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“Por que devo me limitar a uma emoção quando posso ter várias?”

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Para Alexandre Wolthers, dono de um dos estilos mais apreciados do surf brasileiro, o segredo está na experimentação com diferentes pranchas.

Filho do dinamarquês/brasileiro John Wolthers ­– referência das primeiras gerações do surf brasileiro, Alexandre Wolthers é um dos surfistas mais estilosos do Brasil, quiçá de todo o globo. A maneira que navega por cima da água em uma variedade de veículos aquáticos, é de inspirar qualquer um. Alexandre aprendeu com o pai muito mais do que deslizar sobre as ondas. Na entrevista abaixo ele fala sobre essa influência, como variar pranchas faz de você um surfista melhor e principalmente como a experiência dentro d’água é a verdadeira escola.

Alexandre Wolthers
GreenBush, Indonésia com uma Mid length do Neco Carbone. Foto: @guilherme_fonseca26

Jair Bortoleto – Com que idade você começou a surfar e por influência de quem?

Alexandre Wolthers – Acho que comecei a surfar antes mesmo de aprender a andar. As minhas memorias mais antigas são na praia, com a família toda reunida curtindo os finais de semana na beira do mar. Meu pai levou todos os filhos para surfar muito cedo. As primeiras ondas que eu surfei foram de carona com meu pai, agarrado em seu pescoço. Não lembro exatamente como foram essas ondas, mas lembro bem do cheiro do mar misturado com o cheiro do meu pai, daquela adrenalina e emoção que era ficar ali agarrado nele enquanto pegávamos ondas.

JB – Como a influência do seu pai afetou a maneira de você encarar o mar?

AW – Naturalmente meu pai sempre foi minha maior referência no surf, não somente na parte técnica, mas também pelo seu comportamento no mar. Penso que os ensinamentos que mais absorvemos são aqueles que adotamos ao observar o comportamento dos nossos patriarcas. Esses ficam enraizados mesmo. E claro, aquilo que aprendemos na água é levado a outras coisas da vida. Está tudo interligado; é inevitável. No surf acabei aprendendo com meu pai sobre humildade, dedicação e respeito. Aprendi também que o respeito é conquistado. Nada vem do nada.

Prancha 9’9 do Marcelo Carbone em Maresias. Foto: @julianavasques

JB – Pelos vídeos e fotos de você surfando, dá pra perceber um movimento diferente dos outros surfistas. Existe um balanço seu na onda que lembra muito uma dança. Você percebe isso também ao surfar, ou é algo involuntário?

AW – Obrigado, Jair. Fora d’água eu realmente não sei dançar, então fico feliz que você achar isso… (risadas). Acho que essa minha forma de surfar é involuntária sim. Com certeza minha leitura de onda foi moldada por algumas referências que tenho no surf, mas no fim das contas cada pessoa tem sua forma própria de se expressar. Quando surfo, tento me adaptar a onda e não forçar algo que ela não me proporcione naturalmente.

7’9 modelo Golden Times da Seventy, uma monoquilha inspirada nas pranchas que Gerry Lopez usou em Pipe. Essa onda é em alguma ilha na Europa. Foto: @ph.lalia

JB – Seu quiver é bem diversificado, indo do pranchão, stubbies, fishes, pranchinhas, alaias e por aí vai. Isso ajuda no surf, ou confunde a cabeça?

AW – Um quiver diversificado ajuda muito. O surf não é somente sobre evolução técnica. Pra mim o surf é muito mais sobre as diferentes experiências que eu posso ter do que sobre virar um especialista em um determinado tipo de equipamento. Por que devo me limitar a uma emoção quando posso ter varias? Cada equipamento, ou até a falta dele, proporciona uma experiência única; uma leitura diferente. Tem dias que o mar está clássico pro log, mas quero sentir a velocidade que só uma alaia proporciona. E aí, no final das contas, na minha opinião, saber pilotar diferentes equipamentos faz o surfista ser mais completo. Uma coisa ajuda na outra.

JB – Como vê o futuro do surf?

AW – O surf é muito bom. É assim que vejo o futuro do surf: muito bom… (risadas). Acho que mais pessoas deveriam surfar. Na real não entendo quem não surfa. Eu pretendo surfar até o último dia da minha vida.

Jair Bortoleto
Jair Bortoleto
Fotógrafo, jornalista, curador e shaper. Radicado em Santos, em 2007 ele publicou seu primeiro livro de fotos, Alma Santista. Em 2013, terminou no Top 250 do aclamado concurso de fotografia Red Bull Illume, e, em 2014, teve sua primeira exposição individual em Nova York. Lançou na Itália, em 2018, o livro A Primeira Palavra, uma retrospectiva de suas fotos cobrindo o universo do surf. Expôs seus trabalhos no Brasil, Japão, Estados Unidos, Austrália e Espanha e contribuiu com editoriais para as revistas Blue, Dezzert, Oceans, Nalu, The Surfer`s Journal, Alma Surf, Fluir e Hardcore. Foi o editor executivo do The Surfer’s Journal Brasil.

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