Desde quando a Authentic Brands Group finalizou, em setembro passado, as negociações de compra da Boardriders Wholesale LLC, empresa detentora das marcas Quiksilver, Billabong, Roxy, RVCA, DC Shoes, Element, VonZipper, Honolua e Boardriders, o mercado de surfwear norte-americano está em polvorosa. Como parte dos esforços de acomodação das marcas dentro da estrutura da nova empresa-mãe, especializada em licenciamento, até o final de abril deve ser concluida a demissão em massa de 698 funcionários.
Deviso ao acordo de aquisição, Jennifer Marques, diretora de recursos humanos da Boardriders, justificou em uma carta ao Departamento de Desenvolvimento de Emprego da Califórnia que “a empresa está tomando medidas necessárias, mas difíceis”. Já David Brooks, vice-presidente executivo de ação, esportes ao ar livre e estilo de vida da Authentic, em um e-mail para o site Fashiondive.com, foi mais a fundo na explicação do que está acontecendo: “A força da Authentic está na aquisição de grandes marcas com modelos de negócios falidos, convertendo-as em um modelo de licenciamento e devolvendo-as à lucratividade”.
Segundo ele, “as marcas devem continuar a evoluir os seus modelos de negócio para prosperar e permanecer competitivas. Abraçar a mudança é essencial para permanecermos relevantes, e parte dessa mudança inclui nossos parceiros licenciadores assumindo funções-chave e, infelizmente, eliminando certas posições. Estas decisões não são tomadas de ânimo leve, mas estamos satisfeitos por nossos parceiros terem conseguido contratar mais de cinco mil funcionários em todo o mundo.”
A Authentic, uma empresa conhecida por comprar empresas em dificuldades, possui um portfólio de mais de 50 nomes no mercado de estilo de vida e entretenimento, incluindo Eddie Bauer, Frye, Reebok, Nautica, Airwalk, Vision Streetwear, Spyder e Volcom, entre muitas outras. A compra da Boardriders teria sido fechada por U$1,5 bilhão de dólares, uma vultosa soma que a Authentic quer ver rendendo dividendos o mais rápido possível. Para tanto, como manda o figurino capitalista em circunstâncias como essa, se for preciso cortar na própria carne em nome do lucro, que assim seja feito.
Os fãs do surf e consumidores das marcas agora sobre o comando da Authentic já estão começando a sentir os primeiros impactos de toda essa movimentação gigante no mercado. Os mais antenados sabem que os cortes nas equipes de surfistas e apoi a eventos que vem sendo noticiados estão diretamente relacionados à diminuição de orçamentos de marketing. Também já perceberam que marcas da Boardriders antes restritas a surf shops e canais de venda que falam diretamente com surfistas, como a Quiksilver e a Roxy, já estão sendo comercializadas em grandes cadeias de lojas de departamento.
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Respondendo a uma pergunta feita durante entrevista ao site shop-eat-surf.com, sobre o que ele diria àqueles que temem que marcas pertencentes a uma grande empresa de licenciamento em Nova York percam sua autenticidade, David Brooks ressaltou que, no novo modelo de negócio, as marcas irão depender de parcerias sólidas para sobreviver. “Somos nutridores e construtores de marcas. A Authentic fornece o apoio financeiro, a propriedade intelectual e a orientação necessária para garantir que nossos parceiros tenham os recursos para ter sucesso. Também entendemos que a representação local é importante e fazemos parcerias com especialistas regionais que são líderes nas suas respetivas áreas. Através da combinação deste esforço conjunto, somos capazes de liderar uma comunidade de parcerias que fornecerá os melhores produtos em tempo hábil para a comunidade engajada e ativa”.
Só o tempo dirá se essa intricada cadeia de parcerias e licenciamentos, que está sendo estruturada mundo afora, irá fazer com que marcas que lideraram a era de ouro da indústria do surfwear retornem a ter uma relevância ao menos próxima da que já tiveram. Enquanto isso, todos os desempregados durante o processo de incorporação da Boardriders pela Authentic estão em busca de novas oportunidades. Quem sabe não será a partir desse contigente substancial de ex-funcionários, que surgirão novos criadores e empreenderores capazes de fazer com que a vestimenta dos surfistas se torne novamente um objeto de desejo além do nicho.