Já houve tempo em que era proibido surfar. Nas décadas de 60 e 70 o surf sofreu grandes restrições. Não funcionou e o surf cresceu. Na zona sul do Rio de Janeiro, Guarujá e Santos (SP), as praias tinham regras para a prática do surf. Horários, áreas restritas, além de muita cara feia de quem não gostava dessa história de pranchas no mar e surfistas na praia. Era treta, a sorte é que ainda não havia jet-ski. Por outro lado, ainda não havia cordinha (leash). Não dava para perder a prancha.
Entre 1967 e 74, em Santos, quem surfasse fora da hora (sempre muito cedo ou fim de tarde), ou área determinada, tinha sua prancha confiscada pelos guarda-vidas ao chegar na areia. Em certos casos você conseguia pegá-la de volta, mas tinha que ir acompanhado do seu pai. Outras vezes iam parar na delegacia.
Cisco Araña na comemoração dos 33 anos da Escola Radical de Surf. Foto: Prefeitura de Santos
O que gosto de comemorar é o fato de que o Posto 2, onde boa parte das pranchas ficavam “presas”, tornou-se uma das maiores referências mundiais do surf inserido na sociedade. Hoje a Escola Radical de Surf, comandada por Cisco Araña, tem vertentes que criam a oportunidade para todos aprenderem a surfar.
Sim, desde 1991, essa é a primeira escola pública de surf do Brasil. Totalmente gratuita. Diferentes equipes atendem vários públicos como pessoas com necessidades especiais, exportando, inclusive, técnicas e tecnologia para o resto do mundo. Há aulas para alunos com mais de 50 anos e qualquer um, acima de 8 anos, que deseje aprender a deslizar sobre as ondas.
Curioso que justamente o Posto 2, ícone da intransigência de uma época, seja hoje orgulho da cidade que, com o surf, melhora a vida de tanta gente.
Fomos elevados da categoria de irresponsáveis, atentando contra a segurança dos banhistas e seus bons costumes, a anjos da guarda. Sim, a diminuição do tamanho e peso da maior parte das pranchas, o uso de cordinhas e a proliferação de gente, de todas as classes sociais, surfando, ajudou a nos libertar.
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