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Gaza e outras zonas de conflitos


Por Alexandre Versiani

Aventurar-se mundo afora atrás de ondas é um dos maiores prazeres para qualquer surfista. Mas alguns destinos exigem cuidado. Guerras, terrorismo, crimes e localismo podem transformar a trip dos sonhos em pesadelo. Conheça alguns dos picos mais perigosos para surfar no mundo.

Somália


Piratas não são lendas na Somália. Surfistas sim. Foto: Roberto Schmidt / AFP.

“Imagine um Rio de Janeiro sem policiais, sem militares, sem tribunais, sem estradas, sem eletricidade, sem água, sem hospitais e sem escolas.” Desta forma Mohamoud Nur, atual prefeito de Mogadíscio, definiu a situação da capital da Somália antes de assumir o cargo em 2010.  

Localizado no Chifre da África, o país 100% muçulmano vive mergulhado em uma guerra civil desde 1991 que já deixou mais de 300 mil mortos e milhares de desaparecidos. Além dos conflitos, pirataria, sequestros e terrorismo também impedem que uma costa de mais de três mil quilômetros seja totalmente explorada pelos surfistas.

“A Somália é o país onde as coisas ruins podem ficar ainda piores”, comenta o surfista norte-americano Jay Quick, que explorou o litoral do país em 2005 com o auxílio de escolta armada. “Mas a maioria dos picos recebe as mesmas ondulações do Oceano Índico que bombam em lugares como Indonésia e Ilhas Reunião”, completa.

A Somália é um dos países mais pobres do mundo e depende basicamente da ajuda humanitária para abastecer uma população de 10 milhões de pessoas. Hoje o país luta para se tornar um estado, e somente em 2011 o governo conseguiu retomar a capital Mogadíscio das mãos do grupo radical islâmico Al Shabab.

“Na Somália não há governo. Ninguém para imprimir dinheiro, para punir crimes ou fazer estradas”, revela Quick. Segundo o surfista, as melhores ondas da Somália talvez nem tenham sido descobertas. “Há boas ondas com fundo de areia na região de Mogadíscio (capital) e pointbreaks mágicos na península de Ras Xaafun, no ponto mais oriental do país”.

Atualmente o território permanece dividido em seis grandes áreas, algumas controladas por facções tribais financiadas por grupos terroristas como a Al-Qaeda. As guerrilhas espalham o terror, dificultam o acesso às áreas mais críticas e impedem a ajuda de agências internacionais como a Cruz Vermelha.

Em janeiro de 2012, o jornalista e surfista californiano Scott Moore foi mais uma vítima da violência na Somália. Moore investigava a atividade de piratas na costa do país e acabou sequestrado perto do aeroporto de Galkayo. Meses depois, o jornalista foi visto pela última vez em um vídeo enviado pelos próprios sequestradores no qual dizia estar “aterrorizado”.

Mindanao (Filipinas)


Cloud 9 fica a poucos quilômetros de Mindanao, na vizinha ilha de Siargao. Foto: John Callahan.

Cercada por barreiras de corais, a segunda maior ilha das Filipinas é também a mais perigosa. Mindanao é conhecida por ser zona de atuação do grupo separatista muçulmano Abu Sayyaf, que há mais de 30 anos aterroriza a população com atentados, assaltos e sequestros.

Fundado por ex-combatentes da guerra do Afeganistão contra a União Soviética, o grupo tenta estabelecer um estado islâmico na região a qualquer preço. Uma de suas principais estratégias são os sequestros de estrangeiros em troca de resgates para financiar a insurgência.

De acordo com relatórios da ONU (Organização das Nações Unidas), foram mais de 30 apenas no ano passado. Quando não há dinheiro para liberar o refém, a execução geralmente é filmada e vai parar nos principais telejornais do país.

“A reputação de instabilidade política, violência e conflitos mantém os surfistas longe da ilha há muito tempo, mas sua costa esconde verdadeiros tesouros”, afirma o surfista italiano Emiliano Cataldi, que visitou a região em 2011.

O arquipélago das Filipinas possui cerca de sete mil ilhas e entrou no mapa do surf com a descoberta de Cloud 9 no final dos anos 80. Uma das ondas mais perfeitas do planeta, ela fica na vizinha ilha de Siargao.

Ilhas Andaman (Índia)


Esse é o registro mais próximo que estrangeiros conseguiram fazer da ilha da Sentinela do Norte. Foto: Reprodução.

Com 572 ilhas, o arquipélago de Andaman, localizado na Índia, recebe as consistentes ondulações do Oceano Índico principalmente a partir do mês de março. Andaman fica a cerca de 1.200 quilômetros da costa e ainda abriga povos selvagens que tiveram pouco ou nenhum contato com a civilização moderna.

No século XIII, quando o navegador Marco Polo explorou o território, descreveu os habitantes locais como a raça mais brutal que já havia visto. “Possuem cabeças, olhos e dentes de cães que matam qualquer forasteiro em que conseguem colocar as mãos”.

No coração de Andaman fica a tribo da ilha de Sentinela do Norte, uma das últimas intocadas do planeta, com população estimada entre 50 e 400 pessoas (ninguém teve coragem de ir lá contar). A hostilidade praticada pelos sentineleses faz qualquer barco passar a quilômetros de distância dos reefbreaks da ilha.

Em 1996, alguns caçadores desavisados chegaram ao local e foram todos mortos pelos nativos. Em 2004, depois do tsunami que devastou toda a região, autoridades indianas ofereceram ajuda e acabaram expulsos com flechadas. Por último, em 2006, dois pescadores foram assassinados depois de adentrarem na zona proibida.

Surfistas de várias partes do mundo aventuram-se pelos tubos de Andaman desde os anos 60, mas estão proibidos de surfar na ilha de Sentinela pelo governo indiano que, após inúmeras tentativas de contato fracassadas, proibiu o acesso de qualquer estrangeiro na ilha.

Western Sahara

 


Em muitas praias, por lá chamadas zonas militares, é preciso uma autorização especial do exército para surfar. Foto: John Callahan.

Cenário de disputas territoriais nas últimas três décadas, o Saara Ocidental, localizado entre Marrocos, Argélia e Mauritânia, possui algumas das ondas mais perfeitas do Atlântico. Atualmente, a antiga colônia espanhola é controlada pelo exército marroquino. Apesar de um cessar-fogo assinado em 1991, a região sofre frequentemente com revoltas e insurreições do grupo separatista Frente Polisário.

Em 1976, a Frente Polisário, com apoio da Argélia, proclamou a independência da região, chamada de República Árabe Saaráui Democrática (RASD), hoje reconhecida por 50 países e com embaixadas em 16 deles.

Em 2009, sob forte pressão internacional, o rei marroquino Muhammad 6° afirmou que o país não renunciaria a um grão de areia do Saara Ocidental. Atualmente a RASD integra a lista de territórios não-autônomos da ONU e conta com altos índices de violência e baixa infra-estrutura.

Em muitas praias – por lá chamadas de zonas militares – é preciso uma autorização especial do exército para surfar. “Em poucos dias você se acostuma a ver soldados e militares em todos os lugares. Eles estão literalmente em toda parte, estrategicamente colocados para que possam ver uns aos outros”, relata o surfista viajante Emiliano Cataldi.

Enquanto marroquinos e polisários brigam por território e pela extração de recursos naturais como o fosfato, os surfistas que se aventuram pelo árido deserto do Saara não precisam disputar as ondas com ninguém, já que são poucos os que se arriscam nos pointbreaks desta região.

Baja California (México)


Policiais corruptos são apenas parte do problema em Baja California. Foto: A-Frame.

Alvo de disputas sanguinárias entre cartéis de drogas, a península de Baja California tornou-se uma das regiões mais violentas do mundo. Desde que a guerra explodiu, em 2006, já foram registradas mais de 50 mil mortes relacionadas ao controle pelo narcotráfico local (cerca de 90% são execuções).

A região do norte mexicano sofreu um enorme aumento na criminalidade depois da prisão dos principais chefões do cartel de Tijuana, os membros da família Arellano Félix, que controlavam o tráfico de cocaína e de maconha para a Califórnia desde os anos 90.

Francisco Javier, o mais velho dos sete irmãos, foi o primeiro a ser preso em 2006. Em 2008 foi a vez de Eduardo Arellano Félix, o El Doctor, ser detido em uma ação conjunta entre a CIA e o exército mexicano. Desde então, o cartel de Tijuana foi subdividido em vários grupos que passaram a lutar pelo controle do tráfico da região.

Segundo a instituição mexicana de Segurança Pública e Justiça Penal, na última década mais jornalistas foram mortos no México do que no Iraque.

Localizada bem próxima da fronteira com os EUA, entre o oceano Pacífico e o Mar de Cortez, a península divide-se entre os estados de Baja California e Baja California Sur. A região é um dos destinos preferidos dos surfistas norte-americanos desde a década de 50, com picos internacionalmente famosos como a ilha de Todos os Santos ou a quilométrica onda de Scorpion Bay.

Apesar de a violência estar mais concentrada ao norte de Baja California, na cidade de Tijuana, relatos de violência contra surfistas tornaram-se frequentes desde outubro de 2009, quando o guia norte-americano Pat Weber e sua namorada viveram momentos de terror nas mãos de traficantes locais.

Conhecido em toda região, Pat possuía uma empresa especializada em turismo de surf há 15 anos com mais de 300 viagens feitas ao longo da costa de Baja California. O casal estava em um trailer quando foi surpreendido por dois assaltantes. Sem reagir e com todos os pertences roubados, Pat foi fortemente agredido e viu sua namorada ser estuprada na sua frente.

Outra série de crimes vem acontecendo no litoral de Baja desde então. Os relatos são sempre de assaltantes bem treinados e com armamento pesado, como pistolas e metralhadoras. A polícia local também sofre duras críticas pelos casos de omissão e corrupção.

“O grande problema para os surfistas é achar que Baja California é como costumava ser a anos atrás. Hoje em dia é como o faroeste, uma terra de ninguém”, afirma Serge Dedina, autor do livro que reúne histórias do surf na região Eco-Wars and Surf Stories from the Coast of the Californias.

Faixa de Gaza


Atualmente existem apenas 30 surfistas e 20 pranchas na Faixa de Gaza. Foto: Alessandro Gandolfi / Parallelozero

Em março de 2012, quando desembarcou na Faixa de Gaza com o objetivo de conhecer a pequena comunidade de surfistas que floresce na região, a fotógrafa brasileira Alice Martins se deparou com uma série de dificuldades.

A primeira foi conseguir as permissões necessárias para cruzar a fronteira a partir de Israel. Depois, ao lado do surfista Matt Olsen, diretor da ONG norte-americana Explore Corps (que ajuda surfistas locais com equipamento e burocracia), teve as pranchas barradas por não estarem incluídas na lista de "itens autorizados" pelos agentes da fronteira.

O impasse entre Israel e o estado da Palestina vem desde o século XIX. Só na última década, mais de 4.300 palestinos e 1.000 israelenses já perderam a vida nos conflitos. A situação ficou ainda pior depois de 2006, quando o Hamas, grupo que Israel considera terrorista, foi eleito na Palestina. Como represália, o governo israelense decidiu fechar a fronteira e acabar com a livre circulação de pessoas e bens entre os dois estados.

Desde então, militantes palestinos reagem ao cerco com ataques diários de foguetes em direção à Israel. O exército vizinho responde com ataques aéreos visando alvo militares, mas que muitas vezes causam a morte de pessoas inocentes.

Depois de conseguir cruzar a fronteira para fotografar os cerca de 30 surfistas que vivem na Faixa de Gaza, Alice Martins teve que tomar uma série de precauções. “Sempre tive que tomar cuidado com a maneira de me vestir para não chamar muito a atenção. Usei véu islâmico todos os dias, nunca saía à noite sozinha e andava sempre com alguém local que conhece bem a área”, diz Alice.

“Hoje em dia o Hamas está mais cuidadoso com a própria imagem, então eles não representam um grande risco para estrangeiros em Gaza, mas existem outros grupos terroristas que sequestram estrangeiros por lá. Um ano antes da minha ida, um italiano que estava fazendo trabalho voluntário foi sequestrado e assassinado por um desses grupos”, relata.

Na primavera de 2008, Alexandre Klein, diretor do filme “God went surfing with the Devil” (Deus foi surfar com o Diabo), que relata o surf na região, reuniu grandes histórias de Gaza ao tentar entregar mais de 23 pranchas para a comunidade local.

“Nós surfamos aqui e ali (aponta para o outside) fica a fronteira marítima com Israel. Se você passar daquela linha, os israelenses vão atirar em você”, descreve um surfista palestino em um dos depoimentos mais marcantes do filme.

North Shore de Oahu


Kala Alexander e o Wolfpak preencheram o "vazio" deixado pelos Black Trunks no Hawaii. Foto: Heff / A-Frame.

Meca do surf mundial e berço do localismo, o Hawaii não poderia ficar de fora de qualquer lista relacionada ao surf. O North Shore de Oahu pode não ter as bombas da Faixa de Gaza, a hostilidade dos selvagens indianos ou o terrorismo das Filipinas, mas quando o assunto é localismo, é um dos lugares mais temidos do planeta – senão o mais.

Dos Black Trunks dos anos 70 aos dias atuais, o lado norte da ilha de Oahu ainda possui os surfistas mais intolerantes do arquipélago. O temor pode não ser mais o mesmo, mas a essência do localismo continua viva principalmente com o Wolfpak, gangue liderada pelo surfista Kai Garcia, cujo soldado número um é o “valentão” Kala Alexander.

Nos dias bons e de crowd pesado em picos como Pipeline, por exemplo, Kala e sua turma ainda determinam quem pode surfar ou descer as melhores ondas. A intimidação é a principal estratégia usada pelo grupo, mas as surras também fazem parte do cardápio oferecido pelo Wolfpak.

“O código aqui é respeitar os outros. As pessoas vêm aqui e não respeitam nada. Você vai ter problemas se fizer isso", alerta Alexander, que já cumpriu pena por assalto e passou grande parte dos anos 90 na cadeia.

O lema do Wolfpak é o mesmo que australianos, brasileiros, europeus e cia. já sabem há algum tempo: mostrar que o Hawaii tem dono. Para legitimar os atos de violência, além de passar um pano com a polícia, o grupo apoia projetos sociais, de limpeza nas praias e também se encarrega da segurança de alguns dos principais eventos que acontecem no North Shore.

Na última década, dezenas de casos de agressão foram ligados ao Wolfpak. Entre as mais notórias estão os sopapos dados no californiano Chris Ward e a famosa surra tomada por um surfista que teimou em invadir o outside durante o mundial de bodyboard.

Quebra-Mar (Rio de Janeiro)


Recado dado para os surfistas de fora do Quebra-Mar. Foto: Luiz Blanco.

Desde que os primeiros casos de agressão começaram no final dos anos 80 no Quebra-Mar, Barra da Tijuca, são várias as histórias que giram em torno do localismo do pico.

Locais que vão de policiais a bandidos e expulsam qualquer forasteiro do mar, lutadores sedentos por uma confusão ou até mesmo um estranho ritual de passagem para novatos do pico que inclui raspar a cabeça, pular de uma altura de 12 metros na água e enfrentar um corredor polonês.

O que é verdade e o que é lenda não é muito claro. O fato é que o bairrismo protagonizado pelos locais do Quebra-Mar já botou centenas de pessoas para correr nas últimas décadas, inclusive surfistas profissionais.

“Já nos anos 80 muitos surfistas que não eram bem-vindos tinham os pneus de seus carros furados e eram convidados a ir embora com o famoso Fora Haole", conta Pedro Müller, campeão carioca, brasileiro e hoje presidente da Abrasp (Associação Brasileira de Surf Profissional).

A situação piorou na década de 90 quando, depois de algumas rixas com surfistas de outras regiões, o Quebra-Mar foi totalmente fechado para a galera de fora. 

“Inacreditável que isso perdure até hoje e as autoridades não tenham acabado com essa bandidagem que privatizou um espaço publico”, desabafou o empresário Fred D’Orey em entrevista ao jornal O Globo no mês de maio.

Campeão brasileiro em 1987, jornalista e dono da marca Totem, Fred foi ameaçado pelos locais depois de tentar surfar no pico. O surfista escreveu sobre o caso e como represália teve os vidros de seu escritório duas vezes quebrados.

Construído na década de 30 para ajudar na preservação das lagoas da Barra da Tijuca (as pedras impedem que a areia feche a única ligação que elas têm com o mar), as ondas que apelidaram o pico de “Quebrão” já não funcionam como antes. Segundo o fotógrafo Fernando “Fedoca” Lima, várias obras de ampliação do Quebra-Mar nos últimos anos diminuíram a qualidade do pico.

“As obras pioraram o fundo e os clássicos triângulos que faziam os surfistas passarem a mil por hora atrás da pedra já não funcionam mais. Hoje em dia a verdade é que ninguém mais faz muita questão de surfar no Quebra-Mar”, conta Fedoca.

O surfista e ator Paulo Zulu, que hoje vive na guarda do Embaú, foi um dos primeiros competidores locais do Quebra-Mar e orgulha-se de ter o “green card” no pico.

“Como profissional, na época eu fiquei um pouco triste (com o início do localismo e o fim das competições no Quebra-Mar), pois sempre tinha bons resultados lá. Mas, como surfista local, adorei poder usufruir daquele nível de ondas só com os amigos de infância sem estresse de pessoas querendo te dar a volta ou entrar na sua onda”, diz Zulu.

Enquanto o impasse não termina, o localismo no Quebra-Mar, pico que já recebeu até final de etapa de Circuito Mundial em 1977, continua sendo passado de geração em geração por um pequeno grupo de surfistas que domina a área.

Em maio, a 16ª DP (Barra da Tijuca) abriu um inquérito policial para investigar se há a existência de policiais civis e militares que dão cobertura a surfistas locais do Quebra-Mar e impedem que pessoas de outros bairros surfem no local.

El Quemao (Ilhas Canárias)


A perfeição de El Quemao, a "Pipe Canária", dominada por surfistas e bodyboarders agressivos. Foto: Cedric Barros.

A onda de El Quemao, também conhecida como “Pipe Canária”, faz jus ao apelido também no localismo. Furto a veículos, discussões, expulsões e agressões já aconteceram e são comuns nesta onda perfeita, mas com grande nível de dificuldade e que deixa os nervos a flor da pele.

As grandes reportagens que trouxeram fama internacional ao pico nos anos 90 e o consequente aumento da especulação imobiliária na ilha de Lanzarote deixaram os locais ainda mais furiosos.

Desde 2005, o big rider franco-brasileiro Eric Rebiere possui uma casa na vila de pescadores de La Santa e da sua varanda consegue enxergar os tubos afiados de El Quemao, mas mesmo assim ainda não é considerado local pelos surfistas do pico.

“Sempre foi assim. Muitos locais lá vivem do surf. Na real, em muitas ocasiões é quase impossível pegar onda. Histórias de brigas, rabeadas e roubos a turistas são antigas, mas hoje em dia melhoraram”, conta Rebiere.

Segundo Eric, o localismo em El Quemao também funciona de acordo com a maré. “A maré muda muito e o localismo lá tem seu horários. Por isso surfo na hora mais perigosa, na maré seca, quando os locais mais atirados ainda não estão na água”, finaliza.

O fotógrafo Cedric de Barros, que morou dez anos nas Ilhas Canárias, sentiu na pele o localismo de El Quemao até ser aceito pelos locais.

“Assim como Pipeline, no Hawaii, uma pequena indústria se criou em torno desta onda. Hoje em dia os locais aprenderam a importância de ter uma boa foto publicada numa revista, então em vez de proibir eles deixam você trabalhar, contando que você dê prioridade e publique fotos deles”, afirma Cedric.

Apesar de ser um pequeno número de surfistas e bodyboarders, os locais de El Quemao são conhecidos pela hostilidade. Em 2009 o grupo sofreu uma baixa com a morte de David Infante, conhecido como El Fula, local do pico que perdeu a vida depois de chocar-se contra a bancada de El Quemao e sofrer traumatismo craniano.

Matéria originalmente publicada na Hardcore #285

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