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Lição de vida, o dia em que dividi o pico com Tom Curren (surfando de peito) e seu filho Frank

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Qual não foi minha surpresa quando vi Tom Curren pular do barco pra água sem prancha ou sequer um par de nadadeiras e sair dando braçadas em direção ao nervoso pico do inside

 

Essa semana circulou um vídeo na internet, sobre o qual publicamos uma matéria aqui na Hardcore, em que Tom Curren aparece surfando ao lado de seu filho Frank em Bocas del Toro, no Panamá. Ao final do vídeo, são exibidas algumas ondas com Tom surfando de peito. Tudo isso me remeteu imediatamente à singular experiência que tive com os dois, pai e filho, nas Maldivas, exatamente dez anos atrás.

Na ocasião, eu estava cobrindo para o The Surfer’s Journal Brasil, o Four Seasons Maldives Surfing Champions, no qual Curren enfrentou um time de peso de surfistas lendários: Tom Carroll, Damien Hardman, Layne Beachley, Taylor Knox e Pedro Henrique. Mas a memória mais marcante que tenho do evento veio de um momento fora da competição, como transcrevo a seguir.

“Assisti-lo surfar é uma aula, procurar entender como ele desenha aquelas linhas tão perfeitas é um exercício com consequências diretas no aprimoramento da performance de qualquer um. A ironia maior para mim desses dias de convívio com Tom, deu-se pelo fato de o momento mais revelador não envolver pranchas de surfe. Aconteceu no final do dia seguinte ao término da competição. Foi quando as ondas realmente subiram.

Após ter passado o dia inteiro surfando, de carona no barco que levou os juízes a tirarem sua forra de uma semana praticamente só olhando os outros surfarem, desembarquei no píer do resort para encontrar Tom Curren e seu filho Frank, de 19 anos de idade.

Eles buscavam uma embarcação que os levasse para surfar o fim de tarde em Honkeys, mas sem saber direito a quem pedir. Percebendo que Tom não queria de maneira nenhum abusar de sua condição de tricampeão mundial para conseguir algum privilégio, decidi intervir, ou ele e o filho iriam ver o pôr do sol secos. A lancha foi providenciada rapidamente, assim que souberam pra quem era.

Não queria incomodar a sessão pai e filho, mas sabia que Honkeys, considerada por muitos a melhor onda das Maldivas quando está funcionado, tinha uma boa chance de estar bombando. Tom, mestre em gentileza também, disse que não havia problema algum, que seria um prazer.

Em dez minutos chegamos, e ainda que não estivesse épico, longas e convidativas esquerdas enroscavam com força ao longo da bancada de coral. A meio caminho entre o início e o final, alguma irregularidade no fundo fazia com que a onda reformasse num tamanho maior do que o da seção anterior, antes de continuar seu rumo com ainda mais energia. Qual não foi minha surpresa quando vi Tom Curren pular do barco pra água sem prancha ou sequer um par de nadadeiras e sair dando braçadas em direção ao nervoso pico do inside.

Seu filho e eu remamos pro outside, onde ficamos batendo papo e nos revezando com uma molecada israelense em boas ondas, enquanto o horizonte ia se pintando de laranja. Um momento realmente especial, o filho de Tom Curren, que surfa com os joelhos juntos igual o pai, mas é goofy, me contando sobre sua rotina de surfe em Santa Bárbara, o trabalho na fábrica da Channel Islands, as viagens com o pai, o que estavam fazendo da vida os irmãos, ente outros assuntos.

Enquanto isso, Tom surfava sozinho, as esquerdas da parte mais rasa da bancada, entrando nelas com facilidade e se acomodando, braço esquerdo esticado à sua frente, no seu vortex. Surfamos por pouco mais de uma hora, até que o barco se aproximou indicando que era hora de regressar. Tom subiu na lancha e comentou de maneira singela, ‘peguei algumas boas, as ondas estavam bem divertidas’. Ali estava a essência do que fazemos, nos divertir nas ondas, praticada por Tom da maneira mais pura possível”.

Adrian Kojin
Adrian Kojin
Por duas vezes cruzou as Américas por terra, da Califórnia ao Brasil. Em 1987, pilotando uma moto, aventura narrada no livro Alma Panamericana, e 35 anos depois, a bordo de uma minivan. Fez parte da equipe da Fluir por quase duas décadas, 10 anos como diretor de redação. Editou também o The Surfer's Journal Brasil e colaborou com as extintas revistas Surfer e Surfing e foi editor para o Brasil do Surfline.com. Traduziu as biografias dos campeões mundiais Kelly Slater, Mick Fanning e Shaun Tomson, além de editar os livros Arpoador Surf Club e Pororoca – a onda da Amazônia, entre outros. Atualmente é diretor editorial da Hardcore e prepara o documentário sobre sua mais recente expedição @panamericansoul2022.

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