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Surfista e maconha? Descubra os amplos benefícios da erva

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urfista e maconha. Não sabemos qual dos dois, historicamente, são mais alvo de estereótipos e preconceitos. O surf, recém-olímpico, é cool no Brasil e no mundo, e a maconha é legalizada em pelo menos 22 países. Aqui no país, no entanto, a ganja ainda é tabu para muitos, mesmo que seus amplos benefícios já sejam comprovados cientificamente e o seu uso seja feito há séculos, até mesmo religiosamente. Como medicina, é reconhecida no Brasil e a cada dia surgem novas fontes de médicos prescritores; também faz anos que associações se comprometem em conseguir medicamentos para centenas de pessoas. Tudo isso sob o pano de uma política ainda proibicionista, mas você sabia, por exemplo, que 6,9 milhões de brasileiros estão aptos e poderiam ser beneficiados pelo consumo da cannabis?

Enfim, a revolução canabinoide chegou, e a seguir você descobre como a maconha pode ser utilizada para a boa saúde.

texto Alexandra Iarussi

IMAGINE ESTA SITUAÇÃO: surfar a onda de Pipeline gigante, depois pegar um voo até a ilha de Maui para uma sessão de tow-in em Pe’ahi (mais conhecida como Jaws), voltar para o North Shore de Oahu naquela mesma noite e surfar no Banzai Pipeline novamente na manhã seguinte. “Meu corpo está abatido”, diz o surfista profissional havaiano Nathan Florence, 28, em um episódio do seu vlog.

“Meus dorsais estão superdoloridos, meus bíceps também, sigo tenso por conta das bombas em Pe’ahi, mas Pipeline tem ondas épicas, então vamos pegar alguns tubos”, confessa. Nathan Florence veste sua roupa de borracha e leva uma pipeta de óleo CBD aos lábios secos e rachados, liberando algumas gotas sob a língua. “Dois conta-gotas cheios”, diz ele, “espero que reduzam a inflamação de viajar e surfar Pe’ahi e de estar sempre testando os limites.”

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Nos últimos anos, Nathan Florence e muitos de seus companheiros surfistas, bem como centenas de atletas de alta performance de outros esportes pelo mundo, passaram a confiar nos fitocanabinoides da maconha como complemento vital para suas extenuantes rotinas.

É comprovada a atuação benéfica dos fitocanabinoides para combater estresse físico e mental resultantes das múltiplas situações encaradas por atletas profissionais, mas os amadores também estão sentindo os bons efeitos da cannabis e, em linhas gerais, qualquer pessoa pode ter ganhos de qualidade de vida graças aos fitocanabinoides dessa planta milenar, que já é apontada como central para a medicina do nosso século.

Conversamos com especialistas e mergulhamos nesse universo de imensas possibilidades para que você entenda mais sobre como os canabinoides devem impactar a saúde e a performance esportiva daqui em diante.

O SISTEMA ENDOCANABINOIDE

“No meu conceito de pesquisadora, quem mais se beneficia da cannabis é o ser humano comum – o saudável, claro. Mas quem apresenta crises agudas ou crônicas pode usar o medicamento para sempre”, conta a dra. Sandra Freitas, que tem um extenso currículo em diversas áreas da saúde: engenheira química, especialista em medicina integrativa e suas bases em saúde, fitoterapia com plantas medicinais, farmácia viva e gastronomia funcional, psicanalista clínica, CEO do Laboratório de Diálogos, consultora executiva e diretora científica do Instituto de Pesquisa e Educação CEC, o Centro de Excelência Canabinoide.

Sandra explica que estamos constantemente buscando uma autorregulação, seja quando nos estressamos demais ou deprimimos muito. A homeostase, como é chamada essa busca constante, é uma condição contínua, como um pêndulo, que ajusta as coisas todas nos momentos em que somos desafiados. Segundo ela, é impossível falar de equilíbrio do organismo ignorando o sistema endocanabinoide, que é o sistema central do corpo humano (presente também em outros mamíferos), o grande “maestro” que nos conecta com as centenas de fitocanabinoides presentes na planta.

“O sistema endocanabinoide faz parte do metabolismo relacionado às inúmeras funções fisiológicas, e é por isso que ele tem tantas aplicações médicas, porque de fato se encontra em uma espécie de encruzilhada metabólica entre diferentes processos, com efeitos em resposta imune, apetite, sono, ansiedade, emoção, dor, locomoção, funções cardiovascular e respiratória, pressão intraocular, inflamação, reprodução, sexo, remodelagem de circuitos neurais, formação de novas memórias, extinção de memórias traumáticas, neuroproteção, neurogênese, coordenação motora, percepção, fluxo de pensamentos, criatividade, motivação etc. Na verdade, é muito difícil apontar um único aspecto da cognição humana, da vida mental humana e mesmo da saúde que não esteja relacionado ao sistema endocanabinoide”, detalha o neurocientista Sidarta Ribeiro, na primeira aula do V Curso de Cannabis Medicinal, o MovRecam, realizado em parceria com a Unifesp.

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Simplificadamente, o sistema endocanabinoide está espalhado pelo corpo inteiro, com receptores CB1 e CB2. E os fitocanabinoides se conectam a esses receptores, promovendo a regulação de todos os outros sistemas do organismo. “Os compostos endocanabinoides atuam junto a nós para sustentar a homeostase – uma ação necessária a toda espécie humana”, explica Sandra, “portanto vejo a cannabis como um recurso regulador da vida, que posso usar como corretivo para determinadas síndromes refratárias.”

Foto: Shutterstock.

EFEITO ENTOURAGE

Central para que se entenda o sistema endocanabinoide, o efeito entourage, ou efeito de comitiva, é o resultado da interação dos terpenos, fitocanabinoides e canaflavinas da cannabis. Quando entram no corpo humano, promovem uma sinergia conhecida por proporcionar melhores propriedades medicinais e terapêuticas, em comparação ao consumo isolado dos princípios ativos. A expressão, cunhada pelo pesquisador israelense Shimmon Ben-Shabat, nasceu do fenômeno descoberto por Raphael Mechoulam, em 1998.

Os produtos que oferecem o efeito de comitiva são chamados de full-spectrum, reunindo todos os componentes da cannabis em diferentes graus de concentração. Há também os produtos broad-spectrum, um óleo de CBD que traz fitocanabinoides e terpenos, que contribuem para o efeito de comitiva. Os mais comuns são os óleos de CBD isolados, que carregam uma ampla gama de propriedades medicinais e não têm qualquer efeito psicotrópico.

De acordo com a Kaya Mind, especializada em transformar informações e dados em insights e análises para o setor da cannabis, cânhamo e seus periféricos, pacientes já têm reportado que os produtos que entregam essa sinergia são mais eficazes do que os isolados, que apresentam uma diminuição na concentração natural das substâncias.

Kassia Surf x September the Line — Sarah Lee Photo
Surfista e maconha? A longboarder Kassia Meador descobriu o CBD pela primeira vez quando procurava maneiras de tratar sua mãe, que sofria de esclerose múltipla.

DESCUBRA SUA MEDICINA

Surfista ou não, todos podemos nos beneficiar da maconha, desde que haja clareza sobre qual é a molécula química que melhor se conecta aos nossos receptores. “Se ela não se encaixar, nosso corpo é sábio e reage, deslocando seu exército para atacar, e aí você ficará desprotegido em outro cenário e perderá energia. Ou seja, algo que seria tão bom para o seu corpo vai apenas te estressar”, explica Sandra.

Por isso que os médicos insistem: é imprescindível que as pessoas se eduquem, se conheçam e sejam acompanhadas por profissionais competentes e bem-informados sobre a cannabis. Essa também é a razão pela qual muitos entusiastas da maconha e especialistas da saúde falem sobre o uso da cannabis dentro de uma abordagem integrativa, sempre focada na individualidade.

“Se o atleta tiver acompanhamento e cuidar de toda integratividade da medicina, ele terá resultados; não um resultado que irá melhorar seu desempenho por conta de algum composto químico, mas, sim, o sistema endocanabinoide dele que, se estiver saudável, irá gerar mais saúde”, pontua Marcelo De Vita Grecco, que participou do processo de criação e desenvolvimento das startups The Green Hub, CEC e ANELLA (um software de gestão que oferece sugestão de posologias e melhores práticas para o uso terapêutico da erva), exerceu função de CEO do Centro de Excelência Canabinoide e atualmente atua como palestrante, sendo referência quando o assunto é o mercado da indústria da cannabis. Foi por causa das suas experiências prescrevendo tratamentos na The Green Hub que ele chegou à ideia do olhar integrativo para potencializar os benefícios da planta.

“Dizem que o CBD, para quem está com um coágulo, por exemplo, não é legal. Você precisa ter um entendimento muito bom para fazer o tratamento certo com o produto certo, com alimentação e exercício e os exames corretos para que seja um tratamento bem-sucedido. É assim que trabalhamos e é com essa seriedade que gostaríamos que todos os médicos trabalhassem para a expansão da medicina canabinoide. É a medicina do futuro, que olha o paciente de igual para igual; lhe outorga o controle da sua vida com resultados de saúde”, diz Marcelo.

Para Marcelo, a era canábica resulta no adeus à velha medicina, à chamada indústria 1.0, da vida sedentária, com alimentos que nos fazem adoecer e tratamentos que enriquecem uma indústria pouco preocupada com a qualidade de vida. “Com os fitocanabinoides entramos na indústria da saúde: regular o sistema endocanabinoide para ter homeostase e trabalhar de forma integrativa para promover saúde o tempo todo”, afirma o especialista.

Prestes a completar 60 anos, Sandra faz uso medicinal do óleo: “Além dos efeitos da menopausa, não quero sofrer com a evolução da idade e sei que posso me aliviar. Eu uso três gotas a cada 11, 12 dias e me mantenho bem. Alguém me ensinou? Não. Conheço as questões químicas, mas a frequência e o tipo eu tenho de saber, e é o meu médico prescritor que precisa estar próximo e interessado em me orientar. Na Europa, comprei um óleo que peguei numa prateleira, mas tenho conhecimento. Se alguém se arrisca a tomar uma dose qualquer, que poderá ser a mais ou a menos, terá a impressão de que aquilo não funciona”.

O empresário Fernando Paternostro, um dos pioneiros no Brasil no uso dos fitocanabinoides dentro do contexto esportivo. Foto: Arquivo Pessoal.

E O ATLETA? UM RESUMO

Um atleta é alguém que exige mais de sua organização física: tem mais inflamações e lesões por conta da exigência do movimento. Tudo isso estressa sua organização física porque pede do corpo mais do que ele está preparado para oferecer. Quando corremos, segundo Sandra, o corpo recebe uma informação de alerta: estamos atacando ou fugindo? Com isso, os níveis de cortisol e adrenalina sobem e saímos da homeostase. Para minimizar a atividade estressora que pode criar as disfunções com as quais todo atleta precisa lidar na rotina de treinos e competições, a função moduladora dos fitocanabinoides entra em ação.

“Receptores endocanabinoides se disponibilizam para receber recursos externos que vêm do meio ambiente para regular o que precisa ser ajustado. Normalmente, nós mesmos fazemos isso: se há um pico de cortisol, vem a dopamina ou a noradrenalina e ajusta. São compostos que estão dentro de nós. Mas, se vou além dos meus limites, o que é que posso trazer de fora que fará essa compensação? A grande sacada na década de 1960 foi reconhecer alguns ativos que favoreciam isso, um dos méritos do químico orgânico israelense Raphael Mechoulam, também conhecido como ‘o pai da pesquisa da cannabis’”, explica a doutora.

A ortopedia também está se valendo dos efeitos do CBD. Jimmy Fardin Rocha, ortopedista especialista em medicina canabinoide no esporte, é um dos que reforça as propriedades anti-inflamatórias do CBD na recuperação dos atletas profissionais que convivem com dores. Em 2016, ele participou como voluntário dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, quando ainda não se falava muito sobre o potencial terapêutico da cannabis. “Hoje, vendo os excelentes resultados em meus pacientes, eu me pergunto sobre aqueles atletas que atendemos no Rio: se naquela época tivessem acesso aos fitocanabinoides, o número de contusões e os problemas musculares e neurológicos dos competidores certamente teria sido menor”, aposta.

A REVOLUÇÃO CANABINOIDE

Mesmo com tantos efeitos comprovadamente positivos, de nada adianta levar uma vida desregrada e achar que a cannabis vai atuar como elixir salvador. “Não é mágica, mas uma oportunidade de mudar seu estilo de vida. Não adianta ser tabagista, ter uma dieta péssima, um trabalho que te deixa infeliz, negligenciar o sono e achar que o óleo, sozinho, vai mudar sua vida para melhor”, alerta Fernando Paternostro, triatleta amador e fundador da comunidade do Atleta Cannabis, além de CEO do app myGrazz, um hub de cannabis medicinal do Brasil.

Antes de se medicar com cannabis, Fernando tomava pílulas anti-inflamatórias com suplementos: Cataflan com Centrum diariamente. Da combinação, vinham as gastrites, e aí ele partia para mais medicamentos, que ainda assim não evitavam as constantes inflamações, como canelite e fascite plantar. Depois da introdução da cannabis na rotina, o empresário viu seu sono REM – aquela etapa preciosa do sono, quando nossas memórias e conhecimentos são processados e quando também há uma maior circulação de oxigênio no sangue – saltar de 20 minutos para uma hora e meia. Os níveis de ansiedade também baixaram, e ele sentiu os efeitos na relação com a família e no trabalho. Começou a meditar, melhorou sua dieta e abraçou o vegetarianismo.

Usando seu projeto profissional para melhorar a própria vida, lançou o Protocolo Atleta Cannabis, por meio do qual uma combinação de fitocanabinoides é usada para maximizar a performance esportiva e melhorar a recuperação muscular, o controle do processo inflamatório e a otimização da qualidade do sono.

Assim como todos os atletas acompanhados pelo projeto Atleta Cannabis, Fernando tem um protocolo individualizado: antes de treinar, não toma nada. Uma vez na semana, toma 25 mg de THC antes do treino de três horas e meia. Todos os dias, depois do almoço, toma 1.200 mg de CBG para controlar o processo inflamatório. Sempre depois do treino, CBD full spectrum (0,5 mL) e, à noite, 20 mg de CBN para melhorar a qualidade do sono. Durante os treinos, gummies de CBC na transição de duas horas. Ele também investe em tópicos, como cremes, pomadas e gel: “Aplico em pontos específicos quando tenho inflamação ou na perna inteira no pós-treino. Também uso hidratantes à base de cannabis e um creme para olheiras”, completa.

A única suplementação que Fernando acrescenta ao arsenal canabinoide é a creatina: “Faço exames médicos constantemente e minha saúde está excelente. Sugiro sempre que as pessoas passem por uma consulta, para que o médico lhes diga se o tratamento com cannabis é para elas e qual o melhor protocolo a ser adotado”, indica.

Na lista de próximas aquisições está a primeira kinesio tape com CBD, que Fernando está trazendo para o Brasil com exclusividade. Com 30 mg de CBD por faixa e outros ativos fitoterápicos como mentol e cânfora, elas são feitas para aplicações específicas em pontos do corpo mais fadigados e com contraturas, por exemplo.

CANNABIS PARA TODOS

Para uma imensa parcela de especialistas que não param de se aprofundar no tema, qualquer indivíduo cuja atividade física exceda o padrão metabólico primário será beneficiado com o uso da cannabis. Segundo Sandra, a planta preencherá as “lacunas” que o corpo abre por conta do excesso de atividade. Assim, o atleta é o indivíduo com menor risco de reação adversa. Com uma dose de conhecimento milenar e um “sai pra lá” no preconceito, podemos ir mais longe do que nunca.

GOTAS DE HISTÓRIA

Conheça um pouco melhor as origens do uso e do estudo que envolve a planta da maconha e seus derivados

Cultivada há milênios em torno do Himalaia, a maconha se propagou para todas as regiões do globo e teve seu potencial medicinal reconheci- do muito cedo: provavelmente foi não só um dos primeiros remédios, mas também o primeiro tecido, a primeira corda, e já nos anos 1550 a.C., no Egito Antigo, o poder da planta era conhecido para reduzir processos inflamatórios, com comprovação arqueológica, no papiro de Ebers.

Hoje sabemos que a maconha reúne muitas substâncias de potencial terapêutico (algumas com efeitos psicotrópicos, outras não), com várias propriedades de interesse medicinal porque são analgésicas, estimulantes de crescimento de ossos, anti-inflamatórias, imunossupressoras em alguns casos, antiepiléticas, antiproliferativas, antibacterianas.

Tradicionalmente, há milênios a maconha é plantada para obtenção de fibra – sob a forma do cânhamo –, mas também em outras variedades, das quais se espera produção de resinas e lipídios que são psicoativos, medicinais e terapêuticos.

Não à toa, muitas culturas ancestrais têm uma relação íntima com a cannabis: no Egito, a deusa do conhecimento e da escrita, Seshat, trazia uma folha de cannabis na cabeça. Ainda hoje, na Índia, existe o uso tradicional da maconha sob forma do bhang, um chá extremamente potente, fabricado e consumido em abundância, inclusive dentro das práticas religiosas dos Sadhus.

A MOLÉCULA DA FELICIDADE

Em 1964, o químico orgânico israelense Raphael Mechou- lam, do Instituto Weizmann, em Israel, identificou que um dos lipídios da maconha, chamado delta-9-tetrahidro-canabinol, é responsável por boa parte de seus efeitos psicoativos, e uma maneira simples de demonstrar isso foi fazer um bolo com THC e oferecer para os membros do laboratório e da sua família.

No fim dos anos 1980, foi clonado o primeiro receptor conhecido para canabinoides, o CB1, que tem expressão concentrada no cérebro: no hipocampo, cerebelo e núcleos caudados. A clonagem permitiu estudar o efeito dos cana- binoides no cérebro através dessa molécula que é o receptor, uma proteína gigante inserida na membrana da célula do neurônio que o recebe. Você pode pensar em uma fechadura que recebe uma chave, que seria o canabinoide.

Em 1992, foi descoberta a anandamida (seu nome deriva do sânscrito ananda, que significa “felicidade” ou “prazer extremo”), que é um canabi- noide endógeno produzido pelo próprio cérebro. Ou seja, o cérebro produz substâncias semelhantes àquelas contidas na planta. Essa é a chave endógena que se liga na fechadura, o receptor CB1. Ambas foram descobertas por israelenses do âmbito de pesquisas do professor Raphael e, desde então, têm promovido uma revolução na ciência e na medicina.

Fonte: Sidarta Ribeiro, no V Curso de Cannabis Medicinal – MovRecam

A PALAVRA É “JUNTO”

Por Maria Eugenia Riscala, fundadora da Kaya Mind

“Descobri a cannabis medicinal na Espanha, em 2014, motivada pelo caso da minha irmã, que tem deficiência intelectual. Primeiro investiguei o cânhamo e fiquei chocada com a infinidade de coisas que se pode produzir a partir dele. De avião e gasolina a cosméticos.

Fiquei muito impressionada com o fato de esse insumo ser proibido. Aí descobri o CBD, que não tem contraindicações e é prescrito para um número muito maior de pessoas do que o THC, que, embora também tenha propriedades terapêuticas, vai funcionar bem para algumas pessoas e ser terrível para outras.

Na época, minha irmã tomava Ritalina, e eu sempre achei que o remédio a deixava grogue. Começamos com a cannabis e ela reagiu su- perbem. Nessa época, passei a ir em todas as consultas médicas com ela e a brigar com todos os neurologistas que falavam que eu não podia medicá-la, que era proibido. Eu respondia que o que era proibido era outra coisa, o que não salva a vida de ninguém. Foi quando entrei para o ativismo. Estudo a cannabis desde 2014 e, em 2015, comecei a trabalhar com isso.

A Kaya Mind nasceu para trazer respostas, traduzir dados, informações e insights: no Brasil, tudo o que a gente tinha estava centrado na experiência de cada um ou em estudos científicos em inglês, com 16 palavras por frase que ninguém entendia. Ou seja, o conhecimento estava na mão do indivíduo ou do cientista. Afinal, o que a cannabis pode fazer de bom para qualquer um de nós? Tudo se resume às suas propriedades terapêuticas.

Por isso precisamos repensar as regulamentações de maneira que elas abranjam mais pessoas. A grande palavra é junto, todo mundo junto. A pessoa que quer plantar em casa junto com a pessoa que quer comprar na farmácia, porque no fim todo mundo quer a mesma substância. E tem muita gente que quer usar cosméticos, vestir uma camiseta de cânhamo, tomar uma proteína vegetal. Embora sejam coisas diferentes, no fim tudo isso é maconha, é cannabis, e precisa ser discutido junto.

Olha só os dados da Kaya Mind:

> 67.349 é o número de pessoas cadastradas na Anvisa (até abril de 2022) para fazer o uso terapêutico no Brasil.

> 6,9 milhões é a quantidade de brasileiros aptos ao uso e que poderiam ser beneficiados pelo consumo da cannabis.

> R$ 9,5 bilhões é o valor que se estima que a produção de CBD e dos outros fitocanabinoides da cannabis para fins medicinais pode movimentar no Brasil, no quarto
ano após a implementação de uma regulamentação mais ampla.

* Matéria originalmente publicada na revista Go Outside #175

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