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Surf e o valor do tempo em ‘Days Within a Day’ [VÍDEO]

‘Days Within a Day’ é um curta metragem de surf dirigido por Mickey Bernardoni e Aline Adisaka que tem a apreciação do tempo como tema central.

Rodado nas paradisíacas ondas das Maldivas, Days Within a Day chama a atenção pela fotografia muito bem trabalhada, conduzida por uma narrativa que explora o existencialismo, enquanto imagens de ação vão se intercalando às paisagens deslumbrantes do Índico.

Abaixo, o Mickey Bernardoni, ex surfista profissional que hoje mantém uma produtora de vídeos, a Roma Filmes, fala sobre a realização do curta (que pode ser conferido na íntegra, ao final da entrevista), que foi, em suas palavras, a realização de um projeto pessoal.

Além do cuidado com a qualidade das imagens, há um claro cuidado com a narrativa e toda uma questão de filosofia existencialista que vem desde o título, à narração do curta. Essa foi uma ideia que surgiu antes ou durante o processo de criação de Days Within a Day?

Essa ideia surgiu ao longo da viagem, pois quando decidi ir para as Maldivas, meu intuito era apenas surfar e captar no meu tempo livre, imagens de visuais e um pouco do cotidiano da vida a bordo. A medida que os dias foram passando e se repetiam de certa forma, entre acordar, tomar café, surfar, mergulhar, apreciar um pôr do sol, vimos que ali tinha uma ideia interessante de unir imagens tão ricas que um lugar tão paradisíaco como as Maldivas pode proporcionar, aliada a uma narrativa que enfatizasse essa apreciação do tempo, mesmo que fizéssemos as mesmas coisas praticamente todos os dias e essa questão da “repetição” de certa forma deu origem ao nome do filme, que traduzindo de forma simples seria algo como “Dias em meio a um dia”.

O surf seria a melhor forma de nos mostrar o valor do tempo?

Não diria que é a melhor forma, mas acredito que o surfe tem o poder de mexer com o tempo ou pelo menos a percepção que temos sobre ele. Muitas vezes quando estamos no mar, perdemos totalmente a noção de quanto tempo passou, principalmente se for uma boa sessão e acho que isso tem grande valor.

Comecei surfar aos 4 anos, praticamente boa parte da minha vida passei no mar e é engraçado porque quando olho pra trás, não sinto que tenha passado tanto tempo assim e isso pra mim também é um exemplo de quanto o surfe tem uma relação curiosa com o tempo.

Days Within a Day
Ex surfista profissional, Bernardoni se dedica atualmente ao free surf e à sua produtora, Roma Filmes. Foto: Eric Duran

Como lidar com um desafio de escolher as melhores imagens em um lugar paradisíaco como as Maldivas em pouco mais de oito minutos de vídeo?

Todas as imagens de ação (surfe) e boa parte dos drones foram feitas por Mateus Prior, que era o câmera responsável pelas imagens a bordo do Maldives Pirates, algumas adicionais pelo fotógrafo Eric Duran e eu filmei o restante das imagens, da Aline Adisaka no barco, em terra e visuais em geral.

Tentei equilibrar o filme entre a ação, narrativa, os “moods” das três trilhas junto a imagens tão bonitas que tínhamos. Muita coisa bonita ficou de fora, pois, estes lugares geram um conteúdo incrível mas o importante é que o que está no filme foi selecionado com bastante cuidado.

A Aline Adisaka assina a direção do curta com você e é a narradora da história. Qual foi o papel dela na construção do projeto?

A Aline e eu nos conhecemos participando de uma série de TV onde ficamos embarcados por dois meses em um veleiro e fizemos uma travessia da Rússia ao Alasca e nesta viagem, conheci o lado escritora dela pelo diário de bordo que ela mantinha e mantem até hoje. Por escrever bastante e com muita facilidade, ela foi fundamental na montagem do texto e ficamos bem contentes com o resultado e com a mensagem do filme.

Também foi por ela, que acabei embarcando nesta viagem, já que ela estava trabalhando com o Maldives Pirates pelo segundo ano consecutivo e propôs a ideia de eu ir pegar onda e de quebra montar algum material em vídeo, só não sabíamos que viria a ser este curta metragem que foi ganhando vida aos poucos e se tornou muito especial para nós.

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É difícil a gente ver mulheres protagonizando filmes de surf, mas ‘Days Within a Day’ reverte essa lógica. Você a acredita que essa pode ser uma tendência?

Creio já ter visto boas produções com mulheres surfistas protagonistas mas não me recordo agora exatamente quais. A forma que esse filme foi feito foi tão despretensiosa que isso não foi algo que queríamos focar, aconteceu de forma bem natural e o que eu gosto na narrativa da Aline, é a forma que ela conduz as palavras e a voz sem muito sotaque, que é o que me incomoda as vezes em alguns filmes nacionais.

Acho que pra algo em Português ficar legal e passar uma credibilidade, tem que ser bem falado, bem apresentado. Não gosto quando vejo algo com muitas gírias e zoação, a não ser que seja a proposta, senão pra mim perde toda a credibilidade por melhor que sejam as imagens e o surfe. Um detalhe, este filme tem uma versão em Inglês, pois foi feito em parceria com o Maldives Pirates, que é uma empresa estrangeira e atendemos esta necessidade. 

Days Within a Day
Mickey Bernardoni. Foto: Eric Duran

O que te dá mais alegria hoje em dia? Surfar um tubo perfeito ou concluir um vídeo do jeito que você queria?

Um tubo é incrível mas passa rápido. É tão incrível que muitas vezes o cérebro quase não guarda o que aconteceu, só uns flashbacks, pelo menos com os melhores tubos que já paguei é assim e isso é muito curioso.

Já o filme eu me envolvo por muito tempo e é mais duradouro de certa forma. Este em especial eu não tinha data de entrega, nada, só queria concluir no meu tempo e fazer algo diferente. Sou fã de som pesado, punk rock e surf progressivo, sempre fui e essa foi minha base, mas quis fazer algo mais poético, talvez as imagens pediram isso e gosto quando acabo uma edição, coloco sozinho na TV da sala e eu mesmo tenho vontade de ver de novo, é de certa forma um feedback próprio em que acredito.

Quais serão os próximos projetos de sua produtora, a Roma Filmes, ligados ao surf?

Nada a princípio, até porque dificilmente trabalho com surfe. Eu literalmente paguei pra fazer este filme e não me importo, pois era um projeto pessoal, sem o intuito de agradar ninguém ou ganhar alguma coisa. Trabalho muito mais em outras áreas, como moda por exemplo onde o ganho nem se compara ao surfe e aprendi a me resolver assim ao longo dos anos. Seria o sonho viajar o mundo fazendo filmes de surfe e ganhar pra isso, mas infelizmente não tem como contar com as marcas de surfe pois, por experiência própria, conheço bem essa realidade e as contribuições muitas vezes oferecidas, mal custeiam passagens, menos ainda a produção de um filme.

Assista à Days Within a Day:

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