“Onda do Bem”, competição temática organizada pela WSL na última sexta-feira (18), segue gerando polêmica nas redes sociais e em mídias especializadas.
O evento fez parte da estratégia da entidade para a retomada de suas atividades após o cancelamento do Tour em 2020.
Com a proposta de se misturar ação social, gincana e competição esportiva, o “Onda Bem” levantou questionamentos desde o momento em que foi anunciado.
Afinal, seria o momento de se fazer um evento com essa pegada, sobretudo no momento em que o país ainda apresenta números alarmantes de Covid-19?
E, ainda que a WSL não informasse onde a competição seria realizada, tendo em vista a combinação de ‘celebridades’ e tops mundiais do surfe, muita gente acabou descobrindo e aglomerando as areias da praia de Itamambuca, Ubatuba, na esperança de ver de perto algum ídolo.
Janaína Pedroso, que assina a coluna “Origem Surf”, na Folha de São Paulo, escreveu:
“Se esse era o intuito da WSL ao realizar o ‘Onda do Bem’, a Liga errou e errou feio. Ao optar por uma praia como Itamambuca, longa e com inúmeros pontos de acesso, deixou claro que o fator “secreto” não era nem de longe uma prioridade”.
Segundo relatos, apesar das barreiras de isolamento colocadas na praia, a aglomeração se formou justamente nesse ponto.
Clima de festa
Lá dentro, o “Onda do Bem” se desenrolou sem maiores problemas e com bastante entrosamento e descontração entre os participantes.
A transmissão foi feita pelas mídias da WSL e, além disso, parcialmente exibida ao vivo pelo canal SporTV e divulgada em canais do grupo Globo.
Uma vitrine bem-vinda para atletas como Julia Santos, um talento da nova geração do surfe feminino mas que ainda sofre com falta de patrocínio.
Outro ponto positivo foi o caráter social do evento, com doações ao Projeto Ondas, feitas pelos telespectadores através de um QR Code embutido na tela da transmissão.
A competição de surfe noturno foi um dos grandes chamarizes, mas a transmissão não agradou aos internautas que reclamaram bastante nas redes sociais.
“Não dava pra ver quase nada no escuro”, escreveu um internauta.
No entanto, é verdade que o resultado fotográfico, exibido posteriormente nas mídias da WSL ofereceu imagens bem interessantes.
O formato da competição também gerou controvérsia.
Muitos jornalistas questionaram o fato da WSL promover uma espécie de gincana ao invés de uma competição fechada, aos moldes do que foi feito na Austrália.
Em seu blog “Goiabada”, mais tarde replicado no site Moist, Julio Addler escreveu:
“Enquanto o resto do mundo tenta retornar ao que resta de sanidade esportiva mais próxima do que conhecemos como praxe (do grego, Opa!, prática, rotina) a WSL Latin America inova num retumbante fracasso.”
Além disso, Addler também questionou o tamanho da estrutura física do evento:
“A desculpa de fazer algo positivo com solidariedade enquanto montam uma estrutura gigantesca na praia de Itamambuca em plena guerra de narrativas entre o desmatamento e a preservação não fazia o menor sentido”.
WSL Latin-America ou Brasil?
Lá fora, a repercussão pós evento foi pouca, mas sites de lingua espanhola manifestaram descontentamento com a ausência de surfistas de outros países latino-americanos.
Foi o caso de Pablo Zanocchi, em artigo no site Duke Surf. Para ele, o evento foi uma “verguenza”.
Zanocchi também criticou a postura da WSL regional, por fazer um evento fechado a atletas brasileiros e com ‘celebridades’ desconhecidas aos demais latino-americanos.
“Você não poderia fazer um torneio em Punta de Lobos ou no Peru ou na Costa Rica? É realmente WSL América Latina ou WSL Brasil?”, indagou.
E, assim como boa parte da mídia especializada, evidenciou o contraste entre a postura competitiva da organização nos demais países em contrate com o caráter festivo do evento brasileiro:
“Em poucos dias ouviremos o sinal verde para o evento na Europa e para a próxima competição na Austrália. Veremos mais uma vez o contraste entre o que é bem feito e o que é mal feito”.
Por fim, fica a impressão de que a WSL perdeu a oportunidade de realizar um evento “sério” e melhor preparar os atletas da América Latina.
Certamente o “Onda do Bem” poderia ser um produto para alavancar o marketing da entidade por meio de outros canais, mas o momento, a julgar pelas críticas, não foi oportuno.
Foto da capa: Daniel Smorigo/ WSL