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Será que só eu não gostei da transmissão do ISA Games pela Cazé Tv?

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Em um grupo de WhatsApp formado essencialmente por jornalistas de surf, do qual faço parte, um dos assuntos que mais rendeu comentários foi a transmissão do ISA World Surfing Games pelo canal do YouTube Cazé Tv.

As opiniões se dividiram. Enquanto alguns curtiram o jeito descontraído e alegre de Pedro Scooby e cia, outros se sentiram incomodados com a gritaria e a “bagunça”, que parecia ser mais importante do que a informação sobre o que estava acontecendo em Porto Rico, palco do evento. Mas, a julgar pelos comentários de internautas no Instagram, a transmissão foi um sucesso.

Sendo direto, eu não curti. Achei “over” demais. Afinal, assistir à final de um evento esportivo já é emocionante o suficiente, não preciso de alguém me recordando disso aos gritos a cada segundo. Não me entendam mal, adoro uma boa dose de entusiasmo, mas quando os comentaristas começam a parecer mais excitados do que um canguru numa pista de dança, é hora de pedir um pouco de calma.

Segundo um amigo que acompanhou toda a transmissão por lá, o entusiasmo exagerado dos comentarias (isso na minha opinião, que fique claro), não foi o maior dos problemas. Pouco se explicava sobre o formato da competição ou o histórico dos surfistas estrangeiros e algumas informações teriam sido passadas erroneamente, como alguém dizer que o Brasil “não tinha mais chance” após a eliminação de Yago Dora. Rick Lopes, locutor experiente de eventos de surf que também trabalhou na transmissão, muitas vezes fazia o contraponto, tanto no tom mais sóbrio dos comentários, quanto na qualidade das informações, mas que acabavam ficando em segundo plano em meio à euforia.

Galvão Bueno
Será que o “estilo Galvão Bueno” funciona para a transmissão de competições de surf? Pelo jeito, parece que sim. Foto: Reprodução Internet

Mas, será que é implicância minha? Quero acreditar que não! Gosto do jeito espontâneo e carismático do Pedro Scooby, que, além de tudo, surfa muito, mas isso, pra mim, não basta para fazer dele um grande apresentador. Vejo Scooby como um diamante bruto que precisa ser lapidado. Algum produtor com habilidade suficiente para fazê-lo entender que é importante extrair o máximo de informações e curiosidades sobre a competição na qual ele irá trabalhar seria de grande valia, bem como alguém dizer que não precisa ficar a todo momento exaltando sua relação próxima com determinado surfista. Fico lembrando de alguns repórteres da rede Globo chamando o jogador Neymar de “Ney”, para mostrar intimidade… acho desnecessário.

Mas a questão é que todos na transmissão adotaram esse estilo, digamos, emotivo, e muitas vezes era difícil até entender o que era dito, pois todos falavam ao mesmo tempo. E então eu me pergunto: “Será que é implicância minha? Eu, que já passei dos quarenta, tô ficando velho?”. Não sei, mas conversando com gente mais nova, percebi que alguns pensam como eu. Só que, no mundo virtual, a impressão que fica foi a de que a transmissão foi um sucesso retumbante.

Considerado um fenômeno do YouTube, a Cazé Tv revolucionou a forma como são feitas as transmissões de futebol. O canal, que hoje conta com quase doze milhões de seguidores, foi criado pelo streamer Casimiro Miguel junto a um grupo de amigos em parceria com a LiveMode. Com as lives na Twitch bombando em popularidade, ele virou um fenômeno por seu jeito irreverente de comentar e reagir a todo tipo de assunto, incluindo jogos de futebol, que acabaram se tornando a inspiração para a criação da Cazé Tv.

Após uma experiência bem-sucedida com a transmissão dos jogos do Paulistão no YouTube, Cazé conseguiu o direito de transmitir jogos da Copa do Mundo na plataforma de vídeos. Mantendo o mesmo estilo despojado e amparado por uma equipe de comentaristas de peso, o canal quebrou recordes de audiência durante o Mundial do Qatar. Agora, mirando os Jogos Olímpicos, a Cazé Tv passou a transmitir diferentes modalidades esportivas, como é o caso do surf.

Segundo apurou o jornalista Ader Oliveira, do canal AOS Mídia, a audiência do ISA World Surfing Games em Porto Rico pelo Cazé Tv chegou a aproximadamente 35 mil pessoas simultâneas no domingo. Números que se equiparam aos das transmissões das finais dos eventos da WSL. Levando-se em conta que o canal não era a único a transmitir a competição, essa audiência é realmente impressionante. No entanto, quem são essas 35 mil pessoas? Surfistas? Entusiastas do surf? Fãs do Medina sem nenhuma relação com o esporte? Ou apenas o público orgânico do canal?

De minha parte, acho que é possível preparar melhor os apresentadores com informações e buscar um pouco de moderação na alegria sem comprometer a espontaneidade, que, de fato, é o grande trunfo das transmissões do canal.

Luciano Meneghello
Luciano Meneghello
Nascido e criado em Santos (SP) e atualmente vivendo em Floripa, Luciano Meneghello começou a surfar no início dos anos 1980 e testemunhou o desembarque da primeira canoa havaiana no Brasil, a Lanakila, no porto de sua cidade. Atuando no jornalismo, foi um dos fundadores da revista Fluir Standup e do site SupClub. Colaborou também com diversos veículos do segmento, como revista Alma Surf, Go Outside, site Waves, entre outros. Em 2020 publicou seu primeiro livro "Raiz, uma viagem pelas origens do surfe, canoa polinésia, stand up paddle e prone paddleboard". Atualmente está se graduando em antropologia pela UFSC, é o responsável pelo portal Aloha Spirit Mídia, e editor executivo da Hardcore.

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