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Longboard: estamos nos afastando da verdadeira essência do surf?

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Na minha opinião, deveríamos seguir a tradição da origem Polinésia do esporte

 

Acho interessante observar como, nos últimos anos, a indústria do surf da Califórnia se impôs no cenário competitivo do longboard, categoria que originou o esporte. Mas isso me faz levantar a questão, será que estamos nos afastando da verdadeira essência do surf?

Até 10 anos atrás, durante as competições de longboard, fatores como equipamentos, tipos de ondas e tradições de diversas culturas, desempenhavam papéis fundamentais no desenvolvimento do esporte. Atraia mundo afora, organicamente, apaixonados pelos pranchões, que mesmo sem projeção de mídias sociais e transmissões ao vivo que temos hoje, era nítido o crescimento contínuo e natural da modalidade.

Os surfistas precisavam se destacar dentro de regras que buscavam equilibrar o surf clássico com a progressão natural do esporte, seguindo a tradição que foi transmitida há centenas de anos, de geração em geração, pelos polinésios, havaianos e para o mundo. 

Phil Rajzman acredita que o surf de longboard deve se adaptar ao tipo de onda disponível, sem que uma abordagem mais radical seja motivo para penalizações. Foto: Mario Nardy 

Embora a Califórnia tenha desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento do surf, não acho certo eles terem imposto o “estilo”, equipamentos e manobras, indo contra 95% dos atletas do circuito mundial, que tiveram suas opiniões abafadas e, posteriormente, ignoradas.

Em 2014 fomos obrigados a adotar o estilo tradicional californiano da década de 60 e 70, como padrão para julgamento no circuito mundial. 

Atletas de diversas origens foram obrigados a se adaptar à equipamentos, que talvez não se adequavam às condições de onda com as quais estão familiarizados. Desta forma, o resultado foram campeões mundiais que representam o surfe tradicional da Califórnia e não o surf desenvolvido em diferentes culturas pelo mundo.

Minha visão é que essa mudança de formato gerou monotonia nas competições e limitou atletas talentosíssimos de todo o mundo a surfar de uma maneira padronizada e sem muita emoção.

Vejo exemplos como o atual campeão mundial, Kai Sallas (@kaisallas), um havaiano que precisou adaptar significativamente seu surf e a equipamentos para atender a esses novos/antigos critérios. Outro havaiano, Kaniela Stewart (@kany_tysunami), é outro exemplo que representa a nova geração, capaz de executar Hang Tens incríveis e finalizar com aéreos na mesma onda. 

Na minha opinião, deveríamos seguir a tradição da origem Polinésia do esporte, com surfistas que assistiram e praticam sem preconceitos a evolução proporcionada pela Califórnia na década de 60/70, mas também continuam o desenvolvimento através de novos equipamentos e manobras.

Outro excelente exemplo é Taylor Jensen (@taylojensentj), que apesar de californiano, incorpora a filosofia de que o longboard deve ser praticado em sua totalidade mas que, contra sua vontade, teve de se limitar. Atualmente lidera o ranking mundial com duas vitórias nesta temporada. 

Ainda hoje, após 10 anos, na opinião da maioria dos competidores da elite do circuito mundial, esse critério está se afastando excessivamente da verdadeira tradição do surf.

Já dizia o pai do surfe moderno, havaiano Duke Kahanamoku: “O melhor surfista é aquele que se diverte mais.”

Aloha!

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Phil Rajzman
Phil Rajzman
Foi tricampeão mundial de longboard (em 2007 e 2016, campeão mundial pela World Surf League e em 2004 campeão mundial pelo Oxbow Pro), bicampeão Pan-Americano (2007 e 2009) e atleta da elite mundial por 25 temporadas (até 2022). Carioca, 42 anos, foi o primeiro brasileiro a entrar para a história como Campeão Mundial de Surf, conquistando o título no pranchão. Tem um canal no YouTube (@PhilGood21) e marca presença forte também no Instagram e no Facebook como @philrajzman

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