Matheus Navarro passou dois anos longe das competições. Após uma semana completamente sozinho, conseguiu sua primeira vitória no QS, a mais importante de sua carreira. Conversamos com ele
Por Fernando Guimarães
Em julho do ano passado, Matheus Navarro estampou a capa da HC, um aéreo contraluz de frontside registrado por Ricardo Alves em algum lugar do Chile. Ele havia acabado de participar de uma etapa do QS em Iquique, mas era um fato isolado — o evento coincidiu com uma barca pelo Atacama, que eventualmente encontrou altas ondas e acabou estampada em nossas páginas. Desde 2016, quando acabara seu contrato com um patrocinador de longa data, o catarinense de Balneário Camboriú tinha abandonado as competições: foram três eventos internacionais, incluindo este do Chile, espalhados por longos vinte e quatro meses.
A cena começou a mudar com a entrada de dois novos apoios. Com a marca que adesiva o bico da prancha, acumulou algumas viagens internacionais em 2018. Essa do Chile foi uma. Em outra delas, nas Mentawaii, fez o contato com outro patrocinador, que seria fundamental para seu retorno ao cenário competitivo.
Aos 23 anos, Matheus Navarro está de volta ao QS em 2019, de quebra com sua primeira vitória internacional, conquistada neste domingo (17) nos Estados Unidos — passo importantíssimo em uma carreira que está para começar. Ainda na Flórida, enquanto se preparava para embarcar para a Califórnia, o campeão do Ron Jon Quiksilver Pro trocou algumas mensagens com a HC.
Pode contar um pouco mais dessa etapa? Como estavam as ondas, a tua vibe…
Primeiramente quero agradecer a Deus por esse momento histórico na minha vida, na minha carreira, meu recomeço de carreira no QS. As ondas estavam bem bacanas, parecido com a cidade onde eu moro, Balneário Camboriú. Nos dois primeiros dias tinham altas ondinhas, um meio metro de onda de beachbreak bom, abrindo bem. Hoje, no dia das finais, infelizmente tava muito pequeno o mar, bem complicadas as condições. Mas graças a Deus foi abençoado em todas as baterias, consegui fazer uns scores altos, consegui pegar umas ondas boas, escolher as ondas certas. É uma vibe maravilhosa, eu vim sozinho pra esse etapa, viajei do Brasil pra cá sozinho, fiquei todos os dias aqui na praia sozinho, fiquei no hotel sozinho… Aí hoje entrando na água pra semifinal aparecem três brasileiros na praia, e mandam uma energia super legal pra mim. Foi super bacana ter três brasileiros ali pra viver esse momento comigo, viver essa história comigo. Foi muito feliz mesmo.
Como foram esses dois anos distantes das competições? Porque as decisões de parar e, agora, voltar?
No final de 2016, acabou meu contrato com a Oakley. Foi uma marca que eu fiquei oito anos, sou muito grato a eles por tudo. Mas aí acabou nossa parceria, e eu fiquei em 2017 até o final do ano sem patrocínio. Não tinha como viajar, o circuito mundial é muito caro. No final de 2017, eu fechei com a Oceano, uma marca 100% catarinense. Eles me dão um suporte muito bom. E são focados no free-surf, não tem tanta identidade com competição. Eles me deram a opção de ficar como free-surfer no começo. Eu já estava no Brasil, sem viajar muito, então veio em ótima hora. Fiz algumas trips, fui pra Indonésia, para o Chile, Costa Rica, mas sem competição. Até que no ano passado, eu estava na Mentawaii, num barco junto com um amigo de Curitiba que eu não via já fazia um tempo. Ele tem uma empresa, que é a Inspire. Ele me viu surfando lá e botou uma pilha pra eu voltar às competições, e agora está me dando um suporte também para correr o QS. E agora eu também fechei com a Shaperfy, a mesma empresa que tá cuidando do Peterson Crisanto, e eles estão gerenciando toda minha carreira. Um trabalho super bacana. E graças a Deus o resultado já veio. Eu tava zerado no ranking, sem seed nenhum, e agora já consegui mil e quinhentos pontos na primeira etapa. Um resultado muito, muito importante pra minha carreira.
Agora você vai pra Huntington? E, depois de lá, já tem um calendário para os próximos meses?
Sim, vou pra Huntington e de lá já volto direto para o Peru, pro 3 mil de Señoritas, em Punta Hermosa. Daí volto e fico uma semana no Brasil. Eu iria para o 3 mil de Portugal [Pro Santa Cruz, vencido em 2018 por Kanoa Igarashi] mas estava superlotado, não consegui entrar porque não tinha ponto suficiente. Aí estou decidindo o calendário ainda. Ou vou pra Argentina [Rip Curl Pro, em Mar del Plata] ou pro 3 mil de Krui, na Indonésia. Ainda vou sentar com a galera da Shaperfy e decidir.
Pra terminar, como você se sente com esse retorno ao QS? Tem uma meta para o ano?
Depois dessa vitória, melhor é impossível! Vou com força total para as próximas etapas. A gente tem como meta para o final do ano estar dentro de todos os primes [etapas de 10 mil pontos]. Eu quero ainda nesse ano conseguir competir na Triple Crown e nos primes do meio do ano. Se Deus quiser, vai dar tudo certo.