pensar e entrava em contato no dia seguinte.

 

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Acabou tomando a decisão certa. Recolhi ele em Playa Hermosa, onde chegou de Santa Teresa numa lancha rápida e tocamos para Pavones. O acordo foi que eu bancava o transporte e ele a hospedagem. A casa onde ficaríamos já estava reservada, vizinha de um grande amigo brasileiro residente em Pavones, o lendário Antônio Brito.

Recepcionados de braços abertos por Brito, nossa aportada em Pavones não poderia ter sido melhor. Captain Kevin logo percebeu que meu amigo, e agora dele também, é uma pessoa especial, possuidora de uma sabedoria única, que ele está sempre disposto a dividir com quem se interessar. Conviver com Brito é um aprendizado constante na arte de viver bem.

Além disso, ele tem um quiver de pranchas repleto de foguetes, que ele logo disponibiliza para os amigos. Em nosso segundo dia de surfe, Brito percebeu que faltava comprimento nas pranchas do canadense, e assim destinou uma Al Merrick Black Beauty 7’0”, na medida exata para a missão a ser cumprida.

 

 

As fotos que acompanham a coluna dão ideia das ondas que pegamos, mas ainda assim não chegam nem perto de mostrar o que realmente vivenciamos. Como o tempo estava nublado e/ou chovendo na maioria dos dias, produzir boas imagens ficou complicado. Mais ainda por ser muito difícil de sair da água com ondas tão incríveis para ficar fotografando/filmando da areia.

 

Não bastasse termos sido presenteados com um par de ondulações seguidas já fora da temporada, e que foram apontadas pelos locais como entre as melhores do ano, ainda tivemos a sorte extra do crowd estar até ameno. Isso num pico conhecido pela eventual lotação absurda na água. Com todo esse pacote perfeito, seria muito natural que eu dissesse que fiquei feliz demais com as ondas que surfei. Até por ser verdade. Mas minha maior alegria foi o momento em que eu e o Brito encontramos o Kevin na praia voltando do surfe.

 

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O Brito estava indo testar minha Gerry Lopez 8 pés, depois de eu usar a Pat Rawson 9 pés dele, e eu filmando, quando o Kevin veio com a Black Beauty emprestada debaixo do braço e o maior sorriso que alguém pode imaginar estampado no meio da cara. Ele foi direto e reto, “acabei de surfar a melhor onda da minha vida”, e passou a descrever como tinha dropado uma massa d’água duas vezes a altura dele no point acima do rio, e conseguido passar todas as sessões a milhão por hora, até alcançar o final da baía e sair na praia bem em frente aos barcos de pesca estacionados na areia. Com certeza mais de um quilômetro longe de onde tinha iniciado a onda, e como ele mesmo disse, com as pernas doendo de tanto tempo em pé na prancha fazendo força.

Muitas vezes nos referimos a como uma pessoa teve um comportamento tão lamentável em nossa presença que ficamos com a chamada “vergonha alheia”. É aquele momento em que sentimos vergonha pelo próximo. Ali com o Kevin foi exatamente o oposto. O que eu senti, e sei que o Brito também, foi felicidade pelo Kevin. Que bacana poder testemunhar sua enorme vibração, exultante como ele ficou com seu feito. Muito bom também poder ter colaborado para que aquele momento tivesse acontecido. Vou ficar para sempre com o sorriso e as palavras de Kevin gravados na memória.

Acompanhe a rota pelo @panamericansoul2022.

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** Nesta seção, o Editor Especial da HARDCORE, Adrian Kojin, traz com exclusividade os diários da sua road trip “Pan-American Soul 2022”, da Califórnia até o Brasil. 

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