Existem momentos que ficam marcados e, de certa forma, transformam a percepção do que vivemos. São efêmeros e, infelizmente, muitas vezes, se diluem com o tempo.
No meio dos anos 70 havia feito minha primeira viagem para fora do Brasil, em busca das ondas do Peru. Voltei de lá com algumas percepções alteradas. Umas boas, outras nem tanto, dependendo da perspectiva.
Perfeição é uma questão de percepção, e não pode ser definida de uma maneira exata. Edinho aproveitou sua viagem ao Peru nos anos 70 para entender isso. Foto: Adrian Kojin
A primeira delas foi perceber que aquilo que considerava ondas boas, como as que surfava por aqui não chegavam nem aos pés do que realmente são ondas perfeitas de verdade. Tamanho, intensidade, velocidade e perfeição… Isso dá um desânimo momentâneo, depois, o ser humano tem um poder incrível de adaptação e aceitação. Voltamos às nossas ondas.
Outra coisa que essa viagem me trouxe foi percepção do quão intensamente lindo é o nosso litoral norte. Me refiro à extensão que vai de Bertioga até o Rio de Janeiro. É simplesmente maravilhoso, rico. Vivo.
As imagens do vídeo Dias de Expedição, do canal Maresias Crew no YouTube, gravadas num pico secreto do Litoral Norte de São Paulo remetem ao texto de Edinho Leite.
Tudo era deserto. Areia, pedras e o mar. Mar, pedras e deserto. Quando cheguei de volta ao Brasil, depois de um mês de viagem de trem, avião, ônibus e a pé e mais um mês surfando, fui direto para Juquehy.
Dei sorte. Havia ótimas ondas, rolando na esquina de pedras da Praia Preta.
Tubos de direita partiam da ponta da Mata Atlântica que mergulhava no mar. Um verde sem parâmetro. Diversidade estonteante. O som do mar se misturava aos cantos da floresta. As Ilhas, ao fundo, dando outras linhas e cores ao horizonte. Água deliciosamente morna.
Naquele momento percebi a beleza daquilo tudo. Chorei de alegria.
Lembrei disso agora. A perfeição do surf vai bem além da qualidade das ondas.
Momentos como esse são indescritíveis. Tem que ser vividos. Foto: Eduardo Teiman / @mangohouse_br