Recentemente Gabriel Medina anunciou cortar carne e frango de sua alimentação. Desde então, ficamos com a pergunta em mente: como o vegetarianismo, adotado por Gabriel Medina, afeta o desempenho de atletas?
Muito especialistas em nutrição defendem que a dieta vegetariana pode gerar carência de nutrientes como ômega 3, ferro, zinco, cálcio, vitaminas D e B12, proteínas e alguns aminoácidos, sobretudo a creatina e beta-alanina.
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A creatina e beta-alanina são aminoácidos essenciais para o desempenho esportivo e praticamente ausentes nas dietas sem carnes.
A creatina é estocada no músculo e fundamental para fornecer energia durante o exercício. Já a beta-alanina é responsável pela formação de carnosina no músculo, cuja principal função é neutralizar os ácidos formados durante a atividade física intensa. São ácidos que aumentam a fadiga, e, portanto neutralizá-los é uma forma de controlar o cansaço.
A falta de energia em um(a) vegetariano(a) também pode advir da falta de ferro, que é responsável pelo transporte de oxigênio no organismo. A questão aí é que diferentemente do ferro de origem animal, o ferro de origem vegetal pode não ser tão biodisponível quanto o de origem animal e muitas vezes revelar-se insuficiente.
Além disso, o(a) vegetariano(a) pode sofrer com deficiência de vitamina B12 e, consequentemente, com uma anemia.
O vegetariano também pode sofrer com deficiência de outros nutrientes, como as proteínas, ômega 3, cálcio e vitamina D. A deficiência destes nutrientes não representa necessariamente rendimento inferior nos esportes, mas pode implicar riscos à saúde.
11x campeão mundial Kelly Slater, vegano desde 2018
De modo geral, a sociedade acredita que o vegetariano é mais fraco, só que existem muitos relatos de atletas de alto rendimento que não comem carne e têm bom desempenho.
E Gabriel Medina, não foi o primeiro a adotar o vegetarianismo. Antes do brasileiro, lendário surfista norte-americano Kelly Slater, 11x campeão mundial e um dos maiores ícones do surf, já preconiza uma dieta mais sutil.
Em janeiro de 2018, Slater aceitou o desafio da ONG Peta de duas semanas comendo produtos sem origem animal. Só que ele sentiu-se tão bem que acabou estendendo a experiência e desde então tornou-se vegano.
Na época, Slater disse: “Estou me sentindo muito bem. Minha digestão está muito melhor e existe uma variedade muito maior de alimentos saudáveis comendo dessa forma.”
Depois, em um vídeo, ele contou que estava no caminho de se tornar vegano por conta de problemas ambientais e de saúde causados pela produção de carne, leite e ovos. “Muito melhor comer alimentos vivos, integrais e de origem vegetal,” afirmou, dizendo que não consumia laticínios há mais de 20 anos.
O que acontece quando você não come carne
Afinal, vegetarianos ou veganos conseguem obter o mesmo desempenho físico dos carnívoros?
A presença de atletas de elite em diferentes modalidades que são vegetarianos ou veganos sugere que a resposta é sim.
Um dos exemplos é Fiona Oakes. Vegana desde os seis anos de idade, completou sete maratonas em sete dias; também venceu a maratona do Polo Norte em 2013, enfrentando temperaturas de -28 °C.
Segundo Oakes, as consequências de correr sob estas temperaturas são muita técnicas e isso logicamente requer um equilíbrio muito fino.
No surf, por exemplo, Kelly Slater e Gabriel Medina terem adotado o vegetarianismo, não são exceções. Há dezenas de surfistas de alta performance que recorreram ao veganismo. Recentemente, inclusive, publicamos uma lista com cinco nomes de renomados surfistas de alta performance.
Nutricionistas experientes em atender atletas de alta performance, reforçam que é preciso obter um bom equilíbrio entre carboidratos, proteínas e gorduras – esses três grupos são necessários para compensar o uso de energia. Os carboidratos fornecem energia e as proteínas e as gorduras ajudam na recuperação dos músculos.
Além disso, boa seleção de micronutrientes e vitaminas é necessária.
Cuidados especiais
O médico Norman MacMillan, atleta amador e autor do livro “Nutrição Esportiva”, lembra em uma de suas obras que “os atletas veganos são o grupo de maior risco e devem melhorar os seus conhecimentos sobre nutrição”.
MacMillan explica que a maioria das proteínas vegetais não têm pelo menos um dos aminoácidos essenciais. No entanto, ao associar alimentos de origem vegetal, como, por exemplo, um cereal com um legume (arroz e lentilhas ou arroz e soja), é possível obter uma combinação de aminoácidos com qualidade de um produto de origem animal, explica o especialista.
Caso nenhum tipo de carne seja consumido, as proteínas podem ser obtidas a partir de produtos lácteos e ovos. Mas se esses alimentos não são consumidos, a dica é encontrar alternativas em grãos, como feijão, grão de bico ou lentilha, que podem ser combinados com macarrão ou pão feito de farinha integral.
MacMillan conta que o ferro (abundante nas carnes vermelhas) é um mineral essencial que merece destaque porque é ele que normalmente está ausente nas dietas veganas e vegetarianas.
De acordo com o especialista, o ferro pode ser substituído por fontes vegetais como determinadas massas, cereais, legumes ou pão integral.
Vegan Society recomenda equilíbrio
Segundo a Vegan Society, do Reino Unido (fundada em 1944, é a sociedade vegana mais antiga do mundo), as proteínas não são problema em uma dieta vegana bem planejada.
A sociedade recomenda, por exemplo, reforçar a dieta com vitamina B-12, talvez o único nutriente que o vegetariano precise complementar, mesmo com uma alimentação bem planejada.
A vitamina B-12 só está presente em quantidade significativa em alimentos de origem animal e, vale lembrar, estudos sugerem que cerca de 50% dos vegetarianos apresentam deficiência à essa vitamina.
É preciso lembrar que cada indivíduo é único e deve seguir as recomendações básicas de uma dieta saudável e equilibrada. Para isso, é indicado acompanhamento de um profissional competente, que levará em conta suas necessidades e objetivos.
Quer ampliar seus horizontes acerca do vegetarianismo? Clique aqui e baixe esse .PDF feito pela Sociedade Vegetariana Brasileira.