Minha primeira viagem ao Havaí foi aos 15 anos de idade, em 1997, quando disputei minha primeira competição fora do Brasil e a nível mundial. Na época, fui incentivado e levado pelo meu amigo e mestre Rico de Souza. De lá para cá são muitos campeonatos e conquistas para contar da minha trajetória no longboard, mas como janeiro é quando acontece o Backdoor Shootout, na ilha, vou falar da minha história com essa competição.
Essa tradicional competição havaiana é realizada em memória a Duke Kahanamoku, considerado o pai do surfe moderno, nas ondas de Backdoor e Pipeline, no norte da ilha de Oahu. Apenas no longboard somente convidados podem participar, por ser a modalidade mais tradicional de lá. Já na pranchinha, bodyboard e demais modalidades as inscrições estão abertas para equipes e eu tive o privilégio de ter sido convidado por três anos consecutivos, a partir de 2016, ano que conquistei meu segundo título mundial de longboard pela WSL.
As baterias têm aproximadamente 1 hora de duração, sem limite de ondas surfadas e é um formato diferenciado, no qual os juízes avaliam principalmente os tubos. A média é ter quatro atletas simultaneamente dentro d’água, sem prioridade, e estar lá e poder pegar o quanto de ondas forem possíveis, é uma oportunidade única. Geralmente você fica cerca de 2 horas para pegar uma onda.
Em 2016 e 2017 fiquei nas semifinais, mas em 2018 fui campeão do Backdoor Shootout, uma conquista que achei que nunca fosse possível, justamente por eu ser de fora e em um evento, naquela época, somente para locais. Nunca imaginei que os havaianos me dariam um título competindo na casa deles e, ainda, sendo o único convidado fora do Havaí a participar. Por isso, considero uma das principais conquistas da minha carreira, juntamente com meus dois títulos mundiais da WSL (2007 e 2016) e o título mundial da Oxbow em 2004 (na época era quem definia o título mundial), quando disputei a final com Joel Tudor e venci pela segunda vez consecutiva – a primeira vez foi no Rio RedBull, no Brasil, no mesmo ano – e o colocando em combinação, quando o atleta precisa de mais de uma onda para conseguir a nota para virar a pontuação.
Esse título também me abriu muitas portas no Havaí. Os guarda-vidas do norte ao sul da ilha reconhecem a minha experiência com aquele tipo de onda e me respeitam, por isso tenho o privilégio de surfar lá. Acontece muito de surfistas de longboard, que não são havaianos, tentando entrar no mar em condições extremas e eles não permitem, não apenas por uma questão de localismo, mas principalmente é um procedimento de segurança e por precaução. Assim como pegar onda em Pipeline e Makaha, surfar em Backdoor é uma oportunidade rara.
O respeito pela tradição e cultura havaianas é recíproco, tenho noção disso porque durante meus 25 anos no circuito mundial surfei no mundo inteiro, sem problemas com localismo. Fui criado pegando onda no Postinho, no Quebra-Mar da Barra da Tijuca (RJ), e lá existe um localismo inspirado no Havaí e aprendi desde cedo a não infringir as regras do surfe e a respeitar os locais e o momento certo de entrar na onda. É como se fosse a vida na sociedade, onde é preciso ter respeito ao próximo e, assim, conquistar o seu respeito também.
Essa é a razão do surfe: a conexão e a diversão, mas o respeito também. Surfar é além.
Aloha!