“Estou ficando saudável e forte novamente. Vou voltar para a água. Ainda tenho algumas ondas grandes e tubos que preciso pegar em Pipeline e Waimea. Talvez eu volte para o Eddie Aikau ou o Pipe Masters. Ainda sinto que tenho guardado mais uma ou duas vitórias . Mais um Pipe Masters, mais um Eddie. Vamos fazer acontecer. Estou indo com tudo”. Internado por dependência química, é com essas palavras que Bruce Irons finaliza seu comovente depoimento sobre o tratamento ao qual está se submetendo na Beond Ibogaine. A clínica, localizada no México, utiliza uma substância psicodélica proibida nos Estados Unidos para auxiliar na recuperação de seus pacientes.
Segundo Bruce, ele se internou pensando no irmão – o tricampeão mundial Andy Irons, que morreu vítima de uma overdose de drogas em 2010. A memória do irmão e de outros amigos que seguiram o mesmo trágico caminho tem sido sua principal motivação. “Meu irmão foi campeão mundial. Ele é o filho da puta mais casca grossa que já existiu e estou fazendo isso por ele e por todos os meus outros irmãos caídos e amigos que morreram”, disse Bruce num vídeo postado no Instagram e gravado nas dependências da clínica em que se internou por conta própria. “[Eu] tive muitos altos e baixos, perdas e problemas de saúde mental – depressão e drogas. Eu vim para um lugar no México chamado Beond apenas para ver do que se tratava. Eles fazem tratamento com ibogaína”.
Bruce venceu o Pipe Masters em 2001 e o Eddie Aikau em 2004, com atuações extraordinárias nos dois eventos, disputados em condições clássicas. Famoso pela maneira como encarava as situações mais assustadoras no mar sempre com um estilo primoroso, em terra ele acumulou problemas relacionados ao uso de drogas. Sua rivalidade sem limites com o irmão certamente colaborou para causar e agravar essa situação. Após a morte do irmão Bruce se recolheu e nunca mais voltou a exibir sua imensa habilidade nas ondas como no seu auge. Ensaiou várias retomadas da carreira, mas sempre acabava abandonando a tentativa de uma maneira muito triste.
Após a morte de seu irmão, Andy Irons, Bruce nunca mais voltou ao seu auge, ainda que ocasionalmente exibisse momento brilhantes, como nesse dia em Pipeline.
A ibogaína, que está na base do tratamento que parece estar dando certo para Bruce, é um composto psicoativo natural derivado da raiz da planta iboga. O arbusto da África Central tem sido usado em rituais xamânicos há milênios e foi pesquisado nos séculos XIX e XX como tratamento para uma variedade de doenças. No entanto, a droga não obteve aceitação generalizada e acabou se tornando ilegal em muitos países, incluindo os Estados Unidos. Agora, a iboga, juntamente com outros psicodélicos, está sendo estudada como um tratamento potencial para condições como dependência de opiáceos, lesões cerebrais traumáticas e TEPT.
No Brasil, a substância não é liberada pela Anvisa, mas a agência permite importá-la para tratamentos específicos —principalmente para dependência química e depressão—, prescritos por médicos. Nova Zelândia e África do Sul têm o mesmo modelo de uso. Pacientes dos Estados Unidos têm como opção clínicas como a Beond, instaladas no México, mas que tem estrangeiros como boa parte de sua clientela. Bruce afirma no vídeo que está disponível para ser contatado por quem desejar recorrer aos serviços da clínica. Vários estudos estão sendo realizados em universidades americanas com o objetivo de entender melhor as consequências do uso da ibogaína, e especialmente os eventuais benefícios.
Os fãs de surf com certeza iriam adorar poder rever Bruce Irons disputando mais uma vez um Pipe Masters ou um Eddie Aikau. Ou mesmo apenas dando o seu costumeiro espetáculo no freesurf. Que as ondas sejam um fator de incentivo para Bruce é maravilhoso. Mas acima de tudo o que todos mais desejam é que ele possa estar saudável, capaz de uma convivência feliz com família e amigos.
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