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Pan-American Soul 2022: Finalmente Colômbia

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s últimas duas semanas foram repletas de perrengues burocráticos e muita espera. De avanço na viagem, bem pouco. No Panamá a rodovia Panamericana é interrompida pelo Estreito de Darien, trecho de floresta densa cortado por muitos rios que impossibilita prosseguir em carro, van, ou qualquer veículo com 4 rodas. Já ouvi falar de travessias em moto, transportadas por canoas, mas nem sei se é verdade. Fato é que tive que colocar minha van num container, dividido com uma caminhonete, e despachar por navio do Panamá para a Colômbia.


Texto Adrian Kojin / Editor Especial da HARDCORE

 

Demorou no Panamá, demorou na Colômbia. Nesse período fiquei sem as pranchas e a bike elétrica, limitado na minha mobilidade e impossibilitado de surfar. Procurei aproveitar a longa espera cumprindo tarefas no computador deixadas de lado no dia a dia atribulado da estrada. Para quem vinha se movendo constantemente e passando a maior parte do tempo em meio à natureza, estar estagnado em centro urbanos tão grandes quanto Cidade do Panamá e Cartagena foi um choque.

 

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Mas vamos ao que interessa, a volta à estrada, minha primeira sessão de surfe em águas colombianas e uma surpreendente visita a um paraíso do kitesurf. Com todo esse atraso para ter minha van de volta, fui obrigado a mudar meu roteiro na Colômbia. Minha ideia inicial era dirigir até um porto do Pacífico, onde deixaria minha van estacionada e partiria em barco para explorar um trecho da costa só acessível por via marítima. Isso iria exigir um número muito maior de dias do que eu agora tinha disponível no meu cronograma. Para completar, ainda havia a desanimadora previsão de pouca ondulação para a região.

Partindo de Cartagena rumo norte, resolvi que iria buscar ondas no Caribe da Colômbia mesmo, apesar das informações pesquisadas serem bem vagas. O que acabou sendo um fator até positivo, pois me passou a boa sensação de explorar a costa baseado no instinto, como nos velhos tempos. Aquela coisa de pegar a estrada e ir tentando adivinhar onde pode ter uma onda à espera. Depois daquela ponta? Na saída daquele rio ou lagoa? Ao lado dos molhes de pedra avistados lá embaixo do alto do morro? 

Claro que para isso gasta-se um tempo maior e os erros normalmente são bem mais comuns que os acertos. Depois de sair da via principal várias vezes, pegando estradinhas cheias de lombadas e buracos, que não sabia direito onde iam dar, meu diagnóstico era de que com aquele vento “ladal” tão forte não haveria pico que funcionasse, por maior que fosse o potencial. Onda até tinha, mas a ventania desmanchava tudo.

Fui seguindo na direção de Barranquilla, mas meu objetivo para o dia era chegar ao Parque Nacional Tayrona. O que não aconteceu, pois avistei no horizonte um enorme aglomerado de velas flutuando acima das casas e coqueiros. Fiquei curioso, já tinha visto alguns surfistas de kite ao longo do trajeto, mas o colorido no céu indicava que ali não devia ser um pico qualquer. Talvez uma escola de kite, um clube, um campeonato. Fui verificar.


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Não entendo o suficiente de kite para poder atestar quantas estrelas merece um pico para a prática desse filhote do surfe. Mas na minha ignorância eu daria cinco para aquele lugar. Já fui aprendiz da modalidade, mas não avancei tanto quanto gostaria. Nesse dia, contagiado pelo espetáculo com o qual me deparei, quis muito não ter parado. Fiquei abismado com a performance dos colombianos e estrangeiros aproveitando o encaixe perfeito do vento incessante na geografia exata. Elas e eles vinham a milhão acompanhando um molhe de pedra até chegar a poucos metros da areia e decolarem em voos de mais de 10 metros de altura por 50 de extensão (estimativa de leigo).

Fascinado com toda aquela ação, saquei meu celular e máquina fotográfica e não fui a lugar nenhum mais naquele dia. Permaneci do meio da tarde ao pôr do sol curtindo aquela impressionante cena. Nem o nome do lugar eu sabia, perguntei a um local, que me informou que eu estava em Salinas del Rey. Agora, escrevendo essa coluna, fui pesquisar e descobri que o pico vai ser sede da abertura do Mundial de Kitesurf 2023.

Dizia a matéria “Mar de Adrenalina”, que encontrei na seção de “Deportes” do “El Heraldo”: “Grandes figuras del mundo han confirmado su presencia en Salinas del Rey. Del 1 al 5 de marzo se podrá disfrutar de la habilidad de la brasileña Mikaili Sol, actual número uno del planeta; Bruna Kajiya, también de Brasil; y a Rita Arnaus, de España. En hombres estará el campeón del año pasado en Salinas, Manoel Soares, de Brasil; y a Gianmaria Coccoluto, de Italia, quien es primer lugar del ranking mundial”. E eu que desconhecia que além do surfe também estamos dominando o cenário mundial do kitesurfe.

Em outra matéria, vi a informação de que 132 toneladas de lixo haviam sido retiradas da área de Salinas del Rey durante os preparos para o mundial. O que me fez entender a presença de equipes de trabalhadores e maquinário se movimentando de maneira acelerada bem ao lado de onde os atletas treinavam. Que bom que o esporte esteja motivando esse tipo de iniciativa.

Passei a noite na vizinha praia de Puerto Colombia, já quase em Barranquillla. Foi onde me disseram, em Salinas del Rey, que eu encontraria ondas para o surfe. Dormi na van e, como sempre, acordei bem cedo. Ao ir checar as ondas logo dei de cara com um surfista lutando contra o vento para caminhar com um belo longboard debaixo do braço. Conversamos um pouco sobre ondas e ele me recomendou seguir para Los Naranjos, um pouco depois do Parque Nacional Tayrona, onde uma esquerda potente quebrava na frente de uma enorme pedra.

Antes de prosseguir viagem, fiz uma queda ali mesmo, ao lado dos molhes de Pradomar. Tomei uma surra do vento e da correnteza, que não permitiam que eu permanecesse no lugar certo. Tudo bem, assim mesmo tive a felicidade de acrescentar mais um país à lista dos que já tive o prazer de surfar. Escrevo de Playa Los Angeles, ao lado de Los Naranjos, onde estou acampado. Surfei lá ontem, ventando um pouco demais também. Mas com bom tamanho e força. Vou tentar minha sorte de novo logo que colocar o ponto final aqui.

P.S. Sorte grande. O vento ladal estava quase terral. Final de tarde de gala. No início com três locais na água, depois sozinho. Momentos como esse fazem tudo valer a pena.

Acompanhe a rota de Pan-American Soul pelo @panamericansoul2022.

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* Nesta seção, o Editor Especial da HARDCORE, Adrian Kojin, traz com exclusividade os diários da sua road trip Pan-American Soul 2022, da
Califórnia até o Brasil. 

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