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Pan-American Soul 2022: Dropando o vulcão

numa viagem de surfe, não troco um dia com boas ondas por nada. Minha primeira opção vai ser sempre o oceano. Mas quando o mar dá aquela abaixada, costumo sair buscando o que fazer para aproveitar ao máximo a oportunidade de conhecer novos lugares e atividades. Já estava no meu radar experimentar o Surfe no Vulcão quando chegasse à Nicarágua, mas ainda não havia pesquisado a fundo onde e como fazer. Só havia escutado um zum zum zum a respeito, sem possuir noção do que realmente me esperava. Vou adiantar aqui que peguei leve, e mesmo assim sai com o coração na boca. Pra quem curte aquela descarga de adrenalina sentida na hora de botar pra baixo numa morra, pode acreditar que esse drop tem potencial pra entregar a dose máxima.

 

Texto e fotos Adrian Kojin / Editor Especial da HARDCORE


Basta dizer que o recorde mundial de velocidade na descida do Vulcão Cerro Negro é de 172 km/h, do francês Eric Barone, numa bike customizada, registrado em 2002. Feito que quase custou ao “Barão Vermelho”, como ele também é conhecido, sua vida.
Não fosse pelo capacete, que acabou voando longe após o choque inicial, ele não estaria mais entre nós. O impacto que destruiu sua bike arremessou Eric a mais de 30 metros de distância, fazendo com que ele fraturasse costelas e rompesse ligamentos, entre várias outras lesões que o deixaram de molho num hospital de León por mais de três meses.

 

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Ainda bem que o “Volcano Boarding” (ou “Surfing”), como diz o nome, não é feito em bicicleta, mas numa “prancha” de compensado de madeira com fundo de metal. Isso reduz a velocidade substancialmente, pois a área em atrito com as cinzas e pedras vulcânicas é muito maior. O que fez com que o recorde nessas pranchas seja substancialmente inferior ao do maluco francês: somente 86 km/h, conquistado por uma mulher. Somente?! Tá de gozação achando que isso é pouco, né?! Pode ficar tranquilo, a maioria das pessoas não passa dos 40 km/h e sai bem satisfeito mesmo descendo com o pé no breque. Ou melhor, com o pé na encosta do vulcão, pois o processo de frenagem é bem bruto mesmo. Pressione o tênis ou bota contra a superfície para diminuir a velocidade, deixe apenas acima para disparar montanha abaixo. Sandálias nem pensar.

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Para subir são gastos de 45 minutos a uma hora, para descer, menos de dois minutos. O Cerro Negro tem 728 metros de altura e é um dos vulcões mais ativos da Nicarágua. Além das crateras expelindo fumaça sem parar, basta dar uma cavocadinha com a mão para sentir o calor subterrâneo. Sua última erupção ocorreu em 1999 e, de acordo com a crendice local, e o lero-lero do guia, o intervalo entre cada uma das grandes explosões costuma ser de 20 anos. O que nos colocou numa situação de risco ainda maior, pois o prazo já está expirado há três anos.

 

A prancha e o vulcão.


Depois, conferindo na internet, vi que foram “aproximadamente 23 erupções” desde o seu surgimento. A primeira vez foi em 1850, o que faz do Cerro Negro o vulcão mais jovem da América Central. Mais recentemente, em 1947, 48, 50, 54, 68, 69, 92, 95 e 99, a terra cuspiu lava. E se alguém estivesse lá no alto brincando de surfar o vulcão, muito provavelmente teria virado churrasco ou sido ejetado para bem longe. O que faz com que o maior perigo para os surfistas que se aventuram nas suas encostas não seja a eventual perda de controle da prancha e consequente rolada morro abaixo, mas sim estar no lugar errado na hora errada. Ou seja, coincidir sua sessão de surfe vulcânico com uma explosão do mesmo. Isso ainda não aconteceu pois o surfe no Cerro Negro é uma prática relativamente nova, tendo sido inaugurada por um australiano em 2006.

 

Tá pensando duas vezes em dropar o vulcão? Normal, é bom pensar mesmo, até para evitar chegar lá em cima e, ao perceber a verticalidade da parada, decidir tardiamente que não está mais afim. Acontece, e não é vergonha reconhecer seus limites. Mas fica mais fácil se isso for feito lá embaixo, pois a subidinha carregando a prancha nas costas não é moleza. Pelo menos a nossa não foi, já que o grupo que nos precedeu contava com carregadores contratados para essa finalidade.

Fui acompanhado de dois brasileiros e quatro canadenses, todos hospedados no Miramar Surf Camp, em Puerto Sandino, como eu. Turma bacana, divertida e disposta. O que é fundamental nesse tipo de empreitada. Como muitas vezes acontece no mar, basta um chato no line up para estragar uma bela sessão de surfe. Depois de um rolê em León, maior cidade vizinha ao Cerro Negro, pegamos uma estradinha de terra que nos levou até o Parque Nacional onde o vulcão está localizado. Antes de entrar no mar, quer dizer, na trilha encosta acima, o guia deu explicações básicas de como controlar a prancha de madeira.

 


A caminhada é puxada, mas vale cada passo. A paisagem é surpreendente, diferente de tudo que eu já vi em muitas andanças por aí. Não é todo dia que nos sentimos parte de uma expedição da National Geographic Society desbravando crateras fumegantes, numa montanha negra que pode explodir a qualquer momento. E quanto mais alto, mais amplas as vistas deslumbrantes que cercam o vulcão.

 


Vencido o inclinado aclive, é hora de se paramentar, com macacões de jeans grosso sobre a roupa, luvas, lenços cobrindo a face, e óculos protetores, garantindo a segurança dos olhos e visualização da direção a ser seguida. Mais uma breve explicação do guia e um a um os participantes do grupo vão sendo despachados por ele. Um sinal da cruz precede o empurrão final. Daí em diante a gravidade da situação vai depender da disposição e habilidade de cada surfista no controle da prancha. Tem quem dispare sobre, e tem quem atole na camada de cinza e pedras vulcânicas.

 

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Fiz um pouco dos dois, mais para atolado do que disparado. Peguei o gostinho, mas achei que uma onda só foi pouco. Deu vontade de remar pro outside de novo. Só que já estava escurecendo, uma tempestade se aproximava e o guia nos direcionou de volta para a van. Nem as fotos mais de perto pude tirar. Nosso guia não contava com o radar manual para medir a velocidade, mas arrisco dizer que no outro grupo que dividia o vulcão com a gente estavam os melhores surfistas. Enquanto acompanhei o guia vizinho fazendo a medição, um deles chegou a 60 km/h. Boto uma fé que num segundo drop minha performance iria melhorar muito. Mas vai ter que ser na próxima vez que eu estiver na Nicarágua e o mar ficar flat.

Acompanhe a rota pelo @panamericansoul2022.

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** Nesta seção, o Editor Especial da HARDCORE, Adrian Kojin, traz com exclusividade os diários da sua road trip “Pan-American Soul 2022”, da Califórnia até o Brasil. 

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