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Voto em Moanalani Jones Wong para surfista do ano

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Com sua vitória no Vans Pipe Master, a diminuta surfista havaiana, grandiosamente apelidada de rainha de Pipeline, está liderando uma revolução

Na verdade, ninguém me perguntou. Mas se eu pudesse dar meu humilde palpite de quem merece ser apontado como surfista do ano, incluindo homens e mulheres na mesma categoria, meu voto iria, sem dúvida alguma, para Moanalani Jones Wong. Sua conquista do título do Pipe Masters pela segunda vez, coroou uma trajetória que venho acompanhando com bastante interesse já há um tempo.

Para vencer na final a penta campeã mundial e medalhista de ouro nas Olimpíadas, e também nascida no Havaí, Carissa Moore, a australiana Molly Picklum, 5º colocada no ranking da WSL 2023, e a texana Erin Brooks, apontada como a garota prodígio da nova geração do surf mundial, Moana fez o que sabe fazer melhor, entubar fundo e com muito estilo. Muito provavelmente em qualquer outro pico ela teria uma grande dificuldade para superar qualquer uma de suas três adversárias na bateria decisiva, mas não é à toa que ela é considerada a Rainha de Pipeline.

Moanalani Jones Wong
Moana Jones em seu elemento preferido, a caminho de seu segundo título do Pipe Masters. Foto: Jesse Jennings

No seu pico, que surfa desde os 12 anos de idade – ela tem 24 anos agora – Moana é praticamente imbatível. Principalmente se for num dia em que Pipeline estiver quebrando como deve ser, disparando seus tubos mortais para a esquerda, sobre a rasa e impiedosa bancada de coral. Como aconteceu durante as duas baterias que ela disputou no dia decisivo do evento para chegar à vitória, que coincidiram justamente com a melhor hora do mar.

Poucos dos homens convidados para o evento, supostamente especialistas na onda, pegaram tubos tão bons quanto os dela durante toda a competição. Pode-se dizer que a grande maioria teria inclusive sido derrotada por ela, se o campeonato fosse unificado. Moana surfou com tanta graça e finesse que algumas das suas notas pareceram abaixo do que realmente deveriam ter sido.

Para entender o quanto a performance de Moana Jones foi marcante no Vans Pipe Masters basta constatar que ela é o principal destaque do vídeo de melhores momentos do evento:

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O que a coloca num panteão seleto, daqueles surfistas que fazem o difícil parecer fácil, com era o caso do saudoso campeão mundial havaiano, Derek Ho, a maior inspiração na maneira de surfar de Moana: “Eu surfava em Pipeline com o tio Derek todos os dias, quando estava ruim e quando estava bom, e às vezes, quando estava ruim, éramos as únicas duas pessoas lá fora. Ele era meu surfista favorito e aprendi muito.”

Extremamente humilde, Moana em nenhum momento se declara corajosa, muito pelo contrário, se diz apavorada cada vez que entra em Pipeline. Como Derek Ho, ela é baixinha, não chega a 1,60 m de altura, mas sua atitude, quando vira e rema pra botar pra baixo sem vacilar, é de um gigante destemido. Observando com atenção é possível notar que Moana quase sempre está sorrindo dentro de tubos que costumam deixar alguns dos melhores surfistas do mundo com cara de: cadê minha mãe?

As performances de Moana em Pipeline fizeram com que cada vez mais surfistas mulheres passassem a acreditar nelas mesmas, elevando o nível do surf feminino no pico a níveis até pouco tempo não imagináveis. Vítimas de uma postura claramente machista dos organizadores de campeonatos, as mulheres tiveram seu direito de competir em Pipeline negado por anos a fio. Como elas poderiam evoluir se os homens partiam do princípio de que Pipeline não era uma onda para meninas?

Onda histórica de Moana no Pipe Masters de 2022:

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Não que outras mulheres não tenham surfado Pipeline com propriedade antes de Moana, mas igual a ela ainda não havia surgido nenhuma. Como disse Jamie O’Brien, um dos maiores nomes na onda mais temida do mundo, “ela é a melhor surfista feminina de Pipe em todos os tempos”.

A parte mais legal disso tudo é que Moana nunca sonhou em ser surfista profissional, tanto que nem se considera uma. Quando adolescente, ela chegou a competir com alguma frequência, mas parou ao decidir estudar na Universidade do Havaí. Em 2021, se formou originalmente em biologia, mas na sequência optou por um curso que iria mudar sua vida, “Introdução à Saúde e Cura Nativa Havaiana e Indígena”, que explora práticas de saúde e cura dos povos indígenas da ilha a partir de perspectivas históricas, econômicas, comunitárias, clínicas e políticas.

Como parte de seu requisito de graduação, Jones Wong apresentou recentemente seu projeto sênior intitulado “Surf: mais que um esporte”. Surfar, ela declarou, a curou de muitas coisas. Moana é uma autêntica Kanaka, como são chamados os havaianos que carregam surf polinésio em suas veias. “Surf é minha paixão. Sinto-me tão ligada à minha cultura, aos meus antepassados ​​e ao oceano quando estou lá fora. O surf me deu minha identidade. Isso me fortaleceu. Nos meus momentos mais difíceis encontrei paz no oceano.

Adrian Kojin
Adrian Kojin
Por duas vezes cruzou as Américas por terra, da Califórnia ao Brasil. Em 1987, pilotando uma moto, aventura narrada no livro Alma Panamericana, e 35 anos depois, a bordo de uma minivan. Fez parte da equipe da Fluir por quase duas décadas, 10 anos como diretor de redação. Editou também o The Surfer's Journal Brasil e colaborou com as extintas revistas Surfer e Surfing e foi editor para o Brasil do Surfline.com. Traduziu as biografias dos campeões mundiais Kelly Slater, Mick Fanning e Shaun Tomson, além de editar os livros Arpoador Surf Club e Pororoca – a onda da Amazônia, entre outros. Atualmente é diretor editorial da Hardcore e prepara o documentário sobre sua mais recente expedição @panamericansoul2022.

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