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O clássico filme Surf Adventures foi divisor de águas na minha carreira profissional

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O Surf Adventures é um filme fundamental para a nova geração entender um pouco mais do nosso esporte

Eu tinha 16 anos quando comecei a gravar o “Surf Adventures – O Filme” (direção Arthur Fontes, 2002, 1h30min). Foram dois anos de gravação e o lançamento aconteceu depois de três anos. O filme foi uma oportunidade maravilhosa que surgiu na minha vida, quando estava começando a competir no Circuito Mundial de Longboard e já estava no Brasileiro de pranchinha (competi até os 18 anos, depois foquei no Longboard). Tanto que o filme tem imagens minhas surfando de pranchinha e de Longboard. Gravamos em Fernando de Noronha (PE) e no Havaí (EUA) e a elite de surfistas brasileiros que estava lá – Fabinho Gouveia, os irmãos Teco e Neco Padaratz, Vitor Ribas, entre outros – era referência para mim e para minha geração e ajudou a profissionalizar o esporte.

Esse filme foi um divisor de águas na minha carreira como surfista profissional. Depois de lançado, mesmo garoto, consegui novos patrocinadores, mostrei que tinha potencial e comecei a viver do esporte. Na época, todo o fim de semana, amigos da escola, do clube, do bairro ou do surfe me convidavam para ir ao cinema assistir ao filme com eles e cada vez que eu ia me motivava ainda mais a continuar.

Um dos fatores que mais contribuíram para o sucesso de Phil Rajzman no filme foi a surpreendente progressividade com que surfava de longboard. Foto: Roberto Moura

O Surf Adventures 1 teve recorde de bilheteria (200 mil pessoas) e ajudou muito a popularizar o esporte no país porque passou a essência do surfe, em um momento no qual o Brasil não tinha título mundial e nem destaque na mídia. O filme surgiu a partir do sucesso do Surf Adventures da Sportv, idealizado por Roberto Moura. Foram 60 programas gravados no Brasil e mundo afora, antes de virar um longa-metragem. Roberto, co-diretor e produtor, foi peça-chave e quem fez o filme acontecer. Ele convidou o Arthur Fontes para direção, que foi fundamental para criar essa linguagem de comunicação para quem não era do meio e mostrou o verdadeiro lifestyle, a cultura do esporte. Também conseguiu limpar a imagem que o surfe trazia das décadas de 70 e 80: o surfista era visto como um desocupado, que ficava na praia e fumava maconha. Roberto e Arthur eram surfistas, então a conexão era muito mais fácil com todo o elenco.

Antes de participar do filme, na escola, quando eu falava que era surfista, todos (alunos e professores) me zoavam, como se eu fosse contador de histórias e não me levavam a sério, até porque às vezes tinha de faltar para competir no Circuito Brasileiro. Mas, depois começaram a acreditar que o surfe era uma profissão, que eu estava me dedicando e, finalmente, ganhei respeito até das professoras e diretoras. Deixaram de me ver como uma lenda e começaram a me procurar para ir para a praia surfar e ganhei popularidade.

Depois do êxito do Surf Adventures 1 resolveram produzir o “Surf Adventures – A Busca Continua” (direção Roberto Moura, 2009, 90 min). Quando foi lançado eu já havia conquistado meu primeiro título mundial de Longboard (fui Campeão em 2007 pela World Surf League e o primeiro brasileiro a ser campeão mundial de surfe, mas no pranchão) e tivemos uma série de consequências positivas para o esporte.

Já no Surf Adventures 2, uma das cenas mais icônicas foi a sessão gravada em 2007 em The Box, na Austrália, quando Marcelo Trekinho e eu surfamos durante um swell. Ninguém mais surfou aquela onda de Longboard. Até hoje quando vou visitar minha mãe na Austrália, tem foto minha nessa onda em lojas de surfe. Virei uma lenda local (risos). 

Boas lembranças tenho, também, porque foi exatamente a viagem que fiz na véspera da conquista do meu primeiro título mundial. E foi um treino. O Tour Mundial começava em Gold Coast e depois iria para Margaret River e chegamos 10 dias antes na Austrália, daí Trekinho e eu decidimos surfar o swell em The Box. Era uma remada longa, com um fundo de pedra, como se fosse uma laje, mas eu estava muito acostumado a surfar nessas condições, na Barra da Tijuca (RJ). Chegando lá no outside tinha uma onda tubular, muito forte, pesada, mas perfeita e o mar estava com bastante tamanho. As pessoas começavam a olhar com cara de deboche e achando “esse cara vai se matar” porque só tinha bodyboarder e eu cheguei de Longboard. 

A equipe de filmagem estava na areia e o Roberto Moura com outra câmera filmando dentro de um barco. Com o mar em condições extremas, ninguém sabe o que pode acontecer, é uma incógnita e todos aguardando. Eu estava só observando e me posicionei no outside. No Longboard, como a gente ganha muita velocidade, o drop precisa ser muito adiantado pelo tamanho do equipamento, mais por trás da onda e já passando pelo tubo. Veio uma série e uma das maiores ondas do dia e botei para baixo na primeira. Tomei um caldo gigante! Mas não desisti, fui de novo e consegui tirar o primeiro tubo. Depois disso, foi só alegria! Trekinho e eu nos divertimos muito e essa foi uma das cenas do Surf Adventures 2 que até hoje postam nas redes sociais.

Numa era pré-GoPro, a busca por ângulos de filmagem inusitados requeria bastante criatividade. E também habilidade para, por exemplo, surfar com uma pesada câmera acoplada ao bico da prancha. Foto: Roberto Moura

Esse segundo filme mostra várias gerações do surfe nacional, entre eles, grandes nomes da terceira geração que começaram a se destacar e a ganhar respeito no Circuito Mundial, entre eles, o campeão mundial Ítalo Ferreira. É muito legal assistir essa filmografia, porque o surfe mudou bastante. Na época, os critérios de julgamento eram voltados mais para o surfe tradicional da pranchinha, com manobras mais tradicionais, inspiradas também no californiano Tom Curren, por exemplo. Esses documentários mostram a base do esporte, que é fundamental para entender a leitura da onda, o estilo, como pegar uma onda e saber aproveitá-la do início ao fim, o momento certo das manobras, para depois ir para as manobras mais progressivas.

É isso, acho que Surf Adventures 1 e Surf Adventures 2 foram marcos e fizeram história. São filmes fundamentais para a nova geração entender um pouco mais do nosso esporte. Quem ainda não assistiu ao Surf Adventures 1 está disponível no Netflix.

Aloha!

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Phil Rajzman
Phil Rajzman
Foi tricampeão mundial de longboard (em 2007 e 2016, campeão mundial pela World Surf League e em 2004 campeão mundial pelo Oxbow Pro), bicampeão Pan-Americano (2007 e 2009) e atleta da elite mundial por 25 temporadas (até 2022). Carioca, 42 anos, foi o primeiro brasileiro a entrar para a história como Campeão Mundial de Surf, conquistando o título no pranchão. Tem um canal no YouTube (@PhilGood21) e marca presença forte também no Instagram e no Facebook como @philrajzman

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