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Pan-American Soul 2022: Entrando numa gelada caliente

A

s ondas finalmente chegaram. Pra valer. Já estou no quarto dia de surfe seguido, tomando as inevitáveis surras pelas quais Salsa Brava é conhecida. Quando ela te agarra, as violentas chacoalhadas não são de brincadeira. E se ela invoca com você e não quer te largar, melhor estar com o fôlego em dia, pois os caldos, espremido contra a rasa bancada de coral, podem ser bem longos. Isso que a ondulação ainda está apenas mediana. Tudo indica que vai continuar subindo nos próximos dias.


Texto Adrian Kojin / Editor Especial da HARDCORE
Fotos Adrian Kojin e Maythemi Salazar

Por pelo menos mais 10 dias o Caribe da Costa Rica, e do Panamá também, meu próximo destino, irá bombar sem parar. O que me leva a uma pergunta, quantos dias eu vou aguentar antes da exaustão ser mais forte que a vontade?

Lembro de uma matéria, na revista Surfer se não me engano, que perguntava a surfistas renomados quantos dias de surfe seguidos eles podiam encarar antes que seus corpos e mentes pedissem uma pausa. As repostas eram bem diversas, citando variáveis como tamanho, intensidade, tipo de onda. Mas não lembro de ninguém que tenha falado que podia surfar por mais de dez dias seguidos sem precisar de um intervalo para dar uma recuperada no corpo. E na mente também, pois é lá que mora o desejo, e se esse está satisfeito, não existe mais motivação.

 

A força de Salsa Brava é evidente na maneira como as ondas se projetam ao encontrar a resistência da bancada de coral.

Costumeiramente, é possível observar o quase desespero com que o crowd se atira ao swell recém chegado, mais ainda depois de um período prolongado sem ondas. Todo mundo quer pegar todas. O posicionamento é disputado a cada palmo e gritos na hora da remada intimidam quem faz menção de disputar o pico. O nível de ansiedade vai lá pro alto e o de cortesia lá pra baixo. 

Mas à medida que os dias de constante ondulação vão se acumulando, a dinâmica tende a se alterar. Alguns irão cansar antes, outros parecem ter uma pilha infinita, mas já é possível ir notando que a atmosfera é de mais tranquilidade, os sorrisos e bate papos descontraídos tornam-se mais comuns, eventualmente até ofertas de ondas começam acontecer: “Rema, rema, vai nessa”.

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Não existe uma resposta definitiva de quantos dias um surfista aguenta surfar sem uma trégua. Até por que não se trata de uma guerra. Minhas observações aqui não incluem cenários de competição, onde baterias são disputadas com esforço máximo, às vezes várias num mesmo dia. Nem estou falando de atletas profissionais, que dedicam boa parte do seu tempo a estar no auge da forma para quando as ondas entrem. 

 

Betinho assumiu como missão auxiliar pessoas a melhorarem sua qualidade de vida através da técnica de “mind reset” criada por ele. Serve também para surfistas que queiram durar mais dentro do mar.

A questão que estou colocando é meramente especulativa e se refere a surfistas recreativos, ou seja, abrange uma gama muito mais ampla de comportamentos, idades e estágios de condicionamentos físico. Se fosse um estudo científico, critérios de agrupamento teriam que ser definidos desde o princípio para que a discussão fizesse qualquer sentido. 

Hoje quando sai do mar, cansadão, fui dar uma respirada funda e senti uma dor na região das costelas. Me pareceu algo de origem muscular, talvez fruto de um contorcionismo submarino forçado.  Fiquei um pouco preocupado, o que me levou a indagar o que eu poderia fazer para prolongar meus dias de surfe nesse longo swell, que promete ainda muitas ondas pela frente. 

Claro que se alimentar e dormir bem são dois preceitos básicos. E que foram os primeiros a serem cumpridos logo que deixei a praia. Em companhia do amigo brasileiro Betinho, fui bater um rango na cafeteria do supermercado Old Harbour. Baita pratão, melhor custo benefício de Puerto Viejo. Chegando na casinha que estamos dividindo, fiz aquela siesta recuperadora.

Mas o melhor do processo curativo estava por vir. No final da tarde, sob a orientação do Betinho, que é um expert nesse procedimento – recomendo que consultem @humberto_mindereset.coach para saber mais, fiz um ice bath, ou banho de gelo, extremante regenerador. Saí, literalmente, de dentro do congelador me sentindo novo. Pronto para pelo menos outros quatro dias de swell. Ou mais, quem sabe.

Kalani Brito é mais um surfista se beneficiando da prática de imersão em gelo. O resultado fica explícito na quilometragem em tubos. Foto: Maythemi Salazar.

Acompanhe a rota de Pan-American Soul pelo @panamericansoul2022.

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* Nesta seção, o Editor Especial da HARDCORE, Adrian Kojin, traz com exclusividade os diários da sua road trip Pan-American Soul 2022, da
Califórnia até o Brasil. 

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