Há 60 anos o filme “THE ENDLESS SUMMER” foi lançado e moldou boa parte do que consideramos estilo de vida surf.
O filme de Bruce Brown, “The Endless Summer” (de 1964 – 92min), tornou-se marco na história do surf. Um dos 10 filmes mais importantes do nosso esporte. A viagem de Mike Hynson e Robert August, carregando seus pranchões em busca de ondas pelo mundo, distantes das festinhas ao som de Beach Boys e loirinhas praianas da Califórnia, era um documentário de surf de verdade (captado em 16mm).
De início a ideia era ir só até a África do Sul, mas, com uma verba de U$50 mil, decidiram filmar também na Austrália, Nova Zelândia, Taiti (onde não viram muita possibilidade de surf), Ghana, Senegal e Havaí, pouco ou nada conhecidos à época. Surpresa, até para Bruce Brown, o filme conseguiu ficar em cartaz um bom tempo nos EUA, pois atraia a atenção até de quem não se interessava por surf, já popular por aquelas bandas.
No Brasil o título foi traduzido como “Alegrias de Verão”, exibido nos cinemas lá por 1967 ou 68, não lembro ao certo. O interessante é que o longa-metragem obteve sucesso nos cinemas nacionais, pois, além daquele negócio de surf, tratava de jovens viajando pelo mundo, descobrindo outros países e culturas. Foi assim que minha mãe optou por esse filme quando me levou ao cinema enquanto ia para a academia. Sim, já existiam academias, mas eram chamadas de salões de ginástica.
Para a maioria das pessoas no Brasil foi o primeiro contato com o surf. Sim, já havia alguns surfistas pelo litoral descoberto por Cabral, mas nada que chegasse ao conhecimento de maior parte da população. Não que o surf tenha atraído tanta atenção, mas seu astral e a viagem por tantos países diferentes cativaram as pessoas. Aquela narrativa simples, cenas longas e música calma na medida eram ao mesmo tempo relaxantes e instigantes. Havia um humor tão descompromissado quanto a própria viagem daqueles afortunados que se divertiam em busca do verão sem fim.
LIFE STYLE
Na Califórnia, onde o surf explodiu nos anos 50, havia aquele sentimento apresentado nos filmes água-com-açucar tipo “Gidget”, onde adolescentes surfavam no verão, mas depois acabavam levando a vida a sério e iam trabalhar. Na verdade, o frio é de lascar no inverno da Califa e isso também transformava o surf em atividade de verão para o povão. Bruce Brown levou seu filme ao público justamente numa época em que os jovens haviam conquistado autonomia para viajar pelo mundo, cada vez mais conectado por linhas aéreas desde a rica América do Norte. Jovens, pela primeira vez, na carona dos Beatles, tinham voz e ditavam moda. Depois, no relançamento, em 1966, era a visão da fuga da guerra do Vietnam que chegava. A ideia de um verão eterno vinha bem a calhar. Dentro do cenário efervescente do surf, já crowd na Califa, o filme incitou a busca pela onda perfeita, a consciência de que havia muitos picos a serem descobertos.
No Brasil ele fez mais. Apresentou o surf ao grande público que imediatamente ligou a ideia de viagem àquele esporte(?) diferente. O tal do “life style” estava ali na tela para o mundo ver. Tenho certeza de que “Alegrias de Verão” foi importante para muita gente que pega ondas até hoje pelo mundo e por aqui, ao menos no eixo Rio-São Paulo, onde a coisa toda começou.
Assista, divirta-se, bata palmas e vá surfar.
N.R. A versão “rejuvenescida e remasterizada” do filme The Endless Summer está disponível no canal de streaming brasileiro Aquarius (vivaemaquarius.com.br).