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Buffalo Big Board Surfing Classic: mais do que uma competição, uma celebração

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“Quando você se aprofunda nas raízes do surf e da cultura polinésia, descobre que existem eventos incríveis que pouco ou nada têm a ver com as competições organizadas pela WSL”.

Desde os anos 1970, a praia de Makaha Beach, na costa oeste da ilha havaiana de Ohau, é palco do Buffalo Big Board Surfing Classic, um evento que apresenta uma visão de surf mais ampla, alegre e conectada com o oceano do que comumente se vê nas competições tradicionais. Criado pelo havaiano Richad “Buffalo” Keaulana em 1976, o BBBSC é considerado uma das competições de surf mais tradicionais do mundo.

Nativo do Havaí, Buffalo participou em 1975 da épica viagem inaugural da canoa Hokulea, uma réplica das embarcações usadas pelos povos polinésios para alcançar as mais distantes ilhas do oceano pacífico, que refez uma rota marítima ligando o Havaí ao Taiti por meio de técnicas e instrumentos de navegação ancestrais.

Quando voltou, impactado pela experiência, Buffalo entendeu que era necessário dar continuidade a sua missão de perpetuar a cultura havaiana. Sendo um exímio surfista e vendo a ascensão e a profissionalização das competições de surf em todo mundo, ele então teve a ideia de fazer o seu próprio campeonato, mas apresentando uma proposta bem mais conectada ao espírito aloha.

Buffalo Big Board Surfing Classic
O legend Buffalo Keaulana, figura ilustre do Havaí e da cultura polinésia. Foto: Alika Lopes

Nascia então, em Makaha, há 48 anos, o Buffalo Big Board Surfing Classic. O evento ocorreu inicialmente porque Buffalo queria que todos desfrutassem do encontro, principalmente os curiosos. No primeiro ano, não havia primeiro lugar, segundo lugar ou terceiro lugar. Em vez disso, todos os participantes foram vencedores.

À medida que os anos avançavam, no entanto, o evento ficou cada vez mais popular passando a atrair multidões e investidores muito mais interessados em números do que em tradições. Envolvimento de dois de seus filhos, Rusty e Brian Keaulana, ambos com trajetórias marcantes no surf, na organização, trouxeram ainda mais visibilidade ao festival. Foi difícil conter a pressão para que o Buffalo Big Board Surfing Classic se tornasse um megaevento, algo que iria contra a proposta original idealizada por Keaulana de “encontro entre amigos”.

Buffalo Big Board
Grommet havaiano competindo na tradicionalíssima modalidade alaia: isso é Buffalo Big Board Surfing Classic! Foto: @haakeaulana

Ao mesmo tempo, a fama que a competição alcançara era benéfica para a divulgação da cultura polinésia. O desafio, portanto, estava em manter o controle do evento nas mãos dos havaianos e não de patrocinadores. Nessa hora, o apoio da comunidade foi decisivo e garantiu aos organizadores do BBBSC manter a competição no tamanho certo para se manter atrativa aos olhares de fora e fiel às suas origens: surfar Makaha, divertir-se com amigos e preservar o espírito aloha.

Formas de surf que quase desapareceram foram revividas graças ao Buffalo Big Board Surfing Classic, e esse talvez seja seu legado mais importante. Tandem, Wa’a, Surf de Peito (Bodysurfing), SUP Surf, Paipo (ancestral do Body Board) e Alaia encontraram aqui seu porto seguro. Além disso, novas modalidades não tão conhecidas pelo ‘mainstream’ também encontram seu espaço na competição, como a divertida competição de Big SUP, disputada por equipes através de uma prancha gigante de stand up paddle que acomoda até seis pessoas, por exemplo.

Quando você se aprofunda nas raízes do surf e da cultura polinésia, descobre que existem eventos incríveis que pouco ou nada têm a ver com as competições organizadas pela WSL. Festivais onde cultura, liberdade e diversão fazem muito mais sentido do que pontuações e títulos mundiais. Entre eles, na minha opinião, um dos mais bacanas é o Buffalo Big Board Surfing Classic.

Este ano, a competição rolou entre os dias 17 a 25 de fevereiro, durante os finais de semana. Vale a pena dar uma conferida no Instagram do evento @bbbscmakaha e sentir um pouco dessa vibe.

Luciano Meneghello
Luciano Meneghello
Nascido e criado em Santos (SP) e atualmente vivendo em Floripa, Luciano Meneghello começou a surfar no início dos anos 1980 e testemunhou o desembarque da primeira canoa havaiana no Brasil, a Lanakila, no porto de sua cidade. Atuando no jornalismo, foi um dos fundadores da revista Fluir Standup e do site SupClub. Colaborou também com diversos veículos do segmento, como revista Alma Surf, Go Outside, site Waves, entre outros. Em 2020 publicou seu primeiro livro "Raiz, uma viagem pelas origens do surfe, canoa polinésia, stand up paddle e prone paddleboard". Atualmente está se graduando em antropologia pela UFSC, é o responsável pelo portal Aloha Spirit Mídia, e editor executivo da Hardcore.

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